CAPÍTULO 17: Escolhas ruins, desfecho pior ainda

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Porque sou apenas humana, no fim das contas
Não coloque sua culpa em mim
Human,
Rag'n'Bone Man

...

ATUALMENTE

Y A S M I N

— Bem-vinda à Boate Beija-flor, chefinha!

Meu Deus!

Eu estou paralisada, totalmente em choque e em completa estagnação ao ver o local com luzes azuis e vermelhas piscando, enquanto corpos dançam uma música eletrônica lenta e sensual como se o mundo fosse acabar. Porém, em contrapartida, há uma parte mais reservada que se encontra no mezanino onde as pessoas apenas bebem, riem, fumam e assistem aos loucos aqui em baixo.

Olho de esguelha para André, querendo estrangulá-lo por me trazer num lugar como esse.

— Eu não tenho mais idade, e muito menos empolgação, para estar numa boate, Miranda! — Vocifero em seu ouvido, uma vez que o som está tão alto que ele não ouviria se estivéssemos a dez centímetros de distância.

Meu braço direto dentro da GIC sorri ainda mais, me fazendo borbulhar de raiva por ter sido enganada. André havia dito que iríamos ter uma reunião de negócios com possíveis futuros acionistas da Alemanha, que estão interessados em nossos projetos sustentáveis, num lugar um pouco diferente do convencional. Se pensei em recusar? Mas é óbvio! Estou exausta e só quero chegar em casa para aproveitar um pouco do silêncio mórbido que venho vivendo nos últimos três dias; afinal, ainda é estranho estar numa casa tão grande quanto a mansão sem meus filhos...

Como Bruno voltara da viagem ao Amazonas a poucos dias e está de licença do hospital, ele resolveu pegar as crianças e ficar um tempo com elas na casa da praia, que compramos em Penha a alguns anos, para compensar a ausência. E eu, obviamente, fui a favor, mesmo que eles perdessem a quinta e sexta-feira de aulas.

Os meninos e Safira merecem ter a presença do pai, apesar da inimizade que cultivamos recentemente.

Você é sonsa ou o quê? Não se esqueça que praticamente se derreteu nos braços dele no dia do aniversário do seu filho na frente de todos! Minha consciência me lembra desse momento fatídico e sinto vontade de socar meu próprio rosto por sentir novamente a sensação boa de nossos corpos juntos, as batidas aceleradas do seu coração sobre meu ouvido, a cabeça apoiada na minha, as mãos que deslizaram por minhas costas com uma singela sensualidade sem que ninguém percebesse...

Nego com a cabeça antes que me renda às lembranças novamente. Como se não bastasse sentir saudades de alguém que não posso mais ter, ainda ajo como uma boba por simples toques! Bruno merece alguém melhor do que uma esposa com depressão pós-parto e outros problemas sem soluções.

— Se existe a pessoa mais burra do mundo, com certeza sou eu.

— O que disse? - Pulo de susto com a voz de André.

Sorrio forçado sem mostrar os dentes por perceber que pensei em voz alta.

— Só estou pensando em como odeio boates, então mais um motivo para ir embora. — Viro-me para sair, mas o homem de cabelos sempre escovados segura um dos meus braços para me impedir de ir.

— Nem pensar! Você irá ficar, sim, senhora Gomes! Temos uma reunião de negócios para participar, lembra?

Faço careta.

A intimida que construí em tão pouco tempo com André me assusta às vezes, principalmente por ele compensar toda a falta de comunicação que eu tenho.

Corações & ErrosWhere stories live. Discover now