CAPÍTULO 10: Ciúmes e festas são como o combo para o desastre

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Essa festa está uma merda
Gostaria que pudéssemos sair
Ir para qualquer lugar, menos aqui [...]

Vou sair pela janela agora
Porque não gosto de ninguém que está aqui
Meio que torcendo para que você me siga até lá fora
Wish You Were Sober,
Conan Gray

...

DEZESSETE ANOS ANTES

Y A S M I N

Solto uma gargalhada alta, sentindo a brisa marinha bagunçar os meus dreads à medida que jogo o corpo para trás, quase encostando as costas no telhado da casa, além do barulho ensurdecedor da música lá embaixo enquanto as pessoas bebem, se pegam e vomitam para esquecer os problemas dentro da faculdade. Ou seja, basicamente um bando de jovens adultos agindo de forma inconsequente para tentar sair da realidade e pressão miserável que a UFSC nos obriga a sentir para a tal famosa "realização pessoal".

— Bia, eu sinceramente nem sei o que estou fazendo aqui! Vim mais para dizer que não sou tão antissocial como as pessoas imaginam. — Solto uma risada por fim e finalizo o áudio para minha amiga virtual.

Conheci Beatriz Fontana num chat de conversas do Wattpad a um ano e meio, e nos demos tão bem que uma discussão amigável acerca de uma mocinha com atitudes de garota insuportavelmente chata e mimada se tornou numa bela amizade que cultivamos pelo Instagram e WhatsApp. Ela é uma das três pessoas da minha vida que sabe da minha aversão a lugares lotados e cheios de barulho.

Não me levem a mal, mas nunca fui fã de festas e as universitárias conseguem ser ainda piores devido ao alto teor de álcool nas veias de homens e mulheres seminus na beira da praia, em uma casa alugada por algum riquinho querendo atenção.

Sorrio para o pôr-do-sol a minha frente que se mistura à água do mar, fazendo um cenário belíssimo, enquanto fecho o celular e apoio as mãos na madeira que compõe o telhado da casa. Sei que não é muito inteligente e muito menos seguro ficar aqui, mas foi o único lugar que senti um pouco de tranquilidade.

— Ei! Meu biquíni, seu idiota! — Uma garota bêbada grita para um tapado por puxar a alça de cima de sua roupa de praia. Entretanto, ela apenas ri ao segurar de mal jeito a peça solta e bater no cara com a mão ocupada por uma lata de cerveja. — Se quiser ver meus peitos, terá que fazer melhor!

Uma careta instantânea surge no meu rosto.

Isso é muito nojento só de imaginar...

No fim das contas, só vim por causa da comida e ainda fiquei decepcionada pela péssima qualidade dos salgadinhos. Por mais que não participe mais de lutas para competições depois da morte de mamãe e de tia Manu, ainda mantenho uma dieta e exercícios rigosos para manter a sanidade — eles são as únicas coisas que me fazem lembrar de casa e, principalmente, do meu pai...

Ir morar num apartamento minúsculo com minha melhor amiga Camile para dividir o aluguel e ficar mais próxima da faculdade fez com que eu conseguisse ver meu velho somente nos fins de semana e olhe lá! Porém, não posso reclamar de tudo, afinal conseguir passar de primeira numa faculdade federal e estar a dois anos com notas excelentes em Engenharia Civil não são o que posso chamar de azar ou tristeza.

Ver o rosto contente de papai por ver a única filha crescendo e conseguindo conquistar as próprias coisas é de curar qualquer estresse. Além disso, ele vem me criando sozinho desde a morte da minha mãe com muito suor e dedicação ao ponto de fazer sacrifícios — como o dinheiro que paga pelo meu apartamento e alimentação —, então faço questão de ser a melhor aluna possível por ele.

Corações & ErrosWhere stories live. Discover now