Capítulo 25

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Van der Wood

Voltei para casa depois da alta do hospital, mas a normalidade ainda parecia distante. O meu corpo sentia-se estranho, como se cada movimento fosse uma reminiscência do acidente. Estava cansado da rotina do hospital e se passasse mais um dia fechado naquele quarto provavelmente acabaria por matar alguém.

Peguei no telefone e liguei à minha mãe, preparando-me para enfrentar a tempestade que estava prestes a desabar.

- Mãe, eu sei que não te disseram nada, mas eu estou bem. Foi apenas um susto. - tentei acalmá-la enquanto as suas reclamações ressoavam do outro lado da linha.

Ela estava praticamente a gritar, frustrada, porque o meu pai não a informou adequadamente sobre o acidente e ela não se poupou nas palavras e insultos quando lhe falei que o acidente já tinha acontecido há um mês.

Enquanto falava com ela, os meus olhos vaguearam para a janela do quarto. Vi a Anna a sair do carro do Daniel e uma pontada de ciúmes, já bastante familiar, atravessou-me.

- Mãe, vou desligar agora. Preciso de descansar um pouco. Prometo que te conto tudo mais tarde. - despedi-me, encerrando a chamada antes que a minha mãe pudesse continuar a sua série de perguntas.

Deitei-me na cama, de olhos colados no teto e deixei-me ser levado pelos meus pensamentos.

A Anna e o Daniel. O que quer que estivesse a acontecer entre eles, não era da minha conta. No entanto, uma grande parte de mim não conseguia deixar de me sentir desconfortável. Será que o tempo que passei no hospital fez com que eles se aproximassem?

Foda-se! Provavelmente...

Porque é que eu fui tão otário? Eu nunca devia ter discutido com ela em primeiro lugar. Isto é o que dá ser um idiota de orgulho ferido. Agora para conseguir ter alguma coisa com ela ia ter de me esforçar três vezes mais.

Tudo porque eu agi como um namorado enciumado. Que grande estupido... já nem me reconhecia.

Estava tão zangado por ela não me ter procurado depois da festa, por sentir que estava a ser deixado de lado. Eu sabia que as minhas ações não eram justificáveis, especialmente porque estava bêbado, mas a dor da rejeição misturada com o álcool era uma combinação volátil e eu não estava habituado a sentir-me assim.

Acendi um cigarro, ainda deitado. A fumaça do cigarro serpenteava pelo ar, proporcionando-me uma distração momentânea. Olhei para o teto, perdido em pensamentos inúteis. O cheiro acre do tabaco reconfortava-me. Era o meu primeiro cigarro em semanas.

Dezembro estava quase a chegar, o que significava que em pouco tempo tinha de voltar a Itália para passar o Ano Novo com a minha mãe, o que não era mau de todo, visto que a necessidade de me afastar de toda a merda que se andava a passar, era urgente.

Algumas horas se passaram, e desci para o jantar depois de uma sesta. O meu pai, a Elaine e a Anna já estavam à minha espera, quando desci. Íamos jantar ao Magnetic, um restaurante de um dos amigos do meu pai.

Fomos todos no mesmo carro, já que eu não podia conduzir. Sentei-me no banco de trás, acompanhado pela Anna, que evitou o contacto visual, durante os dez minutos de viagem.

Chegamos ao restaurante e a mesa estava pronta para nos receber. O chef veio pessoalmente cumprimentar o meu pai, desejando-nos uma excelente refeição e então o diálogo aborrecido começou.

- Como te sentes? - perguntou o meu pai, recebendo o menu do empregado.

- Melhor. - respondi apenas.

O meu pai começou a atualizar-me sobre os últimos acontecimentos e a Elaine, com a sua habitual calma, acrescentava detalhes que escaparam ao radar do meu pai, enquanto a Anna permanecia em silêncio, observando o cardápio com um ar distante.

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⏰ Última atualização: May 08 ⏰

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