— Qual é, Seb? Baratas? Não sabia que tinha medo delas. — Eu podia ouvir o riso contido em sua voz.
— Eu não tenho. — Rebati encarando Anderson enquanto entrávamos na fila para pegar o almoço no colégio. — Mas não precisa ter medo de baratas pra ficar apavorado num caixão com elas.
— Não te julgo por ter ficado apavorado. Parando pra me imaginar no seu lugar, eu acho que não estaria muito melhor... — Disse ele, parecendo verde só de pensar nisso. — E quanto ao enigma? Conseguiu decifrar, afinal?
— Acha que eu estaria aqui se não conseguisse? — Apontei para a torta quente de tofu e brócolis quando a moça que servia a refeição me olhou impaciente. — Quantas vezes já faltei aula porque fiquei preso lá por dias e depois você teve que me levar pra emergência?
— Umas quatro, cinco? —
Sete. No último semestre. — Virei para as mesas e sentei no mesmo lugar de sempre. A cadeira de costas para a porta, junto à janela. Andy parecia confuso se sentava à minha frente ou ao meu lado, sendo aquela uma mesa pequena que dava apenas para duas pessoas.
— Ah, certo. — Prosseguia ele, decidindo-se por ficar à minha frente, afinal. — E? Nenhuma novidade sobre a... — Ele se inclinou para frente, aproximando o rosto do meu. Engoli em seco enquanto mirava os olhos sobre a pele escura. — A demônia?
— Demônia, Andy?
Revirei os olhos, retornando meu corpo mais para trás e me arrependendo imediatamente daquela simples ação. Graças aos danos ao meu campo espiritual causados pelas torturas sofridas em sonho na noite anterior, cada centímetro do meu corpo doía e latejava. A sensação era como a de centenas de beliscões por toda minha pele. As marcas precisaram ser cobertas com um casaco de mangas longas.
— Não. Ainda não encontrei nenhuma pista útil sobre a Menguant. — Respondi com esforço, após me recuperar.
— Hoje à noite posso ir à sua casa, te ajudar. Mas terei que dormir lá, tudo bem? — Andy ergueu as sobrancelhas indagando. Apertei o garfo com mais força, levando um pedaço da torta para a boca para disfarçar a tensão.
— Sem problemas com seus pais? — Perguntei depois de engolir a torta e um gole de suco.
— Nenhum. — Ele deu de ombros.
— Sabe que me preocupo. Não sei se é seguro você me ajudar tanto nisso. E se Menguant aparecer do nada e te colocar nessa também?
— Não era você quem dizia que falar o nome dela era perigoso? — Ele sorriu e eu perdi um compasso da respiração.
— Ah, foda-se. Ela já fode a minha vida todas as noites sem eu falar seu nome.
— Enfim, ela não vai me colocar nessa. Por que não pensa mais em você? Sei que é difícil não se preocupar quando a gente está apaixonado pela pessoa, mas...
Quase cuspi o suco na cara dele.
— Não sou apaixonado por você, seu idiota. Você é meu amigo e não quero que você se foda.
— Tem certeza dessa parte? — Ele sorriu lascivamente erguendo uma sobrancelha. Minha cara era puro choque. — Ei, ei. Estava brincando.
— Idiota. — Por que fica tão nervoso quando eu brinco sobre isso? Por acaso você é homofóbico?
— Vai se fuder, Andy. Eu... Só estou num momento em que não consigo diferenciar brincadeiras de verdades, está bem?
— E se fosse verdade? — Ele ficou sério.
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Lua Minguante
Teen FictionLIVRO DISPONÍVEL NA Amazon (código: B0CH5WNB6J) Após descobrir, aos dezoitos anos, uma maldição que corre em sua família e que matou seus pais quando ele tinha apenas sete, Sebastian Cruz se une a Anderson Miguel, seu grande amigo de infância e, ago...