Injustiças

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Jimin mordia a pelezinha do canto do próprio dedão e encarava o desafio à sua frente. Poucas coisas o deixavam nervoso e ele não esperava que essa fosse ser uma delas.

Escolher uma roupa para ir ao cinema.

Melhor, para ir ao cinema com Jungkook.

Sentiu um frio no estômago ao pensar nele e no fato que que logo Jungkook estacionaria a moto em frente à sua casa e que sentiria o inebriante cheiro de xampu de camomila misturado com amaciante.

Se Jungkook tinha o convidado com a intenção de que fosse um encontro, aquele seria o primeiro e único que Jimin já tivera.

Apesar de que sim, havia tido relações íntimas com pessoas, todas as vezes fora com o objetivo de satisfazer seus primitivos desejos carnais e nunca o fazia com a mesma pessoa mais de uma vez.

Quando pensava em Jungkook, não pensava somente em uma satisfação momentânea.

O jiangshi mordeu o dedo com um pouco mais de força e sentiu um incômodo. Afastou a mão e notou um corte fundo, mas não vazava sangue. Isso o deixava curioso.

Toda vez que chorava, lágrimas vermelhas saíam de seu canal lacrimal, mas não havia vestígio de sequer uma gota desse elixir de vida em outras partes do seu corpo. Não importava o quão grave fosse o ferimento, qualquer corte revelava a sua real natureza: uma alma amaldiçoada presa em um corpo morto.

Ainda que chorasse sangue, aquele que saía de seus olhos — ou melhor, que havia saído, pois fazia séculos que não chorava — não despertava sua sede. Pelo contrário, era sangue coagulado e saía de forma dolorosa. A ardência era incômoda e sua visão era prejudicada.

Sorriu amargo vendo o corte fechar aos poucos. Seus dentes ficavam afiados não somente na presença de sangue, mas também quando seu corpo identificava perigo ou ansiedade. Qual desses sentimentos o dominava agora? Sua consciência de que ele representava um perigo para Jungkook ou a ansiedade despertada por talvez estar prestes a ir contra as regras que Namjoon estabelecera?

Voltou a fitar o armário cheio de roupas.

Fazia quase vinte minutos que, de roupão, encarava camisas e calças.

Namjoon não estava lá. Se Jimin estivesse fazendo algo de errado, ele que aparecesse para impedi-lo.

Começou a analisar as camisas e blusões pendurados nos cabides e o celular começou a tocar.

A tela do aparelho, jogado sobre os cobertores acima da cama, mostrava um nome no identificador de chamadas: Yoongi.

Atendeu e colocou no viva-voz.

— Tô ocupado — disse e jogou o aparelho de volta na cama.

Boa noite pra você também, Jimin! — Yoongi respondeu, traços de risada em sua voz. — O que tá fazendo?

— Escolhendo uma roupa. Vou no cinema.

Então vamos juntos! — respondeu não a voz de Yoongi, mas de Seokjin. Jimin fechou os olhos e se xingou mentalmente. Claro que também estava no viva-voz e claro que, se os dois tinham ligado na folga, é porque estavam entediados e queriam companhia.

— Vou pra me alimentar, não pra me divertir — Jimin respondeu e pegou um jeans preto. Talvez ficasse bom com uma blusa social? Um visual monocromático? Queria se vestir bem, mas não queria que parecesse ter se esforçado demais caso aquilo não fosse realmente um encontro.

Cinemas são péssimos pra isso, ninguém se toca lá. — Seokjin resmungou. — Não fizemos nada em grupo desde que chegamos, que tal sairmos hoje?

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⏰ Last updated: Apr 13 ⏰

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Jiangshi 殭屍Where stories live. Discover now