Capítulo 1 - Sebastian

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— Qual é, Seb? Baratas? Não sabia que tinha medo delas. — Eu podia ouvir o riso contido em sua voz. 

— Eu não tenho. — Rebati encarando Anderson enquanto entrávamos na fila para pegar o almoço no colégio. — Mas não precisa ter medo de baratas pra ficar apavorado num caixão com elas. 

— Não te julgo por ter ficado apavorado. Parando pra me imaginar no seu lugar, eu acho que não estaria muito melhor... — Disse ele, parecendo verde só de pensar nisso. — E quanto ao enigma? Conseguiu decifrar, afinal? 

— Acha que eu estaria aqui se não conseguisse? — Apontei para a torta quente de tofu e brócolis quando a moça que servia a refeição me olhou impaciente. — Quantas vezes já faltei aula porque fiquei preso lá por dias e depois você teve que me levar pra emergência? 

— Umas quatro, cinco? —

 Sete. No último semestre. — Virei para as mesas e sentei no mesmo lugar de sempre. A cadeira de costas para a porta, junto à janela. Andy parecia confuso se sentava à minha frente ou ao meu lado, sendo aquela uma mesa pequena que dava apenas para duas pessoas. 

— Ah, certo. — Prosseguia ele, decidindo-se por ficar à minha frente, afinal. — E? Nenhuma novidade sobre a... — Ele se inclinou para frente, aproximando o rosto do meu. Engoli em seco enquanto mirava os olhos sobre a pele escura. — A demônia? 

— Demônia, Andy? 

Revirei os olhos, retornando meu corpo mais para trás e me arrependendo imediatamente daquela simples ação. Graças aos danos ao meu campo espiritual causados pelas torturas sofridas em sonho na noite anterior, cada centímetro do meu corpo doía e latejava. A sensação era como a de centenas de beliscões por toda minha pele. As marcas precisaram ser cobertas com um casaco de mangas longas. 

— Não. Ainda não encontrei nenhuma pista útil sobre a Menguant. — Respondi com esforço, após me recuperar. 

— Hoje à noite posso ir à sua casa, te ajudar. Mas terei que dormir lá, tudo bem? — Andy ergueu as sobrancelhas indagando. Apertei o garfo com mais força, levando um pedaço da torta para a boca para disfarçar a tensão. 

— Sem problemas com seus pais? — Perguntei depois de engolir a torta e um gole de suco. 

— Nenhum. — Ele deu de ombros. 

— Sabe que me preocupo. Não sei se é seguro você me ajudar tanto nisso. E se Menguant aparecer do nada e te colocar nessa também? 

— Não era você quem dizia que falar o nome dela era perigoso? — Ele sorriu e eu perdi um compasso da respiração. 

— Ah, foda-se. Ela já fode a minha vida todas as noites sem eu falar seu nome. 

— Enfim, ela não vai me colocar nessa. Por que não pensa mais em você? Sei que é difícil não se preocupar quando a gente está apaixonado pela pessoa, mas... 

Quase cuspi o suco na cara dele. 

— Não sou apaixonado por você, seu idiota. Você é meu amigo e não quero que você se foda. 

— Tem certeza dessa parte? — Ele sorriu lascivamente erguendo uma sobrancelha. Minha cara era puro choque. — Ei, ei. Estava brincando. 

— Idiota. — Por que fica tão nervoso quando eu brinco sobre isso? Por acaso você é homofóbico? 

— Vai se fuder, Andy. Eu... Só estou num momento em que não consigo diferenciar brincadeiras de verdades, está bem? 

— E se fosse verdade? — Ele ficou sério. 

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⏰ Last updated: Feb 29 ⏰

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Lua MinguanteWhere stories live. Discover now