Capítulo 16

11 3 42
                                    

Não senti ter escolha além de seguir qualquer direção que Caeda me apontasse, apesar de não saber para onde estávamos indo. Minha cabeça ainda latejava com os resquícios da ressaca enquanto pisávamos de pedra em pedra, evitando as partes mais molhadas e o musgo típico da costa. Para melhorar a situação, sentia meus calcanhares congelando com o vento e a umidade, apesar de estar de botas.

Meu corpo, nitidamente despreparado para aquela atividade, deslizava pelas superfícies mais planas e muitas vezes precisava do auxílio da mão enluvada de meu companheiro. Quando tinha tempo, observava-o andar na ponta dos pés, como se tivesse nascido para trilhar as jornadas mais irregulares.

— Diga. — Caeda parou bruscamente, quase me dando um susto.

— Você tem um olho nas costas?

— Não, você que não sabe ser sutil. Pergunte o que quer perguntar.

Pousei ao seu lado, fazendo meu máximo para não escorregar.

— Seu plano, então, é roubar uma pérola gigante de sereias.

— Precisamente. — Lutando contra o frio possivelmente tanto quanto eu, Caeda tomou um gole de seu cantil. — Com a exceção de que essas sereias são diferentes das que encontramos antes. Mais perigosas, e muito mais feias.

E eu pensando que Nisha era peculiar o suficiente.

— Mas por quê?

— Isso não lhe diz respeito. — Sem aviso prévio, Caeda guardou sua bebida e voltou a pular pelas pedras, deixando-me completamente para trás.

— Não acha que sua ajudante possui o direito de saber? — Gritei.

— Na verdade, não.

— Seu...

— Se quiser voltar, fique à vontade. Mas já atravessamos cerca de quatrocentos metros de pedras.

Resmunguei alguns xingamentos, alto o suficiente para que o menino-coruja escutasse, mas ele não pareceu se importar.

— E isso vai ajudar a Primavera, então. — Insisti, mas, ao invés de responder, ele parou em uma rocha grande e me entregou seu cantil. — Devo deduzir que não é chá? — Peguei o compartimento de metal com as duas mãos, tentando enxergar o que tinha dentro.

— Tenho quase certeza que tem café no meio. Beba sem encostar a boca.

Suspirando, tomei grandes goles do líquido amargo, o suficiente para me esquentar o peito. O gosto forte e reconfortante de álcool quase me fez esquecer de minha cabeça latejante.

— Vocês do Ferro-Velho bebem demais. — Entreguei seu cantil, o corpo temporariamente aquecido contra o vento gélido que soprava.

— E você está quase se tornando uma de nós.Vamos?

— Qual é o plano?

— Tenho um barco com algumas ferramentas do Antigo Mundo que consegui consertar. Se der tudo certo com as máscaras de oxigênio, conseguiremos nos manter debaixo d'água por vinte minutos.

— E as armas que trouxemos?

— Não são armas de fogo. Armas de fogo precisam de pólvora pra funcionar, e pólvora molhada se torna inútil para nós. — Caeda sacou seu cano de metal, e pude ver em seus olhos um vislumbre de orgulho. — Não. Essa aqui vai soltar uma rede de pesca de aproximadamente seis metros. Só tem uma munição, no entanto, então mire corretamente.

O Fim de OstaraWhere stories live. Discover now