Capítulo 2, Parte 2

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- Ai… Ódio… - Reclamou a menina menor.
O maldito do restaurante estava fechado para reformas, dizia a placa. O estabelecimento estaria em reformas pelos próximos quatro meses… Hoje o dia estava uma literal bosta para Laureline.
- Laurie calma, serão só quatro meses - Astrea tentou tranquilizar a amiga - Até lá, vamos nos contentar com os docinhos da padaria que o Shaoran gosta.
As duas agora estavam na frente do estabelecimento, esperando os outros dois amigos voltarem com alguns doces de uma padaria próxima de conhecimento de Shaoran.
- Esse dia está mesmo uma bosta - Reclamou, se apoiando na parede do restaurante, jogando a cabeça para trás e cobrindo o rosto com a mão direita - Primeiro a merda do sonho, depois a Euford me tirou da patrulha e aí eu encontro a merdinha da Frederica…
- VOCÊ FOI TIRADA DA PATRULHA?! - Berrou Astrea, surpresa com a recente revelação.
- Hein? - Pronunciou, tentando se fazer de mal-entendida - Eu não disse isso.
- Disse sim! Você primeiro disse ter tido um sonho de… “Aquilo lá” e depois disse que foi tirada da patrulha!
- Olha…
- “Olha” nada! - Repreendeu a maior - O que aconteceu?
Laureline olhou a mais alta com apreensão. Ela não queria falar sobre isso, muito menos falar sobre isso com Astrea. Ela sabia o quanto a maior gosta dos Cavaleiros, mesmo sempre tentando convencê-la do contrário… Mas… O que Laureline tinha feito… Não queria perder Astrea.
- Tem haver com o negócio de três meses atrás? - Perguntou Astrea, quase retoricamente.
Laureline abaixou a cabeça, enquanto os ombros tencionaram.
- Bingo… - Astrea observava Laureline. Era notável a empatia e preocupação para com a menor - Por que você não me conta?
Laureline suspira, virando o rosto na direção oposta à Astrea.
- Não é nada demais…
Naquele momento, as sobrancelhas de Astrea abaixaram um pouco. Ela estava se irritando com a teimosia da menor. Astrea sempre foi uma menina paciente, nunca gritava de raiva, apenas de surpresa e felicidade, mas… Naquele momento, ela queria gritar de raiva com Laureline.
- Como “nada demais”? - Astrea caminhou duramente até ficar de frente a Laureline - A Selena quase morreu! O Shaoran está tomando remédio pra depressão! E você perdeu um olho! E do nada eu descubro que todos os esquadrões de Avalon te querem!
Laureline desviou novamente do olhar sério de Astrea. Ela não sabia como encarar a outra, não gostava de mentir, mas não queria falar a verdade, falar o que tinha feito, mesmo não tendo uma escolha naquela situação… Era a fala frequente de todos os “profissionais”.
“Você fez a escolha certa”, era o que todos diziam. Ela não poderia discordar mais.
- Você…
- … “Não entenderia”? - Completou, agora expressando tristeza em sua voz - É por que não sou Cavaleira?
Laureline arregalou o olho, virando-se rapidamente para o rosto da maior. Tristeza… Tristeza e impotência. Tristeza, por não ser uma Cavaleira, e impotência, por não conseguir ajudar a melhor amiga, aquela que sempre a ajudou.
Astrea sempre sonhou em ser uma Cavaleira. Lutar pela honra, verdade e justiça, fazer a diferença, ajudar as pessoas. Ela teria sido uma fantástica Cavaleira, podendo até ter se tornado Paladina ainda jovem, era o que Laureline acreditava, mas a realidade não é assim. O nome Flarewood não tinha ligação com nenhuma família de Cavaleiros, ou rica o bastante para pagar por um certificado de nome falso. Astrea era uma plebéia, por assim dizer, uma cidadã comum. Era injusto, mesmo Laureline não querendo a melhor amiga nesse meio podre, ela achava que Astrea merecia ser uma Cavaleira, mais do que a si mesma, alguém indigno.
Já a impotência… Laureline nunca contava muita coisa, seja em relação a Avalon, algumas missões ou… Os Arrow. Laureline não contava nada, só ouvia… Ouvia Astrea sobre tudo, sobre as tias, a escola, as meninas ricas que pegam no pé da maior. A maior não gostava dessa atitude de Laureline… E tinha piorado no último ano. Laureline era um porto seguro para Astrea, mas a garota rosa também queria ser um porto seguro para a amiga.
A maior suspira e balança um pouco a cabeça, tentando espantar os pensamentos destrutivos de si.
