Luzes (II)

48 5 117
                                    

Na sala dos funcionários, Bryan está acomodado em um sofá e os pés cruzados em cima da mesa de centro quando Élton passa pela porta e coloca seu molho de chaves em cima do móvel

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Na sala dos funcionários, Bryan está acomodado em um sofá e os pés cruzados em cima da mesa de centro quando Élton passa pela porta e coloca seu molho de chaves em cima do móvel. A brancura da tintura nas paredes exibe um tênue azulado em reflexo luz piscante do televisor, única fonte de luz na sala. Metade da sala dos funcionários é dividida em 4 fileiras de armários metálicos, ao tempo em que a outra metade é composta por três grandes sofás sofisticados, num quadrado semi-aberto, além de um pequeno criado mudo com uma TV de tubo. Um tapete bem ornamentado fica ao meio e Bryan apoia a pipoca nas pernas estendidas sobre a mesinha que está sobre o tapete.

A sala dos funcionários não é só o lugar onde funcionários deixam seus uniformes e outros pertences pessoais. Mais do que a nomenclatura exibida na plaqueta da porta, ante a maioria, aquilo está mais para um santuário de descanso para velhas senhoras que não aguentam mais trabalhar — não que isso remeta a qualquer fato com Eulália — ou pessoas com desculpas para enrolar. Seja um telefonema importante, passar mal devido ao ar-condicionado, desmaios, convulsões, ataques cardíacos e até uma simulação de quase morte. Esta última teve seu lance quando Bryan simulou uma queda da escada de serviços, se emaranhado nos fios de alta-tensão na sala dos condutores. Apesar de ter negado várias vezes que tivesse descido da escada por vontade própria mesmo depois de uma câmera escondida ter mostrado que ele tinha descido, depois de muita insistência, sua versão mudou para uma espécie de premonição na qual se viu caindo em cima dos condutores de mais de 3.000 volts e ter supostamente sido eletrocutado. Insistia no fato de ter sido eletrocutado quando chegou ao pé da escada. Apesar das queimaduras serem bem artificiais e o cheiro de fósforo ser praticamente um axioma para Élton, ele resolveu não insistir mais antes que aquela conversa chegasse ao incontestável e alguém dissesse que aquilo só podia ser um milagre de Ardna.

— Oi Élton – Bryan cumprimenta, totalmente imerso no programa da televisão. Pelo barulho da boca, Élton nota que algo crocante está ocupando sua mastigação; pipoca.

"Esse cara perdeu o jeito. Eu que ainda fosse o chefe da manutenção aqui", pensa Élton indignado indo até a geladeira. Grande parte das vezes, ali não é o melhor local para se guardar qualquer tipo de gelados ou afins e esperasse que tivesse algo ali no dia seguinte ou daqui a algumas horas. Dado isso, os funcionários deixam ocasionalmente algum refrigerante ou as sobras do que eles vêm tomando no caminho ou algo de uma festa. Noutras palavras, os restos são o que qualquer um encontrará ali. Refrigerantes. Algo típico do povo de São Preto. Nem que seja o mais barato, da casa do mais pobre ao mais rico, sempre há algum resquício na geladeira desses cidadãos, lembrando que no último dos casos, há algum último gole para sempre salvar sua honra.

Élton pega uma garrafa de refrigerante, abre e enche outro copo que encontra nos suportes da porta da geladeira. O refrigerante está um tanto sem gás e por causa disso não faz seu glorioso tsss após Élton abrir a garrafa. Entretanto, ainda assim consegue ver algumas bolhinhas no fundo do copo quando a soda é derramada, e ouve o borbulhar de sua efervescência do fluido, dando alguma esperança da erupção química de bolhas que sentirá em sua língua após colocar aquilo na boca. Élton guarda o refrigerante, vai até um dos sofás e se acomoda bebericando no copo.

AllulasuWhere stories live. Discover now