Capítulo 1: O pior dia

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Pac está novamente sozinho.

Faz duas semanas desde quando ele encontrou a carta de Fit na parede de sua casa. E faz quase um mês inteiro que não tem notícias do namorado. A última vez que se viram foi no dia 1º de março, e Pac ainda se lembra da sensação de acenar um adeus, talvez o último.

Ele não liga mais para a vida.

Ele não se importa se morre ou não. Ele realmente não se importa com todas as novas mordidas e hematomas e cortes que os mobs deixam em seu corpo. Às vezes, ele até deixa de revidar e apenas fica lá, parado, deixando os zumbis arranharem sua pele com os dedos podres.

Ele está sozinho. E está acostumado com isso.

Também faz quase um mês que ele viu Ramón e Richas. As crianças estão dormindo, e ele sabe que elas precisam disso. Ele aceita.

Verdade seja dita, é mais fácil para Pac que Ramón e Richas não estejam por perto. Dessa forma, ele pode pular de dungeon em dungeon sem se preocupar. Mesmo não dando a mínima para sua segurança, ele não deixaria as crianças em perigo se elas estivessem acordadas.

Talvez seja mais seguro que continuassem dormindo.

Ele entra de volta na casa de paredes brancas, o corpo inteiro coberto de sangue, lama e poeira. O cabelo está um emaranhado, e as mechas azuis, completamente descoloridas. O estômago de Pac dói, e ele não lembra o que ou quando comeu pela última vez. A garganta está seca, e ele mal se lembra do som da própria voz.

Faz quase um mês que ele não fala com ninguém.

Não que todo mundo tenha sumido – Bagi, Mike, Tubbo, Philza... até Cellbit, todos estão preocupados com o brasileiro. Pac não fala, mal come, nunca responde o chat e eles ficam assistindo Pac morrer e morrer e morrer – e todos sabem que ele está fazendo de propósito. Quando estão acordados, Mike e Bagi visitam Pac todos os dias, mas nem o cientista de cabelos rosa é capaz de fazer o irmão se sentir melhor.

Pac simplesmente não liga para a vida mais. Simplesmente não vê sentido em continuar sem as luzes que o guiam – as crianças e seu "american boyfriend".

Hoje foi um dia ruim. Apenas Pac e Tubbo estavam acordados na ilha, e Pac tomou proveito disso. Ignorando as mensagens no chat, ele se teletransportou para uma dungeon a mais de 150k blocos do spwan e se jogou nela.

Em menos de uma hora, Pac morre mais de vinte vezes. As espadas quebram sua armadura e cortam sua pele, e flechas ficam-se nos braços e penas. Tudo dói, sangue quente escorre, mas Pac só para quando Tubbo aparece. O mais novo dos dois estava tão preocupado que apareceu chorando e gritando com o mais velho. Tubbo matou todos os mobs, destruiu os spwans, mas, quando olhou para trás, Pac já não estava mais ali.

O homem anda até o porão, não parando nem para fazer carinho nas orelhas de Timbó quando o gato se aproxima, ronronando. Pac rapidamente troca a água e a comida nos potinhos, porque não quer que os gatos morram, mas é o máximo que consegue fazer.

Ele está vivendo como um robô.

Pac entra no pequeno banheiro, tirando as roupas da parte de cima do corpo. A pessoa que o encara de volta no reflexo é alguém que ele não reconhece – uma pessoa muito mais magra, com muitas novas cicatrizes que ainda não estão curadas, olheiras escuras abaixo dos olhos.

Alguns dias, quando Bagi ou Mike estão por perto, eles tomam conta de Pac: ajudam ele a tomar um banho quente, escovam os cabelos pretos, colocam ele em roupas limpas e até tentam fazer ele comer alguma coisa. Mas nenhum dos dois tem acordado nos últimos dias, então Pac está sozinho, e ele não tem forças para fazer nada.

Bandagens e cafunésWhere stories live. Discover now