6 / Bolo

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Arrumava a gravata tão devagar quanto podia

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Arrumava a gravata tão devagar quanto podia. Não por não saber fazê-lo, muito menos por preguiça. Minha lentidão se dava pura e simplesmente por falta de foco. Por aparentemente eu não conseguir tirar uma certa mulher da minha cabeça.

Vira e mexe lá estava ela, brotando em meus pensamentos feito erva daninha. Uma planta inoportuna que tomava conta de tudo e não iria para canto nenhum a menos que eu a podasse.

De novo não. De novo não. De novo não, implorava a mim mesmo. Como se isso fosse surtir algum efeito. Como se o poder do pensamento fosse impedir essa fixação em mais uma mulher. Mais uma irmã de um amigo, para piorar.

Não somente irmã de um amigo meu, Sophie era uma freira. Uma freira! Quantas camadas de erro havia no simples ato de pensar nela? Eu não tinha jeito mesmo. Se duvidasse, até viraria mula sem cabeça por me engraçar com os produtos da minha imaginação.

Mas como não ficar cheio de graça diante de sua imagem? Como não me lembrar de seu sorriso? E do quão charmosa ficara em sua repentina timidez? Impossível não me recordar do toque de suas mãos ou do calor de seu abraço.

No entanto, eu precisava esquecê-los. Esquecê-la, dentro do possível.

Com o último ajuste da gravata, botei um ponto final naquele assunto. Dali em diante, nada de pensar nela ou em mulher alguma. Ficaria atento e centrado, como meu posto de gerência exigia. Assumi esse compromisso. E o cumpriria.

Isto é, se fosse possível.

Falando em possível, ative-me a ele. Corri para o trabalho. Lá eu logo me encheria de tarefas e ocuparia a mente. Nem que fosse com a música ou o simples movimento das pessoas.

Ao chegar no Risca Faca, busquei me ater às coisas concretas e mandar meus pensamentos indecentes para a puta que o pariu. Cuidar da minha casa noturna me faria ganhar mais. Por isso mesmo, subi à área VIP e me dirigi ao leão de chácara à porta.

— E aí, Carluxo? De boas? — Cumprimentei-o com um aperto de mão.

— Fala, chefe! Tudo na paz. — Ele abriu a porta para mim, cordial. — Parece que hoje vai ser movimentado — comentou ele.

— Acha mesmo? Algum motivo especial? — Fiquei curioso.

— Só minha impressão. Nada de mais — respondeu ele.

— Torço pra que esteja certo, então — disse eu.

Em seguida, despedi-me dele e caminhei até o bar, onde encontrei outro funcionário-chave para o funcionamento da área VIP.

— Marcola, tudo tranquilo aí? — perguntei ao homem franzino que organizava as garrafas de destilados. — Precisa renovar o estoque?

— Tranquilaço, meu patrão. — O ânimo em sua voz era algo invejável. Nem eu, no alto do meu conforto, conseguia encarar o trabalho com tamanha empolgação. — O bourbon tá nas últimas. O sr. Asimov anda trazendo companhia pra cá, aí é dose dobrada, já sabe, né? — Sua fala atingiu-me onde doía.

A IrmãWhere stories live. Discover now