Cap.31 - Eu te quero

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"Dentro da noite feroz

No breu das noites brancas de hotel

No clarão, no vasto, no vago

No vão, no não, na multidão

Tua, tua

Tua e só tua..."

Tua (Maria Bethânia)


Era uma sexta-feira e Amaury chegou atrasado nos estúdios Globo, tinha pegado um trânsito infernal e estava ainda mais irritado do que antes de sair de casa, o que quer dizer muito irritado.

Era raro vê-lo de mau humor, mas eis um dia que ele estava com uma cara muito amarrada e um bico enorme.

Por quê? Entenderemos em breve.

Diego entrou no camarim, Amaury abotoava os botões da camisa marrom de Ramiro com impaciência, fora ele, só havia mais uma pessoa no camarim, Paulo Lessa, que trocou um olhar com Diego e saiu discretamente, o clima pesou assim que eles se encararam.

— Bom dia! — falou, Diego, seco.

— Bom dia! — retrucou no mesmo tom.

Diego foi na arara de roupas de Kelvin e tirou a camisa e desceu a calça, ele sabia o que fazia e como fazia.

Amaury o olhou pelo grande espelho na parede que pegava uma visão da sala inteira.

Diego terminou de arrancar as calças pelos calcanhares e o encarou pelo reflexo no espelho.

— Pensamentos?

— Nenhum. — retrucou, Amaury lhe dando as costas.

— Nossa, sério, mesmo? — Diego vestiu o shortinho de Kelvin e deixou-o aberto, revelando a cueca branca que vestia por baixo e também um volume acentuado.

Parou atrás dele com as mãos na cintura, Amaury virou devagar e o encarou.

— Qual é o seu problema?

— Você é o meu problema.

— Eu sou? Quem hospedou a amiga, leia-se ex, de Congonhas no apartamento não fui eu.

— Isso de novo? — rebateu, cansado — Foi por uma noite e ela ficou no quarto de hóspedes, não na minha cama.

— Que é que você está insinuando, oh, doido? Eu almocei com o Pedro para falar de coisas profissionais. Foi apenas um almoço. Somos amigos.

— Eu também sou amigo da Daniela.

— Mas, ela não precisava ter dormido na sua casa. Existem hotéis, pousadas, hostels, airbnb. Eu não hospedei o meu ex no meu quarto de hóspedes.

— Meu saco! — ele explodiu — Eu já expliquei que isso já tava combinado há meses.

— Tava combinado há meses que quando ela tivesse no Rio, você comeria a sua ex casualmente, claro.

— Nossa... Que baixaria, Diego. Nem todo mundo é assim, sabe? E outra, na época eu tava solteiro... Meses atrás, a gente nem sonhava em estar junto.

Diego colocou uma mão no braço direito dele, sentiu imediatamente o músculo tensionando embaixo de sua mão.

— Desamarra esse bico, meu bem. — pediu, com aquele olhinhos felinos.

— Não tem bico. — ele se desvencilhou de Diego, com um bico enorme, pegou o calçado de Ramiro, sentou no sofá e começou a colocar as meias.

Diego bufou e vestiu a regata de Kelvin.

Duas vezes vocêWhere stories live. Discover now