Capítulo 18

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Então, tudo era breu.

Vi-me andando no escuro, tateando o ar em busca de uma parede que pudesse me guiar. Apesar de não ter encontrado, continuei colocando um pé na frente do outro, com a esperança de enxergar algum ponto de luz para além do horizonte.

Ao invés disso, avistei duas figuras, uma pouco mais baixa que a outra, olhando para além do meu campo de visão. Conforme me familiarizava com suas silhuetas, fui apressando o passo.

"Mãe?" Tentei gritar, mas minha voz não saiu. "Vera!"

Embora Primavera parecesse completamente alheia à minha presença, Aeg se mexeu, lenta e descontraidamente. Seu rosto estava manchado com o que supus ser um tom escuro de tinta, contrastado com pontinhos brancos que pareciam querer simular as estrelas no céu. Ela, que antes segurava os ombros de minha irmã com os dois braços, endireitou a coluna e virou-se em minha direção.

Ao vê-la frente-a-frente, meu corpo me obrigou a parar. Aquele era seu sorriso, aqueles eram seus olhos, mas aquela não era minha mãe. Ao menos não totalmente.

Uma parte de seu corpo aparentava mais jovial, tal como nos poucos retratos que tinha de seu período de concubina, sem as marcas profundas nas bochechas e ao redor dos olhos. Essa sua parte era tão linda que cintilava contra o escuro, o que de alguma forma tornava o outro lado de seu corpo muito mais assustador; quase metade de seu rosto era apenas uma caveira amarelada, infestada de moscas e larvas que saíam e entravam de suas cavidades a bel prazer.

"Quem é você?" Sussurrei. "O que você fez com minha mãe e Vera?"

— Oh, minha menina. — Sua voz parecia dividida em duas. Uma delas, doce e melódica como a de minha mãe, enquanto a outra era nada tão além de um chiado. Estremeci, dando alguns passos involuntários para trás, como se meu corpo me dissesse que, o que quer que tivesse acontecido com minha mãe, eu seria a próxima. — Minha doce e corajosa menina, perdoe-me a pressa; eu estava louca para te conhecer.

"O quê..."

Sua mão esquerda, a mesma mão desprovida de carne e pele, tocou rapidamente meu ombro com um gesto patronal, quase possessivo. Não importaria se eu tentasse me livrar de seu toque, pois sabia que ela seria mais rápida que eu.

— Você está perdendo tempo. Acorde.

Com um salto, inspirei um punhado de ar como se respirasse pela primeira vez

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Com um salto, inspirei um punhado de ar como se respirasse pela primeira vez.

— Srta. Thyme, a garota acordou! — Gritou uma voz desconhecida.

O cheiro de álcool e sangue impregnou meus sentidos conforme tentava entender onde estava; não no barco, disso eu sabia, nem no bar ou no laboratório de Caeda. Aquele cômodo pequeno e encardido era novo, tal como a pessoa à minha frente.

O som de passos acelerados aumentava conforme minha consciência voltava, ou talvez alguém estivesse se aproximando de mim.

— Oleen? — Elly cobriu minha visão, sentando-se na cama onde eu me encontrava, um sorriso preocupado no rosto. — Como se sente?

O Fim de OstaraWhere stories live. Discover now