Três

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Açucena tremia enquanto segurava o prato de caldo quente oferecido por Inha Bina. Cada gole trazia um pouco de conforto para sua alma atribulada, enquanto o calor do líquido acalmava seus nervos. Ela sentia a presença reconfortante da mulher mais velha ao seu lado, uma âncora em meio à tempestade que era sua vida.

-Vassuncê tá sentindo mió? -perguntou Inha Bina com gentileza, seus olhos cheios de compaixão enquanto observava a jovem.
Açucena suspirou profundamente, assentindo, tentando controlar a tremedeira em suas mãos.Inha Bina sorriu com compreensão, colocando uma mão reconfortante no ombro da jovem. 

-Vassuncê tá segura aqui, menina. Ninguém vai lhe fazer mal - assegurou ela com firmeza. - Termine de cumê que eu vou esquentar agua pra 'ocê se lavar.

- A senhora não precisa fazer isso... - o rosto da velha negra se iluminou como um farol ao ouvir a voz fraca da jovem. - Eu preciso ir embora daqui... eles virão atrás de mim...

- E ocê acha que quem quer que seja que ta lhe perseguindo não vai te encontrar num piscar dos zóio se sair por ai assim, nesse estado?

Inhá Bina se aproximou novamente afastando os cabelos do rosto de Açucena. 

- Ocê  tá fraca, não vai muito longe se sair assim desse jeito.

Açucena baixou os olhos, sentindo um nó apertar em sua garganta. Ela sabia que Inha Bina estava certa, mas a ideia de permanecer ali, sob o teto de estranhos, a deixava desconfortável. No entanto, a perspectiva de enfrentar o mundo exterior sozinha era igualmente assustadora.

-Eu... eu não sei o que fazer... - confessou Açucena, sua voz um sussurro frágil.

Inha Bina assentiu com compreensão, sua expressão suave e tranquilizadora. 

- Vassuncê não se preucupa, menina. Nós vamo encontrá um jeito de ajudá ocê. - disse ela com determinação.

O crepúsculo tingia o céu com tons de laranja e vermelho enquanto Samuel Valentini se recostava na varanda da casa, inalando o aroma do charuto que queimava lentamente entre seus dedos. Seu olhar estava perdido no horizonte, onde seu filho, Pedro, tratava carinhosamente do cavalo no estábulo.

O som suave dos cascos do cavalo ecoava no ar tranquilo, interrompido apenas pelo leve ruído de seus próprios pensamentos. Foi então que Inhá Bina surgiu na varanda, uma xícara de café fumegante em suas mãos enrugadas.Samuel aceitou a xícara com um aceno de cabeça de agradecimento, levando-a aos lábios e saboreando o líquido quente. 
Os olhos de Inhá Bina se voltaram para o campo, onde Pedro continuava seu trabalho com o cavalo. 

- Pedrinho ta cada dia mais parecido com ocê .-  ela sorriu com a lembrança do jovem senhor em sua infancia. 

Samuel assentiu com um sorriso orgulhoso. 

- Espero que isso seja um elogio. - ele disse apagando o cigarro com a sola da bota.

Inhá Bina deixou escapar uma risada. O silêncio caiu entre eles por um momento antes que Inhá Bina decidisse abordar o assunto que pesava em suas mentes

 - O inhozinho já sabe oque vai fazer com a negruinha?

Samuel suspirou, a fumaça do charuto se dissipando lentamente no ar. 

-Ela tá assustada - continuou a velha - Parece que foi muito judiada.

Inhá Bina tinha os olhos tristes refletindo a compaixão que sentia pela jovem. 

- Pobre menina - murmurou ela. 

Samuel olhou para o campo por um momento, observando seu filho com o cavalo.

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⏰ Última atualização: Apr 09 ⏰

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