- Pelo menos me conta alguma coisa… - Pediu calmamente - Não precisamos falar sobre “aquilo”, mas… Laurie, eu não quero ser a única a falar. Eu sei que não sou do mesmo mundo que você, mas não significa que não posso te apoiar.
Laureline desviou o olhar novamente, agora encarando a calçada e a rua de paralelepípedos. De fato, ela não queria falar sobre o incidente de três meses atrás, mas… Talvez seja uma boa ideia falar sobre o incidente onírico desta madrugada.
- Aconteceu uma coisa… - Começou a menor - Bom, não acredito ser de tanta importância mas… Eu venho tendo uns sonhos esquisitos ultimamente.
- Como assim?
- Começou uns dias antes “daquilo” - Suspirou - Começava sempre igual. Eu deitada em um campo de rosas, cheio de ruínas e tal…
- Que nem anime? - Perguntou a amiga, ficando levemente animada.
- Não!... Ou sim… - Chacoalhou a cabeça - Eu não sei! Anime tem essas coisas?!
- Os antigos tinham.
- Enfim! Campo de rosas, planície e tal… - Disse, abanando a mão esquerda em frente ao rosto - Tem sido assim por um bom tempo… Até hoje.
Astrea ficou em silêncio, observando Laureline confusamente.
- Eu vi… Uma espada presa a uma pedra e uma mulher… De orelha pontuda e cabelo azul-marinho. Foi a primeira vez que os vi no sonho… Que virou pesadelo depois do Dragão.
- DRAGÃO!?
- Não grita!
- Desculpa! - Astrea cobriu a boca com ambas as mãos, fazendo suas próximas palavras saírem abafadas - Mas como ele era?!
- Imagina um leão, com patas e asas de coruja, cabeça de garça, chifres de bode e rabo de lagarto - Ditou, com aparente tédio no rosto e voz.
- Que mistura - Riu.
- E do tamanho de um avião cargueiro…
- Eita! - O cabelo de Astrea arrepiou um pouco, devido ao espanto - Mas… Sobre a espada… Isso me lembra uma história.
- Que história?
- Foi uma coisa que eu li num livro mas… Acho meio improvável, tipo.. - Astrea começou a brincar com o cabelo - Se for mesmo o que parece ser então…
- LAURIE! ASTREA!
Laureline e Astrea miraram na direção do chamado. Shaoran e Selena estavam atravessando a rua, carregando cada um pequenas sacolas de papel de cor amarronzada, um pouco úmidas no fundo.
- Vocês demoraram - Disse Laureline.
- Shaoran ficou na dúvida do que comprar - Dedurou a garota gato.
- Você também ficou! - Vociferou o menino.
- Trouxeram o que? - Perguntou Astrea animada.
- Bom… - Shaoran começou a remexer nas sacolas, entregando os doces as meninas - Astrea, seu Sponge Sandwich de framboesa!
- Ahh!! - A rosada soltou um gritinho enquanto recebia o doce - O meu preferido!
- Laurie, recebe uma fatia de torta de limão siciliano.
- Perfeito - Sorriu a menor, recebendo a torta.
- Peguei um rocambole de chocolate - Disse Selena, erguendo sua sacola.
- E você Shaoran - Perguntou a menor, já deliciando a torta de limão.
- Ele pegou quase um quilo de macarons - Novamente, Selena o dedurou.
- Espíritos… Pare de me dedurar! Só… Ah, vamos procurar um lugar tranquilo.
Havia uma pequena praça, próxima ao restaurante. Os quatro amigos andavam até um dos bancos dispostos ao redor das cercas que separavam a calçada da grama.
- Então… Estavam falando do que? - Perguntou o menino curiosamente.
- Sobre~
Uma sensação estranha percorreu o corpo de Laureline. Todos os pelos de seu corpo arrepiaram, seus músculos tencionaram e seu olho arregalou. Ela começou a hiperventilar, ela conhecia essa sensação… Ela sabia muito bem o que significava, mas não queria acreditar. Não poderia ser possível.
Astrea, Shaoran e Selena perceberam o estado de choque da menor. Ela mal se movia ou escutava os chamados de preocupação dos três amigos. Ela deixou a torta cair no chão.

“Rrrrrrahhhh!!”

Ah, não! Não podia ser.
Lentamente, os quatro viravam a cabeça na direção do rosnado. As pessoas nas calçadas, próximas a um dos cruzamentos, começaram a correr em desespero. Algo estava vindo… Algo que Laureline conhecia muito bem.
Lá estava ele, se revelando entre os prédios do cruzamento. Ele estava menor dessa vez, não ultrapassando o tamanho de uma girafa adulta, mas não deixava de ser menos assustador e perigoso.
Laureline torceu para estar sonhando acordada, fechando e abrindo os olhos o máximo que pode, tentando acordar desse pesadelo, porém percebeu ser muito real… Quando ele virou a cabeça, lentamente… Até onde ela estava.
- Ai… Merda…

Espadas x Feitiços Vol 1. O RegenteWhere stories live. Discover now