Prólogo | Verdade ou desafio?

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Sunoo e Sunghoon se odeiam desde que eram pré-adolescentes, quando tinham treze anos e estavam junto de mais alguns amigos da escola na casa de Choi Soobin, onde um círculo foi formado no chão e uma garrafa meio vazia foi colocada no centro, após se empanturrarem de besteiras e incomodarem os ouvidos da Sra. Choi cantando no karaokê.

— Sério isso? — perguntou Han Yujin — Até parece que estamos na oitava série.

— Porque realmente estamos. — seu irmão, Seongmin, o lembrou.

Maldito seja aquele que sugeriu essa brincadeira idiota e fez o mundo de Sunoo virar de cabeça para baixo. Para ser honesto, ele não estava nem um pouco a fim de participar, mas seu melhor amigo, Sunghoon, insistiu muito. Ele jurou que seria divertido.

Ele não se importaria de observar vários quase adolescentes fazendo perguntas estúpidas e desafios mais estúpidos ainda, porque alguns realmente levavam esse jogo muito a sério e iam longe para provarem sua ousadia. 

Seria engraçado se alguns babacas não estivessem prontos para fazer pessoas emocionalmente frágeis confessarem coisas comprometedoras que deviam ser mantidas em segredo, ou desafiá-las a algo que possivelmente as fizessem ser presas, ou pior.

Após cada um se acomodar, o anfitrião da casa girou a garrafa. Uma ponta ficou direcionada a Anton Lee e outra a Hwang Yeji. A garota mexeu em seu cabelo ruivo recém-pintado, transparecendo seu nervosismo.

— Verdade ou desafio? — ele perguntou.

— Verdade.

— É verdade que você gosta da sua melhor amiga?

Ninguém conseguiu esconder a surpresa e todos os olhares pararam sobre a ruiva, que se encolheu enquanto suas bochechas coraram. Palavras não foram necessárias, porque essa reação bastou para revelar seu segredo.

Anton era irmão de sua melhor amiga, adorava importuná-la sempre que encontrava a chance. Talvez não fosse algo tão surpreendente para alguns, bastava apenas prestar um pouco de atenção no modo como ela agia perto da mais nova, o ponto é que ela não se sentia pronta para expor isso.

Ela cruzou os braços enquanto Anton, com um pequeno sorriso sarcástico, girava a garrafa novamente. Dessa vez, Kim Woonhak perguntaria para Jang Kyujin.

— Verdade ou desafio?

— Verdade.

— Não vale! — ele vociferou — Vocês meninas só escolhem verdade.

— Porque vocês meninos só fazem desafios idiotas!

— Vamos fazer assim — Soobin interrompeu —, depois de duas verdades, só pode escolher desafio, certo?

Alguns não ficaram tão contentes com a sugestão, mas a maioria vence, e ela acreditava que isso deixaria o jogo mais interessante. As próximas rodadas foram repletas de questões constrangedoras e desafios meio nojentos, até porque ninguém naquela idade pensava muito bem.

— Verdade ou desafio? — era a vez de Kang Haerin perguntar para Sunghoon.

— Desafio.

Sunghoon sempre foi do tipo audacioso e queria mostrar isso a todo mundo, como se valesse um prêmio ou mudasse significativamente a vida de alguém, quando, na verdade, só corria o risco de comprometer sua dignidade, porque ele era popular.

Sua beleza incomparável, suas medalhas de patinação e habilidades no violoncelo contribuíam para torná-lo quase uma atração na escola. Alguns queriam ser Sunghoon, e alguns queriam tê-lo. 

Sunoo tinha suas particularidades, mas as vezes pensava que estava atrás do mais velho, vivendo em sua sombra. Quando falavam com ele, dificilmente era para conhecê-lo, fazer amizade ou algo a mais, e sim para se aproximar do Park.

— Eu te desafio a beijar o Heeseung.

Todos se entreolharam, uns se perguntando se ele realmente faria isso, e outros sabendo que ele faria. Sunoo não conseguiu lembrar de piscar, tampouco de respirar, encarando fixamente seu melhor amigo, que não retribuiu.

Sunghoon não hesitou em olhar para Heeseung e ambos deram de ombros, como se aquilo fosse a coisa mais simples do mundo, e talvez para eles fosse mesmo, mesmo que nunca tivessem beijado nenhum menino antes.

