Mais Perto

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Tristan Liones

Parecia que meu corpo estava me castigando. Eu sentia que ia morrer de tanta dor de cabeça e no estômago.

- Maldita ressaca - resmunguei me sentando na minha cama.

Me vesti desejando arrancar meu estômago para não sentir mais aquele enjoo. Sai do quarto praticamente rastejando até a sala de jantar. Meus pais não estavam lá, mas Lancelot e Guinevere.

- Bom dia! - cumprimentou Lancelot em voz alta fazendo minha cabeça latejar.

- Mais baixo no tom de voz, meu amor - pediu Guinevere massageando sua cabeça.

- Apoiado - concordei com ela.

- Como se sente, campeão? - brincou ele.

- Do que você está falando? - perguntei me jogando na cadeira.

- Você não lembra? - Guinevere me encarou, neguei. - Você bateu na bunda da Isolde, colocou ela no seu colo e dormiu nos seios dela.

- Eu fiz tudo isso?! - gritei me arrependendo no mesmo segundo com a pontada na minha cabeça.

- Foi muito engraçado - riu Lancelot tomando sua bebida.

- Foi mesmo - sorriu Guinevere.

- Eu não acredito - apoiei meu rosto nas minhas mãos.

- Ah, não fica assim - meu amigo colocou a mão no meu ombro. - Ela gostou bastante.

- Gostou? - arregalei os meus olhos encarando os dois.

- Totalmente - assegurou sua esposa. - Ficou cheia de sorrisinhos. 

- Tenho que admitir que foi legal ver o lado que você puxou do seu pai - zombou meu amigo. 

- Aí, não, não - gemi negando. - A última coisa que eu quero é esse lado pervertido do meu pai em mim. 

- Ah, a Isolde curtiu - Lancelot sorriu de canto. 

Retirei minhas mãos do meu rosto e o encarei prestes a pular no seu pescoço. 

- Cala a boca - mandei me deitando na minha cadeira. 

- Chega vocês dois - mandou Guinevere. - Agora come alguma coisa, Tristan. Você está péssimo.

- Sempre um doce, meu anjo - piscou Lancelot para Guinevere, debochando de mim.

Eu não conseguia acreditar que eu fui capaz de tanta imoralidade com Isolde. Gostaria de me enterrar no chão e nunca mais aparecer.

...

Depois do café da manhã, eu decidi descer para o jardim do castelo e tomar um pouco de sol. Então, vi Isolde admirando as rosas do jardim. Usando seu uniforme de cavaleira que não diminuía a sua beleza.

- Estão lindas hoje - falei me aproximando.

Isolde me olhou e desviou no mesmo segundo. Pude ver o rubor no seu rosto.

- Isolde, eu não tenho palavras para pedir desculpas por ontem - me sentia enojado comigo mesmo.

- Não precisa - ela disse abaixando mais a cabeça e o seu cabelo rosa caiu cobrindo seu rosto.

- Preciso. Eu fui ridículo e muito pervertido.

- Eu gostei - ela soltou ainda com o rosto escondido.

- O que?

- Não precisa me pedir desculpa, porque eu gostei - ela disse com firmeza, levantando a cabeça e me olhando.

- É sério?

- É, eu sei que eu deveria ser mais rigida quanto a minha castidade, mas a verdade é que se for você, não me importo de ter suas mãos em mim.

Arregalei os olhos, agora sentindo um rubor tomar conta do meu rosto.

- E-eu... tudo bem - limpei minha garganta tentando não parecer nervoso. - Podemos nos sentar? - perguntei apontando para um dos bancos do jardim.

- Claro.

Nos sentamos juntos em um banco de pedra debaixo de uma árvore. Isolde colocou algumas mechas de cabelo atrás das orelhas e me encarou com aqueles olhos verdes que sempre me fascinaram.

- Posso te fazer uma pergunta? - pediu um pouco séria.

- Sempre.

- Por que você nunca me contou que foi você que me salvou naquele dia na floresta, quando éramos crianças?

- Você não sabia? - franzi a testa.

- Como? - ela franziu a testa de volta.

- Eu pensei que você soubesse. Mas acho que era de esperar, você ficou muito abalada e desmaiou nas minhas costas. E eu não quis lembrar você do ocorrido.

Isolde esfregou os lábios e desviou o olhar, cabisbaixa.

- O que aconteceu? - toquei seu ombro.

- Jade mentiu para mim - respondeu. - Ele disse que foi ele que me salvou. Quando eu estava em transe em Edimburgo, descobri que foi você. E eu... não queria ficar magoada com o Jade, porque ele morreu por mim... mas ele mentiu para mim e me escondeu que você me salvou...

Lágrimas começaram a molhar a saia de Isolde. Me aproximei dela e coloquei minha mão no seu rosto, virando sua cabeça e encarando seus olhos.

- Você não precisa ficar magoada com ele - sorri enxugando suas lágrimas. - De qualquer jeito, ele salvou você. E apesar de ter mentido sobre isso, ele era um bom amigo.

Isolde assentiu concordando. Aproximei meu rosto do seu e beijei sua testa por longos segundos. Seu cabelo tinha cheiro de rosas, completamente inebriante. Encostei minha testa na sua, seus olhos estavam fechados. Puxei seu rosto para o meu ombro e me permiti ser seu porto seguro.

Salvar a Isolde quando éramos crianças foi a primeira vez que eu me senti como um herói. Eu cresci admirando os cavaleiros sagrados, depois meu pai e seus companheiros, mas nunca havia me sentido como um herói até aquele dia. Quando eu salvei a minha donzela em perigo.

Isolde parou de chorar depois de alguns minutos. Se afastou e limpou o rosto, envergonhada.

- Me desculpe por molhar seu ombro - pediu arrumando o cabelo.

- É seu sempre que quiser chorar - assegurei fazendo ela sorrir. - Você quer jantar comigo hoje?

Isolde assentiu com um sorriso.

- Eu tenho que ir agora, porque devo estar horrível com essa cara de choro - ela riu, toda envergonhada.

- Você nunca ficaria horrível.

- Você está mentindo.

- Não, você fica linda de qualquer jeito - declarei.

Isolde virou o rosto para longe.

- O que foi? - perguntei rindo.

- Nada, eu só...

- Ficou vermelha?

- É...

Respirei fundo, com cada gota de coragem do meu corpo, levei minha mão até a cintura de Isolde e a trouxe mais perto. Seu rosto virou, seus olhos me fitaram, surpresos.

- Eu quero que seu rosto sempre esteja de frente para o meu - falei me aproximando.

Os olhos verdes pareciam esmeraldas brilhantes.

- Alteza...

- Tristan - corrigi. - Chega de me chamar de Alteza ou Príncipe. Sou apenas o Tristan.

Isolde assentiu.

- Está na hora de darmos mais um passo - declarei.

Nanatsu No Taizai: A Ascensão dos VitoriososWhere stories live. Discover now