Olhei para ele arqueando uma sobrancelha.

- Desgruda de mim. - eu disse empurrando ele, para ele tirar seus braços de mim. - Está muito calor, sai. - disse e finalmente ele tirou seu braço revirando os olhos.

Abusado.

(...)

Não sabia ao certo quanto tempo nos andávamos, mas com certeza já devia ter passado de duas horas, ou se não, já estava perto de quase passar.

A minha garrafinha de água já estava vazia, assim como a de Gustavo, que eu também bebi o restinho da dele.

Agora eu tinha que aturar ele dizer que eu era burra por ter feito nós dois se perder.

- Então porque você não pegou o mapa? - perguntei cruzando meus braços.

- Porque você literalmente arrancou ele da minha mão. - ele disse irritado.

Gustavo mantinha sua expressão fechada, e a minha provavelmente não estava tão diferente.

- Mas você também não fazia nada, invés de ficar me enchendo o saco. - eu disse sobre o fato dele não parar de tagarelar um segundo sequer.

- Isso porque eu pensei que você soubesse para onde estava indo. - ele disse cruzando seus braços e me olhando irritado.

O céu já estava alaranjado, e o sol quase sumia por completo.

- Por que não admite que está errada pelo menos uma vez? - ele perguntou e vi tirar algo de sua mochila, que percebi ser uma lanterna quando ele acendeu a mesma.

- Porque... Porque eu não estou tão errada. - eu murmurei.

- Me empresta o mapa, eu vou tentar tirar a gente daqui. - ele disse e eu entreguei o mapa para ele.

Também peguei minha lanterna, e não demorou muito para que escurecesse por completo. A única coisa que dava para se escutar era o som dos grilos, e eu confesso que não era agradável estar no meio de uma floresta à noite.

Pior ainda com o Gustavo. Se aparecesse um assassino nós dois morreriamos, porque eu não sei brigar e ele também não.

Tentei ver se pegava sinal de celular para ligar para alguém e avisar que estávamos perdidos, mas não tinha um pontinho sequer.

- Acho que é por aqui. - escutei ele dizer e apontar com a luz da lanterna para o lado esquerdo da trilha.

Eu suspirei seguindo ele, até porque não é como se eu tivesse muita opção.

E lá se foi mais uns trinta minutos andando.

- Eu não aguento mais. - eu choraminguei sentindo minhas pernas pedirem para descansar.

- Aguenta mais um pouco que acho que estamos quase chegando. - ele disse e eu soltei um suspiro.

- Acha?

- Não reclama não, porque foi você quem fez nós dois se perder. - ele disse e eu revirei meus olhos, imitando o que ele dizia com os meus lábios, mas sem soltar nem um som.

Andamos mais um pouco, e finalmente vimos algumas luzes. Chegando mais perto percebi que a luz vinha de uma fogueira, e estava lá todos os outros.

- Graças a Deus. - eu disse agradecendo.

- Vocês dois chegaram, estava ficando preocupada. - disse a diretora chegando perto de nós dois.

- A Ana fez nós dois nos perder. - disse Gustavo emburrado.

- Mas você também não ajudou. - eu disse cruzando meus braços.

- Como não? Se não fosse por mim, ainda estaríamos lá no meio do nada. - ele disse irritado.

A diretora fez um sinal com as mãos, como se dissesse "calma".

- Pelo menos nada de ruim aconteceu. - ela disse e eu revirei meus olhos, tirando minha mochila das costas, e sentindo o alívio quando não tinha mais nenhum peso para carregar.

- Montem suas barracas, e se quiserem comer alguma coisa, tem no cooler. - ela disse e concordamos.

Eu não sabia montar a barraca, mas um coordenador me ajudou, e eu fiquei satisfeita quando pude finalmente sentar dentro dela e descansar.

- Ana, vem aqui um pouco. - disse a diretora e eu choraminguei, pelo fato de eu ter acabado de me sentar.

Contra minha vontade, me levantei e fui praticamente me arrastando até ela. Gustavo estava ao seu lado e eu fiz uma careta.

- Acho que agora como vocês dois tem tempo, é um ótimo momento para pensar nas três coisas que gostam um do outro. - ela disse e eu juro que eu vi animação nos seus olhos.

Essa mulher é louca.

- Eu penso lá na minha barraca. - disse Gustavo, e ele parecia estar tão exausto quanto eu.

- Não. - disse a diretora e Gustavo olhou para ela confuso, assim como eu. - Vocês dois vão se sentar ali, e vão conversar enquanto pensam nisso juntos. - disse apontando para o tronco de árvore perto da fogueira.

- É sério isso? - perguntei indignada, e ela concordou.

Nos entregou dois caderninhos e duas canetas, e praticamente obrigou nós dois irmos nos sentar lá.

Olhei para Gustavo emburrada, enquanto ele me olhava da mesma forma. Nós dois nos encaravamos mortalmente.

- Que pena que é três coisas boas, porque se fosse ruim, a primeira coisa seria a sua burrice. - ele disse e eu cerrei meus olhos na sua direção, segurando minha vontade de bater minha mão contra sua bochecha.

I hate you | miotela ✓Where stories live. Discover now