Conforme ele ia se aproximando, Sunoo sentia o coração falhar uma batida, até que quase parou quando assistiu os lábios deles se tocarem suavemente. Heeseung permaneceu na mesma posição, retribuindo ao beijo, enquanto Sunghoon segurava o queixo dele. Até parece que ele estava acostumado a fazer aquilo.

Eles ignoraram os gritos dos demais e só se afastaram quando a falta de ar começou a afetá-los. Foi possível perceber ambos sorrindo quando uma distância foi estabelecida entre seus rostos, parecendo que haviam gostado do ato.

Sem mais nem menos, Sunoo se levantou e saiu dali em passos pesados, incapaz de lutar contra as lágrimas, e sentiu seu braço ser agarrado quando já estava do lado de fora, entre a escuridão da noite e o vento frio.

— Não acredito que fez isso comigo! — ele esbravejou.

— Sunoo, eu... — Sunghoon tentou dizer.

— Eu pensei que você era meu melhor amigo!

— Mas eu sou! Eu só...

— Se você fosse, não teria beijado o cara de quem eu gosto! — impulsionado pela raiva, ele empurrou o maior pelos ombros — Você sabia muito bem que eu gosto dele!

— Me desculpa, Sun.

Ele parecia verdadeiramente arrependido, mas aquilo não adiantava agora, porque o coração de Sunoo já havia sido partido. Viu o cara por quem ele possuía sentimentos profundos gostar de beijar seu melhor amigo, a única pessoa em quem ele achava que podia confiar.

— Eu... — estava com dificuldade para falar devido ao choro — Eu não quero mais te ver! 

O mais velho respirou fundo para suportar o baque daquela fala. Estava arrependido de ter feito aquela besteira, mas ainda ficou perplexo ao ver que ele estava encerrando a amizade deles.

— Nunca mais fale comigo ou me mande mensagens, entendeu? Nunca mais.

Foi a última coisa que ele disse antes de ir embora e deixar Sunghoon sozinho ali, parado feito uma estátua e parecendo desacreditado, mesmo que aquilo fosse um motivo justificável para o mais novo querer cortar contato.

Sunghoon não obedeceu no início e continuou tentando falar com ele, mandando mensagens e fazendo ligações, que nunca eram respondidas e atendidas. A mãe de Kim estava curiosa sobre o que ocasionou o fim daquela amizade, já que eles mesmos diziam que eram inseparáveis.

No início, doeu muito, foi difícil, e Sunoo achou que não conseguiria superar. Ele conseguiu, mas demorou bastante, e acabou nutrindo um ódio imenso por Sunghoon ao ponto de não conseguir olhar para seu rosto ou mencionar seu nome em alguma conversa.

Para sua infelicidade, eles ainda estudavam na mesma escola, o que o obrigava a encontrá-lo pelos corredores de vez em quando. Parecia que, com o passar dos anos, ao invés de evoluir, Sunghoon apenas piorava e se tornava ainda mais detestável.

Dava-lhe nos nervos o sorriso cínico que ele carregava no rosto o tempo inteiro, o jeito com que ele agia perto dos caras e das meninas, querendo sempre ser melhor do que todos em tudo que se voluntariava a fazer e, ainda assim, capturar seus corações.

Para piorar, ele tinha um vício incontrolável em provocar Sunoo, como se a raiva dele fosse algo prazeroso, uma conquista. Sempre que podia, ele fazia a mesma pergunta que assombrava o mais novo desde os treze anos:

— Verdade ou desafio?

Ele ignorava, achando aquela a atitude mais desgraçada do planeta, porque tocava em um ponto sensível, um pequeno trauma escondido em seu subconsciente. 

Mas, após tanto ouvir aquela droga de pergunta, Sunoo acabou aceitando entrar no jogo. Havia três regras:

1: Ser honesto;
2: Cumprir o desafio;
3: Nunca parar de jogar.

Uma vez que entraram nisso, era impossível sair. Realmente jogavam o tempo todo. Eles viveriam se engalfinhando por uma brincadeira tosca que os marcou há anos atrás e jamais superariam.

verdade ou desafio • sunsunWhere stories live. Discover now