Capítulo 2

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ADEUS MAMÃE.

"Seus olhares clichês, mas eu não dou a mínima
Você não pode mais me enganar, então
Você facilita para mim o que escolher
Prometo não prometer mais"
Doll ((G)I-DLE)

"Seus olhares clichês, mas eu não dou a mínimaVocê não pode mais me enganar, entãoVocê facilita para mim o que escolherPrometo não prometer mais"Doll ((G)I-DLE)

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---------------------- JOYCE --------------------

Sinto meu estômago embrulhar ao olhar para a lápide, mas mesmo assim o faço. A cada punhado de terra que é jogado em seu caixão, sinto meu coração apertar, mas não saio de onde estou.

Devo isso a ela. Talvez isso seja o máximo de dignidade que eu possa oferecer, ficar ao seu lado até o fim. Diferente de seu marido, meu pai. Que até agora não apareceu, mesmo ele tendo organizado tudo, ou tudo o que uma cerimônia de uma hora possa oferecer.

Uma hora.
Um casamento de quase vinte cinco anos, uma filha, a fortuna da família e liderança, do que um dia já foi, umas das maiores organizações criminosas que já foi formada, tendo membros em todo o globo. E para esse homem que não tinha nada, é isso que ela vale, apenas uma hora. Que ele nem pode perder, já que ainda não chegou. Deve estar rolando nos lençóis de uma de suas inúmeras amantes que ele nunca fez questão de esconder.

Não consigo impedir que as lágrimas desçam.

Me permito o luxo de chorar, talvez porque sei que apenas as minhas lágrimas, em meios aos poucos abutres que compareceram, são verdadeiras. Ou seja, a noção de que agora, estou totalmente sozinha naquela casa. E, provavelmente, nesse mundo.
Para sempre.

-A filha da Sra.Doyle, Joyce, deseja falar algumas palavras?

Saio do transe de minha autopiedade e sofrimento, nego a oferta ao padre que não entendi o motivo de estar aqui, afinal, minha mãe nunca foi religiosa. Nem mesmo, quando o câncer estava ceifando pouco a pouco sua vida, ela levantou o clamor aos céus. Duvido que soubesse rezar um pai nosso ou usar um terço.

Não, seu deus era de carne e osso, medíocre em todos os sentidos da palavra. Seu deus se chamava Anthony. Talvez por isso ela não tenha sobrevivido, escolheu o deus mais corrompido para adorar e se dedicar.

Tento não pensar nele, minha mãe merece minha total atenção nesse momento, em nosso último momento juntas. Não acho que vamos nos reencontrar no céu, ela merece estar lá, eu não. Não pelo que irei fazer para conseguir minha liberdade, para me livrar do meu pai e dessa maldita organização que ele conseguiu a proeza de transformar em uma piada.

Ou como eu e Christopher chamamos, ele transformou o maior orgulho de meu avô em um "Anthony e seus amigos".

O fim da cerimônia chega, me nego a usar o ''enterro'', parece frio e sem alma, soa feio. Ela nunca foi isso, ela foi amorosa, gentil e boa, completamente resplandecente em sua essência angelical. Nunca a vi destratar uma empregada, mesmo que ela, a dona de tudo fosse destratada por uma empregadinha nojenta que acreditava que era especial por se deitar com meu pai. Nunca a vi falando mal de alguém, mesmo ela sendo massacrada por todas aquelas cobras, que se julgavam melhor que ela.

Imagine, uma Doyle sendo inferior a um bando de cobras. Inaceitável.

Mas isso iria mudar, isso eu jurei em frente ao seu leito de morte. O sobrenome Doyle ainda iria ser minha salvação, nem que fosse uma única vez.

Entro no carro sem me despedir ou cumprimentar a ninguém, não havia motivos para isso. O motorista também não me dirige a palavra, então o caminho foi em silêncio. Encosto minha cabeça na janela fechada e me concentro na paisagem turbulenta de Nova York em uma segunda-feira de manhã. Desejo ser qualquer um ali, eles têm para onde ir, o que fazer, com quem fazer. Eu só tinha minha mãe e a perdi.

