E quando estamos separados, e sinto sua falta, fecho meus olhos e vejo você

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Faziam quatro meses que sua vida havia mudado completamente. Quatro meses que deixou sua casa, sua família, seu marido e seu emprego para correr atrás de um sonho que nem sabia que tinha.

Quando se inscreveu para participar do programa, nunca achou que de fato conseguiria passar. Ela sabia que era inteligente, tinha sua personalidade carismática, mas não imaginava que seria selecionada. Não era o padrão de mulher que o reality geralmente procurava, mas conforme foi passando o tempo e foi progredindo nas entrevistas, pensou que talvez fosse a possibilidade que procurou a vida toda para conseguir dar um futuro melhor a sua família, afinal, trabalhando como assistente social  e vindo da onde vinha, sabia que apenas estudar e trabalhar honestamente, provavelmente não proporcionaria a vida que queria para si e para os seus, não em um país como o Brasil. Então quando a última entrevista veio e junto a data de sua partida para o Rio, só aceitou. Embarcou no avião com a cara e a coragem para conseguir conquistar algo que pudesse mudar a sua vida.

Mas nem de longe imaginara que sua vida mudaria da maneira que mudou. Que sairia daquela casa sendo outra Giovanna Letícia, sendo conhecida como Pitel pelo país todo, com possibilidade de trabalho e principalmente, com uma mulher e filhos.

Pitel sempre foi constante, tudo na sua vida era organizado e equilibrado. Desde a sua relação com a família e marido, até mesmo seu trabalho. Conquistou a profissão dos seus sonhos e um cargo bom na prefeitura de sua cidade, tinha seu apartamento, simples, mas seu. Conseguia levar uma vida simples, mas, feliz, era realizada, mas no auge dos seus 24 anos, almejava proporcionar mais para sua família e para si mesma. Sentia-se muitas vezes presa em uma ilha de conforto que construiu a sua volta, o que muitas vezes proporcionou acalento e proteção para si mesma, mas que por vezes também a fizeram questionar se viver de fato era só aquilo. Então, quando se viu dentro daquela casa, com aquelas pessoas, vivendo as experiências que a dinâmica proporcionava, sentia que finalmente entendia o que era viver. Aquilo era sair da zona de conforto e se sentir viva. Mas nem mesmo as experiências em provas, as festas, as dinâmicas de jogo ou confusões que existiriam ao longo do confinamento, nenhuma delas foram capazes de fazer Pitel sentir o que ela sentia quando o assunto era Fernanda.

Nunca, em seus 24 anos de existência sentiu o que sentia pela carioca por qualquer outra pessoa, nem mesmo pelo seu marido. Não que não o amasse, amava. Estavam juntos a 10 anos praticamente, desde a adolescência. Se entendiam na maneira de se relacionar, se conheciam a muito tempo também, assim como tinham compartilhado muitas coisas juntos, mas era morno. Era como se seu casamento fosse o bote em que se amparava na sua ilha de conforto. Mas quando se viu longe de sua ilha, sem um bote e sem conhecer o lugar, percebeu que talvez estivesse perdido tempo sem se aventurar por outros locais.

E Fernanda era para Pitel uma ilha completamente nova, com dias ensolarados e dias nublados, que ao mesmo tempo que tinha um mar revolto, tinha também a calmaria de um lago de água cristalina. Tudo sobre a mulher a encantava e a fascinava. Desde que se conheceram no primeiro dia na casa se conectaram imediatamente. Tinham uma energia parecida, os pensamentos se conectavam e se entendiam de uma maneira singular, além de tudo a canceriana era belíssima. A carioca não era o tipo de mulher que passava despercebida por ninguém, nem por homens e nem por mulheres, especialmente por mulheres como Pitel, que tinha um fraco para a anatomia e tudo que envolvia o feminino. Então, havia sim se interessado também pela canceriana de maneira carnal, mas sabia, quer dizer, acreditava que aquilo jamais aconteceria, afinal a mulher tinha namorado e as duas estavam dentro de um reality.

Não sabia dizer quando ou como tornaram-se tão próximas e tão apegadas uma a outra, mas a verdade é que sem perceber se tornaram inseparáveis e acima de tudo, construíram ao longo dos dias uma relação de amizade sincera, onde se apoiavam, se protegiam e se amavam. Se amaram com sete dias de reality e se fosse Pitel assistindo do lado oposto da telinha, como telespectadora, diria com todas as letras que não era amor, que eram emocionadas demais, que era impossível amar uma pessoa que mal conhecia, mas a Pitel que estava dentro do BBB sabia que não mentia quando dizia que amava aquela mulher, que estaria aqui do lado de fora para ajudá-la com as dificuldades da vida e que as duas venceriam juntas.

No limiar do amor Where stories live. Discover now