Capítulo 2: O dia seguinte

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Pac acordou sozinho na manhã seguinte.

Novamente, todo o corpo do arqueiro doía, mas, dessa vez, é uma dor diferente. Não é como no resto do mês, quando acordava todo quebrado por dormir de mal jeito e mal conseguia se mexer por horas. Dessa vez, sentia-se melhor do que qualquer um dos últimos dias do mês que passou sozinho.

Os braços coçam um pouco, fazendo com que o brasileiro os erga na direção dos olhos. Depois de dormir uma noite inteira em posição confortável, erguer os braços é fácil e não dói tanto; Pac não está mais acostumado com isso. Ele nota as bandagens de linho enroladas desde os dedos até os ombros, um trabalho muito bom, provavelmente feito por alguém que tinha conhecimentos em fazer aquele tipo de curativos.

Nota também que está em uma cama limpa, e que o quarto estava ventilado e o cheiro de lugar fechado já estava bem mais fraco do que antes. Apoiando-se nos cotovelos, abaixou o olhar para o tronco, buscando conseguir olhar o corte mais feio que um warden tinha feito alguns dias atrás, usando as garras e dentes. Assim como os braços e as pernas, a parte superior do corpo estava enfaixada. Pac encosta com cuidado na altura do ferimento, ainda sentindo o local bem dolorido.

E então, de repente, as lembranças da noite anterior o atingem de uma vez.

O brasileiro geme baixinho, deixando o corpo cair no colchão novamente e cobrindo os olhos com as palmas das mãos.

Patético, ele é patético!

Pac mal pode acreditar que alucinou com Fit enquanto ardia em febre; meu deus, com certeza Bagi tomou conta dele durante a noite enquanto ele acreditava fielmente que estava falando com o namorado.

Puta merda, Pac precisa se desculpar.

Ele senta na cama, com tanta facilidade que até fica surpreso. O que quer que Bagi tenha feito nos ferimentos, foi milagroso.

Pac percebe que, depois de semanas, está se sentindo em paz finalmente; a pura presença da voz do namorado, mesmo que tenha sido apenas um truque da mente, serviu para deixa-lo um pouco mais feliz. Lembrá-lo do quanto gostava de viver a vida junto da família que havia criado junto com Ramón, Richas e Fit. Do quão feliz era.

E do quanto havia esquecido de tudo aquilo ao se deixar ser arrastado para uma espiral de pensamentos negativos.

Pac havia passado tempo suficiente na terapia depois da prisão para saber não colocar em si mesmo uma carga maior de culpa. Ele sabia que recaídas eram comuns em pessoas como ele, pessoas que lidam com depressão, e sabia também que não poderia controlar aquilo. Mas agora estava disposto a tentar novamente; não deixaria Fit vê-lo daquele jeito quando o namorado voltasse.

Enquanto ficava de pé e respirava fundo para combater uma fraca onda de tontura, Pac lembrou do que havia falado enquanto alucinava. Revirou os olhos para si mesmo ao relembrar o quão dramático foi – ele não acreditava realmente que Fit estava morto, muito menos que o namorado não voltaria. Tudo bem, talvez lá no fundo tivesse sim esse medo, mas sua fé em Fit era maior.

Subiu as escadas para o andar de cima, sentindo o cheiro de comida sendo feita na cozinha. Resmungou baixinho.

— Não acredito que fiz a Bagi passar a noite aqui e ela ainda tá cozinhando pra mim — sussurrou para si mesmo, ouvindo alguém mexer nas panelas e utensílios que guardava nos armários. O brasileiro riu para si mesmo, desacreditado.

A sala de estar estava irreconhecível – os móveis limpos, as teias de aranha todas retiradas, as pequenas poças de sangue não eram mais vistas em nenhum ponto do piso de madeira. Sol entrava pelas cortinas abertas, iluminando o cômodo depois de semanas sem receber uma luz natural, e um pouco de poeira voava em um dos raios claros. Pac sentia-se cada vez mais envergonhado por toda aquela situação, então apenas decidiu acabar logo com aquilo e andou até a cozinha, já falando enquanto abria a porta:

Bandagens e cafunésWhere stories live. Discover now