Legal.
O meu é um cavalo marinho, apesar de eu nunca ter visto um, pelo menos o meu é algo realista deste mundo e não dragões.

E aquela escadaria que caminhei até a porta, que fora imediatamente aberta para nos receber,  parecia ser mais bem limpa do que o ar que respiramos.
E o cara estava ao meu lado durante todo esse tempo, completamente em silêncio e rígido, era medonho.

— Senhor, seja bem-vindo de volta — falou o primeiro empregado da fila, cumprimentando-o. — Ômega do senhor, seja bem-vindo.

Só pode ser zoação com a minha cara.
Parecia a porra do século antigo ver os empregados de uniformes, em filas, lado a lado, para nos receber.

Puta merda, tem como preferir a morte, não?

— Obrigado pela dedicação de todos. Dispensarei o jantar. — Aemond falou ao meu lado e isso me fez arquear as sobrancelhas em vê-lo falar de maneira tão chata. E pude ouvir a movimentação ao meu lado e finalmente o encarei, porque notei seu olhar frio em mim. — Fique a vontade, a casa é sua a partir de hoje.

E ele realmente me deixou ali, plantado e sozinho, sem conhecer ninguém ali.
Não que eu o conhecesse também, mas ao menos sabia quem ele era.
Capitão filha da puta.

— Olá, sou a Amélia e sou a governanta da casa. Por favor, me siga. — uma mulher velha apareceu, bem cuidada e parecendo ser a mais velha e respeitosa de todos os outros empregados, que se mantinham de cabeça baixa e calados. — Irei lhe acompanhar até seu aposento e logo mais servirei o jantar.

Amélia me levou para os andares superiores, comentando superficialmente sobre cada cômodo que acabávamos por passar pela frente, no corredor acinzentado e cheio de quadros.
Alguns quadros pareciam ser retratos de família e havia fotos, assim como desenhos, alguns pareciam medonhos, como retrato de algum militar dos séculos passados.

Esse povo não sabe o que é bom gosto?

— O jantar é sempre servido às 20h — esclareceu Amélia, parando na frente de uma porta diferente das demais. — Este será seu novo quarto. Há roupas novas e algumas suas que foram chegando.

— Ah, obrigado — murmurei baixinho, suspirando no fim ao adentrarmos aquele quarto. Era grande e tinha uma cama imensa no meio do quarto, uma TV que preenchia a parede total, frente a cama.

Tinha mais duas portas ali, que deveria ser o closet e o banheiro. E confesso que o quarto era muito bom, tinha grandes janelas e uma sacada.
Além disso, a decoração não era acinzentada ou branca, era um azul claro e confortável de se sentir e olhar para o cômodo.
Me lembrava vagamente do meu quarto e isso quase me fez chorar, querendo minha cama.

Só que minha casa era ali agora.

— Um empregado virá te buscar até o salão, aproveite para descansar, Sr. Ômega — Amélia disse num tom cortês, na verdade, a mulher de cabelos grisalhos parecia muito educada e assim como meu marido, rígida.

Ela se virou para sair e eu a chamei, envergonhado quando ela se virou para mim e me encarou com aquele olhar tão indiferente.

— Hum, por favor, falem para me chamarem de Lucerys ou Luke — informei a ela como um pedido e a mulher parecia ter ficado levemente surpresa, antes de assentir em concordância. — Certo, obrigado pela sua atenção.

E finalmente fiquei só naquele cômodo silencioso, tentando pensar em maneiras possíveis de me sentir em casa naquele ambiente, quando tudo que mais queria era fugir para sempre.
Só que se algum ômega faz isso, quem paga com a vida é sua família.

Era quase uma ameaça explícita que ficava estampada no seu rosto desde quando começamos a tentar nosso lugar naquela sociedade.
E confesso que meu pai, Harwin, poderia facilmente morrer, porque ele era alguém apoiador deste governo infame, mas não seria justo com minha mãe e irmão.

Lesath: Genes Lupus.Onde histórias criam vida. Descubra agora