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MARINA

Sete anos depois

– Marina! – O grito animado da minha irmã é a primeira coisa que ouço quando saio do saguão de desembarque no aeroporto.

Em seguida, uma garota magra e de cabelos longos e castanhos, como o meu um dia já foi, me atinge em um abraço apertado. Não sei em que momento minhas lágrimas saltaram para fora, mas mal consigo enxergar quando minha mãe me alcança, seguida de perto por meu pai. Os três me envolvem em seus braços, juntos, formando um amontoado de pessoas chorosas e transbordando em saudades.

Tinha quase três anos que papai e mamãe tinham ido me visitar em Massachussetts, e mais de cinco que Rita, minha irmã, tinha ido também. As videochamadas e mensagens constantes nem de longe foram o suficiente para sanar essa saudade física ao longo de todos esses anos. A realidade de que algumas coisas mudaram me atinge ainda em meio ao abraço com minha família. Minha irmã se tornou uma mulher linda, papai engordou um pouco e mamãe ganhou algumas rugas. Acompanhei cada mudança através da internet, mas ter eles aqui, o calor com cheiro de casa me envolvendo... é um sonho.

– Eu não acredito que você ficou maior do que eu – finalmente digo, com a voz abafada pelo abraço.

Todos riem em meio às fungadas.

– Ninguém mandou você estudar tanto e esquecer de crescer – minha irmã retruca, brincalhona.

– Meu Deus, como eu senti falta disso – minha mãe aperta mais o abraço ao nosso redor.

– Carmen, aproveita que a estamos prendendo e pega o passaporte. Nunca mais Marina vai sair de perto da gente. – Eu rio com a brincadeira de papai.

– Não se preocupa, pai. Eu espero nunca mais ficar tanto tempo longe. – Garanto a todos.

Alguns instantes depois nos recompomos e vamos em direção ao estacionamento, meus pais me proibiram de carregar qualquer bagagem, como se o voo tivesse esgotado toda a minha energia, e Rita me envolveu pelo braço, pronta para me atualizar de tudo que perdi em sua vida ao longo desses anos.

Mesmo que eu saiba de absolutamente tudo que Rita fez nos últimos anos, aproveito cada palavra empolgada que sai de minha irmã. Ainda estou embasbacada com como ela ficou mais alta que eu. Uma jovem de dezoito anos absolutamente linda. Algo em meu peito se contrai quando me dou conta, ao longo do trajeto até em casa, que um dia fui essa garota onde tudo é excepcionalmente empolgante.

Não que minha vida tenha ficado ruim, longe disso. Nos últimos anos vivi os melhores anos da minha vida. Porém algo parece mudar quando atingimos a vida adulta, o mundo parece se tornar sério demais e o tempo todo é preciso estar com os pés no chão para poder lidar, da melhor forma, com a vida.

Afundo o pensamento dentro da mente, voltando para a realidade enquanto minha irmã conta da nova namorada, uma garota da faculdade que, aparentemente, derrubou um sunday nela acidentalmente no corredor.

Meus pais apenas riem, ouvindo a história desastrosa de minha irmã. Olho para minha mãe e percebo seu olhar sobre mim através do retrovisor, seus olhos brilham e sei que ela está completamente feliz.

Chegamos em casa e vou direto para meu antigo quarto. Tudo está exatamente do jeito que deixei. Absolutamente tudo, exceto algumas fotos que me lembro de ter pedido Rita para guardar em algum lugar fora do alcance de meus olhos. Não estou preparada para isso, nem sei como vou lidar quando – mais cedo ou mais tarde – encontrá-lo. Só espero que seja o mais tarde possível.

Pensar em Igor ainda é estranho. Não sei o que esperar, como ele está, o que tem feito da vida. Nem sei se realmente quero reencontrá-lo. Tudo foi tão... doloroso.

IGORINAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora