Capítulo 5 - Magatama: MAKOTO

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Cidade Proibida, China

Era preciso cruzar a ponte. O corpo do guerreiro solar ainda estava estendido, ensangüentado.

Agora que respirava, Elektra sentia exatamente os locais onde as flechas de REI a atingiram.

Uma luz piscava insistentemente numa pequena construção pouco depois da ponte.

A curtos passos a ninja passava por cima daquela obra da engenharia, que representava, segundo lendas, uma insígnia do símbolo imperial de um outro país asiático: o Japão.

Este era o motivo pelo qual Elektra chegou à China. Ela precisa impedir que alguém muito poderoso reúna as três peças e cause um colapso no planeta.

Mas ela desconfia de o que menos importa seja o destino do mundo. Elektra precisa saber a função dela nesta vida.

Alguém que fora criada para matar. Uma arma letal. Que nem o Céu e nem o Sol conseguem vencer.

Enquanto cruza a Ponte Curvada, o daikyu pesa no ombro. Os sais descansam na cintura.

Elektra ainda não entende o que realmente está acontecendo. Busca respostas, mas o único que acontece é conflito. Acusam-na de ladra, de estar com algo que não lhe pertence. Ela precisa entender para saber como agir e de que lado ficar. Se é que existe um lado certo.

Só que seus olhos refletem o que lhe passa pela cabeça: deter Xia Nai, a pedido do seu mestre Tsao.

Ele também omitiu informações.

A luz cessa. O pagode rapidamente é identificado pela ninja: é o Pequeno Templo.

Ela saca as armas brancas. Admira cada detalhe da engenharia chinesa, dessa fortaleza chamada Cidade Proibida, construída pela dinastia Ming, entre os anos de 1368 e 1644.

Uma estátua de Buda na entrada é a única testemunha.

- Estou muito admirado com seus feitos, Arma Letal. – uma voz que vem de dentro.

Ao entrar no Pequeno Templo, Elektra sente um frio lhe correr a espinha.

- Mas sua trajetória será interrompida e sua alma vai ficar presa neste local.

O vulto se aproxima. O local está vazio. Apenas pilastras e poucas imagens.

- Eu sou MAKOTO, o guerreiro Kahama da Sinceridade, Honestidade e Realidade – e saca as tonfas. [1] Sei da sua vida nos Virtuosos e no Tentáculo. Isso não me assusta; é um incentivo para uma batalha digna.

Em poucos segundos a ninja saca o daikyu e dispara duas flechas.

Uma é rebatida pela tonfa e a outra fica cravada na cabeça de um dragão de ouro.

- Que comece o combate! – diz o Kahama.

Anyang, província central de Henan

Aqui estão localizadas as ruínas de Yin, que datam do ano 3.300 a.C. e são os restos mais antigos da antiga capital chinesa, de uma dinastia conhecida como Shang ou Yin (séculos XVII-XII a.C.). Desde o inicio das escavações, há quase cem anos, já foram desenterrados mais de 150 mil cascos de tartaruga e ossos de animais com inscrições. Os objetos oferecem dados de valor inestimável sobre a agricultura, crenças, rituais, astronomia e guerras.

- Não compreendo, Fei. Estes escritos não são da época da dinastia Ch'in, por isso não remete a nada sobre onde o então imperador escondeu as outras insígnias.
- Ele era muito exagerado. Tanto que construiu um mausoléu sem que ninguém soubesse a localização e ainda mandou fazer os guerreiros de terracota...
- É isso! As insígnias devem estar no mesmo local onde o corpo dele descansa! Temos que encontrar o mausoléu!
- Mas ninguém sabe onde ele fica, Xia Nai.
- Deve ter alguma pista aqui...
- Impossível. O que encontramos aqui é de outra época.
- Por isso mesmo. Todos os imperadores sempre tiveram interesse na unificação... Pistas. Precisamos de pistas.

Pequeno Templo

- Boa estratégia a sua... de usar armas de inimigos derrotados. Mas essas flechas não vão funcionar, Elektra. Para piorar, você não é tão hábil quanto REI.

A ninja segura o arco. Cada mão em uma extremidade. E parte pra cima do oponente.

As tonfas parecem frágeis contra as pontas metálicas do daikyu.

Parecem.

Em movimentos rápidos, o Kahama consegue rachar o arco no meio. Insistindo nos movimentos, vai forçando Elektra a recuar.

Com passos curtos e se esquivando dos ataques, a ninja saca os sais.

Sorriso.

As quatro armas se chocam. Cada oponente tenta arrancar o instrumento do outro.

Agora não apenas a habilidade importa. A força é mais importante.

MAKOTO é mais alto que Elektra e mais encorpado. Leve vantagem.

Suficiente para empurrá-la contra a fina parede e cair numa antessala.

Ao se erguer nota a grande estátua de Buda. Era impressionante como naquele pequeno pagode cabia uma imagem daquelas proporções.

Em um salto, MAKOTO sai de trás do Buda. Com as tonfas na mão, corre para o ataque.

Ao jogar o corpo para o chão, pela direta, vê MAKOTO entrando pela parede quebrada.

MAKOTO pode se multiplicar.

- Dois contra uma... - tira o lenço vermelho da cabeça e amarra no punho esquerdo - Que comece o combate!

Chinatown

Os corpos dos seguidores do Eleito estavam esmagados, pouca coisa tinha restado.

