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"Eu odeio aparecer do nada sem ser convidada

Mas eu não pude ficar longe, não consegui evitar

Eu esperava que você veria meu rosto

E que você se lembraria

De que para mim não acabou"

Someone Like You – Adele

MARINA

Com toda certeza, encontrar Igor em uma noitada despretensiosa estava longe dos meus planos para hoje. Contudo, agora que acabei de me despedir do homem – cujo cheiro do perfume ainda está impregnado no meu nariz – não consigo pensar em qualquer outra coisa.

Eu mesma fiquei surpresa em ter ido direto para um abraço logo de cara. Bom, não é como se fossemos completos estranhos, só estamos sem nos falar há seis anos.

– Tudo bem? – A voz de minha irmã chama minha atenção.

Seu cabelo sedoso brilha contra as luzes do bar quando o par de olhos castanhos me encaram, como se tentasse desvendar o que se passa em minha mente.

– Tudo – respondo, pigarreando. Uma ideia vem na minha cabeça. – Você não armou isso não, né?

– Claro que não, Má! – Sua expressão é o suficiente para eu saber que não está mentindo. – Eu não sou a maior apoiadora dessa separação, mas também jamais desrespeitaria sua vontade.

– Você tem razão. Desculpa – exalo em um suspiro, me sentindo quase esgotada.

Minha boca está mais seca do que percebi. Rita nota meu tom de voz um pouco esganado pela secura, o sorriso em seus lábios é pura ternura e compreensão.

– Quer ir embora?

– Acho... – não consigo evitar olhar para onde Igor estava minutos atrás – Acho que sim.

Meu peito aperta ao relembrar da mulher que apareceu chamando Igor de amor. Doeu vê-lo com outra pessoa. Óbvio que eu não era ingênua de achar que ele esperaria por mim depois de tudo, mas a visão da mulher morena perguntando quem eu era...

Ora, Marina, não seja tão infantil. Você mesma nunca comentou sobre Igor com qualquer pessoa com quem namorou enquanto estava fora.

O pensamento me faz pôr a mente no lugar, dando a certeza que é melhor para todos que eu me mantenha afastada dele, principalmente se aquela mulher for alguém realmente sério em sua vida.

– Eu detesto quando você entra nesse silêncio absoluto, sabia? – Rita novamente me tira de meus pensamentos.

Já estamos indo para casa. Acabamos de deixar Heloisa, namorada de minha irmã, em casa. Rita se mostrou uma ótima motorista desde que voltei, me levando para todos os cantos enquanto não consigo dar entrada na minha habilitação.

– Desculpa. – Lanço um olhar para as luzes refletindo na janela do carro.

– Ah, Má... Se eu soubesse que essa noite terminaria com você assim, eu nem teria feito o convite para sairmos.

– Eu estou bem – minto. – Eu só não estava preparada para ver ele de novo. Acho que foi... – solto a respiração que nem sabia que prendia, deixando a frase morrer.

No fundo, eu não estou mentindo em dizer que estou bem, mas dizer que estou "de boa" também é uma mentira. Não queria que a primeira vez que eu encontrasse com Igor fosse desse jeito. Um lugar tumultuado, música alta, álcool em meu sangue... Merda.

Nem sabia que tinha concebido uma ideia de como seria nosso reencontro até agora. Parece que meu subconsciente preparou meu espírito para algo que sempre vemos em filmes de romance.

O que eu estava esperando? Que ele aparecesse no aeroporto com um buque de rosas e um pedido de desculpa por todos os anos?

Meu coração salta com a visão de Igor, um homem imponente com seus um e oitenta e seis de altura, segurando um buque e esperando por mim. Na versão que imagino, ele ainda tem cachinhos.

Meu Deus!

Definitivamente eu estava iludida com essa ideia de nos reencontramos em uma realidade de filmes hollywoodianos. Como cheguei a tal ponto, depois de ter prometido a mim mesma que excluiria ele da minha vida por completo, não faço ideia.

Bufo. Cansei da espiral dos meus pensamentos com o único resultado sendo eu iludida.

– Vocês ainda podem conversar. – Rita estaciona o carro em frente a nossa casa. – Não é como se tudo estivesse realmente acabado. Liga para ele, chama para dar uma volta. Algo despretensioso.

– Você viu a Amanda, Rita – bufo novamente. – Não parece ser tão fácil assim. Além disso, eu nem tenho o telefone dele

– Caramba, Má! Nem parece a mesma pessoa que largou tudo para pular de cabeça em um país desconhecido – minha irmã comenta abrindo a porta. – Cadê sua coragem, mulher?

– Acho que esqueci lá nos Estado Unidos. – Faço uma careta, passando por Rita e entrando em casa. – Vai ficar aí fora? – Me viro ao perceber que ela não entrou comigo.

– Combinei de dormir com a Helô hoje. – A cara de culpa de minha irmã não me surpreende.

– Claro. Não quero estragar sua noite. – Engulo a pequena decepção.

Minha irmã não merece terminar a noite de sexta ouvindo meus lamentos por um relacionamento fracassado.

– Qualquer coisa me liga, está bem? – Rita me puxa para um abraço rápido. – E vê se consegue achar sua coragem de volta. Não quero que minha heroína perca seus poderes.

– Ela não vai. – Aperto um pouco mais minha irmã em meus braços, como se ali tivesse a fonte de algo vital – Amo você.

– Também te amo. Agora preciso ir antes que Helô durma e eu não consiga entrar na casa dela. – Ela sorri antes de fechar a porta.

Olho para o relógio no corredor. Já é tarde. Contudo, pego meu celular e arrisco ligar para a única pessoa que talvez esteja disposta a me ouvir ainda.

– Me diz que você está extremamente bêbada e que pensou em me ligar para animar meu plantão. – O cumprimento da Anna do outro lado da linha me faz abrir um sorriso genuíno.

No fim, não precisarei ficar completamente sozinha com meus pensamentos essa noite.        

IGORINAWo Geschichten leben. Entdecke jetzt