- 11.Embrulhos -

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Roland e Pax caminhavam pela rua. Era por volta de uma hora da tarde e ele ainda estava faminto. Em suas mãos, carregava um embrulho bem antigo, de papel pardo, amarrado com uma fita de palha desgastada pelo tempo e um ar de preocupação dominava o seu semblante. Pax, por outro lado, estava tão animado por seu dono ter voltado que, vira e mexe, esbarrava em suas pernas, fazendo-o tropeçar. Roland não repreendeu o companheiro, mas aproveitou para se descontrair e brincar com o Pirineus, empurrando-o para provocá-lo.

Chegaram à casa de dona Cecília alguns minutos depois. O portão estava aberto e eles entraram sem avisar. Pax correu pelo corredor lateral e foi para os fundos do quintal, sumindo de vista atrás do Celta vermelho desbotado de Clarisse. Notando que a tinta da porta estava arranhada e que o retrovisor era novo, Roland foi até o carro e passou a mão pela lataria, calculando aproximadamente quanto custaria fazer um reparo.

Clarisse, que estava dentro da casa, o viu na garagem e foi até ele.

— Já não era sem tempo! — ela falou de um jeito arrastado, mas expressando alívio.

Roland sorriu. Seus olhos se fixaram nos dela e se distraiu, reparando em como ela parecia sobrecarregada.

— Isso foi um motoqueiro — ela contou, apontando para seu carro com um gesto de cabeça. — Eu tava distraída. Não consegui pegar a placa.

— Mandarei para a funilaria de um amigo meu — Roland falou, apoiando as mãos na cintura. — Vamos deixar seu carro novinho. Que tal?

— Ah, não se preocupa com isso — Clarisse respondeu, recusando a ajuda. — É só lata.

— Bom..., sim. Mas você não precisa deixar ele se acabar.

— Do jeito que ele está, diminuem as chances dele ser roubado. Vamos entrar? — ela sugeriu. — Todo mundo tá faminto e você sabe como a vovó é. Só vai servir a comida quando o último convidado chegar.

Oui, oui. Pardon. Fiz todos esperarem demais.

A jovem sorriu suavemente enquanto o padrinho passava pela porta, balançando a cabeça, sem reparar no pacote que ele trazia. August apareceu repentinamente, pulando no colo dele e roubando a cena. Ao colocá-lo no chão, o menino logo desapareceu entre as pernas dos outros adultos, indo atrás de Pax aos gritos de entusiasmo.

Giselle veio em seguida e o abraçou apertado, deixando aquele francês de meia idade surpreso e embaraçado. Tinham acabado de se ver, mas, de qualquer forma, retribuiu o abraço. Ele tocou levemente em seus cabelos loiros, enquanto repousava a mão atrás do ombro dela. O perfume da garota inundou os seus pulmões imediatamente. Era um cheiro muito bom, que lembrava lírios do campo. Lembrava-lhe de...

— Roland!

Cecília apareceu. Vinha da cozinha, segurando um par de luvas térmicas numa das mãos. Ana, que também foi convidada, puxou Giselle para abrir caminho e a anfitriã abraçou e beijou os dois lados do rosto de seu velho amigo.

— Fico feliz em vê-lo! Parece renovado.

— A jornada foi dura mas, apesar dos cuidados com minha momie, estou cheio de energia. Os ares de Sain-Flour rejuvenescem as pessoas. — Tomou a mão da anfitriã. — E digo o mesmo, madame. Você está magnifique!

Cecília riu amplamente.

— Ai, Roland! Você é sempre tão galante! E que bom que chegou bem. Vamos pôr a mesa!

A senhora se virou e foi até a cozinha, sendo seguida pelas mulheres. Logo o barulho de conversas e risadas preencheu a casa. Era uma família tradicional, num tempo em que os costumes antigos, nas grandes cidades, só eram mantidos por causa das gerações passadas.

O Alvorecer de EarisWhere stories live. Discover now