O poder de Setsuko é muito além do que se pode imaginar. Mas ainda não é o poder de deusa. O poder de Amaterasu só será revelado e adquirido quando ela juntar os três símbolos imperiais japoneses. Isso não é uma tarefa simples. Setsuko não sabe onde eles estão.

O Magatama está nas mãos de Xia Nai. O sabre e o espelho estão escondidos em qualquer parte da China.

A reencarnação divina deixa o corpo do Eleito flutuando, e girando, nu.

- Muitas tatuagens devem ter um significado. Além dos brasões da dinastia Ch'in, todos os animais signos do horóscopo chinês. Onde está o desenho do animal que rege este ano, que vi agora há pouco?

Além dessas imagens existem inúmeras outras, como grafias, linhas, muitas linhas, círculos e outras formas geométricas. Ao que parece nada interessante.

- O animal está mais colorido do que os outros animais... o olho dele... pare estar apontando para algum lugar.

Pronunciando palavras e abanando um tesen [2], um clarão tal qual a luz solar invadiu o local e envolveu o corpo do Imperador Celeste.

Prenunciando mais palavras.

- Shikin Haramitsu Daikomyo! [3]

Cada feixe de luz cobre uma tatuagem do Eleito. Aos poucos, a tinta de cada imagem vai sendo extraída daquele corpo nu. As imagens são embaralhadas e colocadas em uma parede.

- Em breve as insígnias serão minhas!

Pequeno Templo

Os dois MAKOTO atacam juntos. Elektra tem dificuldades em se defender.

Um Kahama acerta a tonfa na parte de trás do joelho da ninja, que cai. O mesmo agressor segura as pernas de Elektra, enquanto o outro bate nas costas dela.

Num movimento rápido a ninja gira as pernas segurando os braços de um guerreiro. Novamente gira o corpo e ossos quebram.

O samurai solar some como fumaça enquanto o real se afasta depois da investida da assassina.

- Tem mais algum além de você?

MAKOTO esfrega várias vezes as tonfas uma na outra e depois da fumaça surge outro dele.

E mais um.

E outro.

A ninja sorri. Segura os sais com mais força e parte pra cima. Quatro guerreiros. Apenas um é o verdadeiro. Apenas um pode ser ferido, mas todos podem ferir.

Saltando, correndo, girando o corpo. Atacando. Defendendo.

Nesse momento do combate Elektra já sabe que precisa derrubar o verdadeiro MAKOTO, para que as duplicatas virem fumaça e ela possa seguir adiante, na busca pelo Orbe da Vida.

Mas como descobrir?

Sua perna esquerda está machucada. Seu ombro também.

Ela chuta os inimigos para que eles se afastem.

Eles se agrupam numa roda. E a ninja fica no centro.

Elektra pula e crava o sai numa madeira que sustenta o segundo andar do Pequeno Templo. Com as duas armas vai para frente, na direção do Buda. Os guerreiros tentam acertá-la, mas os pés ágeis impedem qualquer agressão.

Da cabeça da estátua ela respira profundamente.

Os quatro correm em sua direção.

Dois começam a escalar a imagem.

Um salto curto e dois sais cravados nas duas cabeças.

Ela cai de quatro no chão.

Duas fumaças.

Os outros dois gritam e partem pro ataque.

As tonfas batem nos cotovelos da ninja. Os movimentos rápidos dos braços não vão suportar por muito tempo.

Ela puxa o lenço vermelho do punho e enrosca nos braços dos inimigos. O braço esquerdo do real e o direito da duplicata.

Ao tempo em que MAKOTO tenta se desvencilhar, Elektra fica bem próxima.

- Vou te ser sincera, honesta e real.

O Kahama olha assustado.

- Duplicatas não suam.

A ninja o segura a cabeça e lhe quebra o pescoço.

Muita fumaça. Apenas as tonfas caem no chão.

Ela se volta para pegar os sais e encara o rosto do Buda.

Se aproxima e começa a alisar a grande estátua em ouro.

Na palma da mão ela vê linhas que forma um desenho familiar.

Ao olhar para a porta do Pequeno Templo, a luz pisca no mesmo local que Buda indicou: a Tianamen.

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N.A - imagem de capa gerada por inteligência artificial.

[1] Tonfa – Arma feita com resistente madeira, consiste numa "barra" medindo de 60 a 90cm, com um punho transversal na altura de ¼ de seu comprimento. Com essa arma, o usuário pode bloquear e atacar eficazmente. Nas mãos de um artista marcial a tonfa é capaz ainda de prender ou quebrar a arma ou alguma parte do corpo do oponente. Normalmente é usada em locais onde armas são proibidas e podem ser usadas duas por vez.

[2] Tesen - O leque de ferro, ou tesen, era também usado pelas mulheres ninjas, mas as característi¬cas eram distintas dos leques de ferro usado pelos samurais. Eles tinham uns abanicos totalmente de ferro para se de¬fender quando perdiam a katana em combate. Sem dúvida, o leque samurai todo mundo podia ver que era de ferro, mas o tesen era de madeira e tela, exceto as varas centrais, com lâminas de aço nas extremidades impregnadas de veneno e cortavam como a katana.

[3] O verso SHIKIN HARAMITSU DAIKOMYO, deriva de uma oração budista de antes do séc. VIII. Traduzida a grosso modo, significa "que o nosso próximo ato nos traga iluminação".


ElektraWhere stories live. Discover now