- 6.Irritação -

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Depois de deixar Ana em casa, Clarisse foi buscar seu irmãozinho, que passou a noite com a avó. Embora estivesse muito cansada, ela o levou ao Parque da Independência, onde ficaram sentados na grama, vendo a movimentação das pessoas. O lugar estava apinhado, com crianças e jovens descendo a rampa em skates e adultos passeando com cães. O céu estava limpo, num tom de azul pastel, e o sol brilhava sobre o Ipiranga.

August rabiscava alguns esboços num caderno, enquanto Clarisse comia milho cozido pensando no que faria com o pingente e tentando entender qual seria sua função

— Me sinto estranha — ela confidenciou ao irmão.

Ele olhou para ela sem soltar o lápis.

— Contei à Ana sobre a Academia e nossos pais. Isso fez reaparecer aquelas dúvidas que eu tinha sobre o trabalho deles... — Então Clarisse encolheu os ombros. — Pelo menos não tenho aula amanhã. Só preciso passar na faculdade para pegar as notas. Aí vou chegar em casa mais cedo e passaremos mais tempo juntos nos próximos dias. Que tal?

'Promete?', August fez uma expressão facial interrogativa e indagou em sinais.

— Juro de mindinho — ela ofereceu o dedo mínimo ao irmão, que o enlaçou com o dele. — Também quero ir ao bairro da Liberdade comer alguma coisa diferente da minha comida. Faz tempo que a gente não quebra a rotina.

O menino sorriu e então reparou que o colar de Clarisse estava diferente. Apontou para o objeto e a irmã tirou o acessório do pescoço, colocando-o em seguida na palma da mão dele. August sentiu um leve formigamento e puxou para perto dos olhos, para ver os detalhes do metal.

— Curioso, não é? — Clarisse perguntou, bocejando em seguida. Sentiu os olhos lacrimejarem. — Começou a brilhar e se uniu com um dos objetos do escritório. Agora são uma coisa só e não sei para que serve. Enfim... Vamos para casa? Estou tão cansada!

August acenou com a cabeça e guardou seu material de desenho na mochila.

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"Avistou os alvos?"

"Sim. Estão no parque

Nada parece fora do comum

Mas o detector de Próxyon

está emitindo um sinal fraco

Vou me aproximar"

"Não quero testemunhas."

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Clarisse lamentou ao ouvir o despertador tocar. Colocou os óculos e, ao levantar, prosseguiu cambaleante até a janela do quarto e a abriu. O céu estava limpo, em tons de cinza e azul-claro e seus olhos protestaram por causa da luz da alvorada. Uma brisa fresca tocou seu rosto, balançando levemente os cachos de seu cabelo e arrepiando os pelos de sua nuca.

Tomou um banho rápido e se vestiu para o trabalho. Arrumou seus pertences numa bolsa e pegou o tubo com as pranchas do projeto que ela iria entregar no escritório.

— Bora levantar! — a Bertrand mais velha anunciou, passando em frente à porta do quarto de August.

Ela seguiu pelo corredor e desceu as escadas, chegando à sala de estar. Colocou a bolsa e o tubo sobre o sofá e foi para a cozinha preparar o café da manhã para o irmão e ela. Quando a mesa ficou pronta, subiu novamente e reparou que seu caçula mal se mexera na cama.

Mesmo fechada, raios de sol transpassavam pelas frestas da janela do quarto do menino, demarcando minúsculas partículas de poeira que pairavam no ar. Era a única fonte de luz.

O Alvorecer de EarisWhere stories live. Discover now