Cinco

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Finney chegou na escola e a primeira coisa que percebeu foi que não tinham cartas em seu armário.

Não tinha sequer uma ideia de quando aconteceria e se aconteceria seu espancamento.

— Fodeu. - Declarou sua sentença de morte. — Não tem como eu saber quando irão me perseguir.

Uma mão pousou em seu ombro e quase lhe fez gritar; a vergonha foi capaz de impedir tal ato.

— Do que você está falando? - Billy surgiu dos confins de algum lugar, dando um susto no garoto Blake. — O que está faltando no seu armário?

Teoricamente, nada. Mas a vida de Finney Blake fugia da teoria, era suposto que fosse apenas um nerd que gostava de astronomia e era bom em matemática. Ao invés disso, era um garoto que sofria bullying por um total de zero razões e que não sabia se defender.

Finney não queria responder a Billy, mas, naquele ponto, já nem se importava mais.

— A previsão da minha morte.

Billy sorriu curiosamente, o que causou um calafrio em Finney. Talvez não devesse ter respondido, merda.

— Conte-me mais.

Ele falava como se realmente tivesse algo para contar. Finney suspirou e o olhou cansado.

— O que você quer, Billy? Já descobriu que eu apanhei na segunda-feira, por que está tão curioso? - Trocou seus cadernos.

Billy congelou por alguns segundos e pareceu se sentir culpado ou envergonhado. Finney revirou os olhos.

— Está falando sobre isso? - Billy franziu a sobrancelha. — Sinto muito. Minha boca fala antes de eu sequer pensar. Posso ajudar em algo?

Ficar longe dos problemas de Finney, não ser igual a Bruce e tentar se meter, não espalhar para todos o seu sofrimento e fazer questão de que sua irmã não tivesse a notícia em mãos era o suficiente.

— Esquecer isso me parece ótimo, que tal?

— Não foi só essa vez, não é? Já aconteceu antes.

Finney arregalou os olhos e congelou enquanto Billy lhe encarava com um olhar melancólico. Como ele sabia? Como havia descoberto?

Não que fosse muito difícil, considerando que Finney frequentemente aparecia com hematomas, mas ele tinha certeza de que era invisível o suficiente para que pessoas como Billy não notassem. E, quando alguém percebia, como Bruce fazia, sempre inventava uma desculpa convincente.

Socar seu rosto não era a parte favorita de Tyler, Rev e Rick; apenas começavam o espancamento dessa forma e quando queriam que todos vissem o quanto Finney Blake era fracassado. Mas, normalmente, preferiam chutar suas costas ou seu estômago, como um saco de pancadas.

— Você é louco. - O garoto respondeu, embora algumas gaguejadas revelassem sua estratégia de desmentir.

— Você já pensou em, sei lá, pedir ajuda? - Billy sugeriu, cruzando os braços. — Bruce é seu amigo e ele-

— Eu. Não. Preciso. De. Ajuda. - Finney declarou, fechando seu armário com força e ódio. — Eu já estou acostumado e não é você quem irá me convencer do contrário.

Finney poderia mentir o quanto quisesse para os outros, mas nunca para si mesmo. Ele nunca, jamais, nem em seu último suspiro, se acostumaria com o bullying. Sempre sofria de alguma forma diferente, e o trio dava um jeito de inventar cada vez mais coisas para foder sua vida.

Quando Billy se calou por longos segundos, Finney percebeu que havia acabado de admitir que apanhava constantemente e colocou a mão sobre a boca. A sugestão de Billy havia lhe irritado o suficiente para que esquecesse que era um segredo.

Príncipe Charmoso - REESCRITAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora