Eu não preciso de altar, só vem repousa tua paz na minha

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O sol entrando pela fresta da varanda despertou a mais velha. Levou dois segundos para que seu cérebro processasse onde estava, e então o toque quente em seu corpo e o cheiro familiar fizeram lembrar de onde estava e o mais importante, com quem estava. Foi inevitável sorrir e suspirar. Depois de um mês, finalmente se sentia em paz novamente, como se um peso tivesse sido retirado da sua mente e de seu coração.

A noite passada havia sido uma das melhores da sua vida. Nunca havia se conectado com alguém daquela forma, nunca havia se entregado tanto e recebido a mesma intensidade em troca. Parecia que seus corpos já se conheciam, que a conexão que tiveram desde o primeiro dia também existia na cama. Estava perdidamente apaixonada pela mais nova e agora, seu corpo estava viciado nela. No cheiro, na pele, no gosto, no toque e nos sons que Pitel fazia quando se deleitava em prazer.

Haviam quebrado a barreira que existia entre elas durante o confinamento e agora sabia que não poderia voltar atrás, não conseguiria mais e a verdade é que não aceitaria também. Demorou 30 anos para se sentir amada e acolhida por alguém e tudo que importava para ela agora era cultivar esse amor e poder vivê-lo em sua plenitude, e depois da noite passada, das declarações, da dança ao som de sua música favorita e das horas que passaram conversando, não queria esperar mais nada. Por ela, casaria-se com Giovanna Leticia Marinho amanhã, trocariam sobrenomes, comprariam uma casa e viveriam juntas até seus últimos dias. Era intensa, apaixonada, mas parecia que com a assistente social tudo era triplicado dentro de si, como se não pudesse perder um minuto sequer.

Esse era seu lado apaixonado e intenso falando, mas sabia que precisaria ser racional, calma e paciente. Não poderia atropelar etapas e correr o risco de se perderem ao longo do caminho. Por mais que se amassem e o sentimento fosse tão intenso, sabia que existiam muitas coisas que não sabia da alagoana, assim como a alagoana não sabia dela, se conheciam a apenas 4 meses.

Além de tudo isso, existia a mídia que estava com os holofotes virado para elas, os fãs que conquistaram e seus dois filhos que já adoravam a mais nova. Não poderia arriscar levar alguém pra vida deles que não fosse permanecer, não queria que eles fosse machucados.

Saiu dos seus devaneios quando sentiu a mão da mais nova apertar sua cintura e um beijo ser depositado em seu pescoço.

- No que você tá pensando, patroa? - A voz sonolenta e o sotaque carregado, arrancou um suspiro e mais um sorriso da carioca. Era patético o quão rendida estava pela cacheada, que só de escutar a voz doce e o sotaque único, faziam borboletas voarem em seu estômago.

- Estava pensando na gente. Nós meus filhos - A carioca respondeu enquanto se virava para olhar para a mulher ao seu lado.

- Nossos filhos! Você esqueceu que eu sou o pai das suas crianças? - A mais nova sorriu e arrancou uma risada da mais velha. Como Pitel amava aquela risada rouca. Sentia-se em casa, como se o riso da mulher fosse sua morada.

- Certo, nossos filhos. Eu só estava pensando na gente, como será nosso futuro, como temos que ter cuidado. Eu sei que já conversamos, mas tem tanta coisa minha que você ainda não sabe, meus defeitos, minhas manias, minha rotina louca com duas crianças e agora com a fama. Sabe, eu tenho medo da gente se perder no meio do caminho ou quando você me conhecer mais afundo, ver que eu não sou o que você quer para você. - A carioca desabafou.

Pitel respirou fundo, sabia que a mulher tinha seus conflitos internos devido aos seus relacionamentos anteriores, tinha suas inseguranças e mais uma porção de coisas que a assistente social ainda não havia conhecido. Mas nada daquilo importava para ela, poderia não saber todos os defeitos, mas conviveu com a mulher por três meses ininterruptos, dormiu e acordou do lado dela por cem dias. Segurou sua mão, ouviu seus desabafos, suas inseguranças, compartilharam segredos, sorrisos, medos e uma enxurrada de sentimento dentro daquela casa. Conheceu alguns defeitos da mulher, mas as qualidades eram tão maiores que sabia que nada seria capaz de fazê-la deixar de amar a carioca. Aprenderiam a lidar com qualquer contratempo.

No limiar do amor Where stories live. Discover now