Quando menos espero ou quero, chegamos. Quantos os portões se abrem, e entramos no grande terreno olho para minha casa, percebendo o quanto ela estava mal cuidada, mas que mesmo assim, mantinha seus esplendor de outrora. Época de meus avós, com certeza.

Desço do carro antes mesmo que o motorista abra a porta, me apressando para chegar ao meu quarto e poder descansar desse dia infernal. Mas minha sorte não estava tão forte, pois assim que entro, dou de cara com meu pai. Respiramos fundo, ambos desconfortáveis com a presença um do outro.

-Como foi o enterro? - Ele tenta puxar assunto.

Ergo as sobrancelhas.

-Bem rápido, mas até que agradável. Levando em conta que o marido da da falecida não pode ir.

-Joyce - Ele usa seu tom de aviso - Não comece.

Apenas assinto com a cabeça. Vendo ele servir outra dose de uísque e tomar rapidamente.

Minha vontade de me recolher permanece, mas tenho que sondar um assunto com meu pai.

-Você recebeu a ligação de Christopher?Ele me disse que veio aqui, mas que você não o recebeu.

-Estava ocupado. - Ele fala simplesmente, dando os ombros.

-E amanhã? - Insisto.

-Agenda apertada.

-E depois?

Ele estreita os olhos, prevendo para onde essa conversa vai.

-Meu aniversário, você se lembra? Vou estar muito ocupado para resolver isso.

Respiro fundo.

-Pai, você não pode ignorar Christopher para sempre. Assim como não pode me prender aqui para sempre, você sabe disso.

Ele ri, como se eu tivesse contado a melhor piada de todas e bebe mais uísque.

-Enquanto você for uma moça solteira, sim.

-Christopher se interessa em mudar isso.

Ele aponta para si mesmo.

-Mas eu não.

-Sabemos bem o que você deseja que não mude. - Não contenho minha amargura por sua falta de vontade em fazer algo tão simples.

Ele não diz nada por alguns segundos, fica apenas me analisando.

-Não vou sair do poder para entregar tudo na mão de um moleque e de uma garotinha mimada que nem saiu das fraldas ainda. Ponto final, mocinha.

Ele me dá as costas, não me deixando chance de resposta e isso me deixa em pânico. Ele nunca vai me deixar ser livre.

A regra da organização sobre liberdade para os herdeiros do líder era clara: Apenas depois do casamento. Estudar, viajar, sair de casa sem estar acompanhada. Para tudo, principalmente, minha herança. O dinheiro deixado pelos meus avós, que deixaram para minha mãe e que agora era meu, tudo isso estava nas mãos de meu pai. Mas não era só isso que também o deixava tão irredutível sobre a ideia de dar minha mão para Christopher.

Assim que eu me casasse, meu marido seria o líder da organização. Era assim que as coisas funcionavam.

E o antigo chefe seria aposentado, querendo ou não. Tendo que obedecer fielmente o seu novo líder. Assim que eu dissesse "sim" no altar, meu pai voltaria a ser apenas mais um subordinado, com todas as honras de um antigo líder, mas apenas mais um funcionário.

Por isso, se dependesse dele, eu nunca iria me casar e sair daqui. E preciso dele para isso. De acordo com as leis, os filhos são propriedade do pai até o casamento e se, as leis eram rígidas com os meninos, imagina com as meninas.

Ele tem que aprovar meu casamento, me levar até o altar, para que acabar com essa maldita relação de pai e filha e cada um seguir com seu caminho. Para eu poder traçar o meu caminho.

Subo para meu quarto, ainda mais segura do que irei fazer. Ele vai me casar, nem que para isso, eu tenha que colocar essa casa abaixo.

Eu vou ser livre, por bem ou por mal.

Octavian (Mortais vol.I) Where stories live. Discover now