Capítulo Quatro

122 19 11
                                    

Strong não sabia exatamente que horas eram, mas o sol já se fazia presente no céu havia horas. O macho se encontrava em silêncio sentado em sua cama e nas mãos detinha um exemplar de "A Bela e a Fera". No dia anterior, o macho tinha mentindo para Selene sobre a origem do objeto que tinha, não queria admitir para a fêmea que havia se encantado com a história e desde então começou a ler o conto. Ele estava fascinado pela história, já tinha lido umas três vezes desde então.

Assim como o príncipe Adam, Strong se perguntava se um dia deixaria de ser uma fera e passaria a ser bem visto pelos olhos de Selene. Mas, o macho achava isso muito difícil. Ao contrário do príncipe do conto, Strong jamais conseguiria defender, cuidar, e sobretudo, proteger Selene... não estando naquela situação.

Ao longo dos anos na força tarefa, Strong tinha conhecido vários novas espécies que perderam os movimentos das pernas ou tiveram que amputar algum membro. Strong não dentina nenhuma repulsa a isso, muito pelo contrário. Entretanto, por ser sempre ativo e considerado um guerreiro, era difícil se adaptar e aceitar o que o destino lhe impôs.

O macho suspirou alto e colocou o livro na escrivaninha de madeira localizada ao lado da cama. E, pela primeira vez em semanas, Strong trocou a cama por uma cadeira de rodas motorizada e muito moderna. Como Selene ainda não tinha chego, ele resolveu acender as luzes do andar de cima para facilitar a locomoção da fêmea e também arrumou um pouco do espaço.

Sem nenhuma pretensão, Strong resolveu prender em um coque seus cachos castanhos e aparou um pouco da vasta barba que tinha. Será que a fêmea iria reparar nisso, pensou. Após isso, vestiu um conjunto de roupas cinzas e retornou a cama, o macho sempre gostou de cores neutras e após tudo que havia acontecido passou a usar muitas roupas pretas. Estava ansioso para ver novamente Selene, sabia que não tinha sido muito educado na última vez que a viu, porém queria dessa vez causar boa impressão a fêmea.

De todos os fisioterapeutas que Strong já teve, no total uns quinze desde o acidente, Selene era a única que talvez o macho sentisse vontade de se aproximar e facilitar a fisioterapia. Contudo, ainda era novo querer tanto uma fêmea mas ao mesmo tempo sentir medo de chegar tão perto. Para o macho, Selene era perfeita, sua pele marrom sempre o favia salivar para saber qual seria o gosto de sua pele macia em sua boca, seus cabelos faziam o ter vontade de passar suas mãos por horas e a sua voz o chamava sempre a atenção. Strong queria sempre mais da fêmea, porém sabia que não podia retribuir.

A lua e as estrelas já brilhavam quando Strong desistiu de esperar a fêmea. Talvez como as demais, Selene tinha desistido dele. Ora, não tinha sido tão mau com ela, mas também nem um pouco simpático. Strong estava se sentindo frustrado e decepcionado, mas não com ela, e sim com ele. Ele tinha afastado a única fêmea do qual queria perto.

Com medo do cheiro de capim limão sumir, Strong farejou o ar ainda tentando sentir aquele aroma fresco e tropical. Contudo, aquele quarto estava marcado pelo perfume amadeirado de Strong que se mesclava com o fedor de seu próprio medo e angústia. Aos poucos, Strong foi se escorregando pela cama até se deitar de lado, ele posicionou suas pernas de modo que ficassem encolhidas e deu um longo suspiro antes de tentar dormir. Talvez durante o sono poderia esquecer da instigante fêmea.

Era muito tarde quando Selene foi interrompida de sua leitura noturna, logo na parte em que a mocinha da história finalmente beijava o herói caído. A jovem suspirou cansada e pegou o celular que estava depositado em sua cama.

- Alô? - Ela não fazia ideia de quem seria aquela hora da noite, até sua chegada em Homeland ninguém havia ligado para ela.

- Olá, aqui é o Flame. Tudo bem? Enfim, não dá pra demorar muito. - O macho suspirou pesado do outro lado da linha. - Na central de atendimento de Homeland houve um sinal de emergência da casa de Strong, eu fui notificado para averiguar a casa dele. O macho está muito mal, Selene. A doutora já foi lá, mas ele estava chamando por você. - Flame parecia meio desesperado e suas palavras saiam apressadas. - Você pode ir lá? É urgente, ele tá mal, febril e um pouco delirante. Justice autorizou que eu te notificasse sobre isso, sei que não é a sua área. -

Ao escutar as palavras de Flame, Selene pulou da cama e pegou a bolsa que tinha deixado pendurada em um cabide, passou a arrumá-la com tudo que achava necessário.

- É claro, Flame. Eu só preciso me arrumar e vou lá correndo. - As duas palavras também saíram meio arrastadas da boca.

Selene pegou uma blusa branca jogada na cama e passou pela cabeça, soltou os cabelos e passou as mãos tentando arrumar as madeixas embaraçadas.

- Já estou indo aí te deixar lá, só precisava saber se estava livre e disposta. - Ao fundo se escutava o som de um motor sendo ligado, provavelmente Flame estava indo a buscar naqueles carrinhos de golfe.

- É claro, para Strong estou sempre a disposição. Vou terminar aqui rápido.- De um modo nada cordial, a ligação foi cortada. Afinal, naquele momento não tinha como haver formalidades e ambos sabiam disso.

Embora se faziam meses do acidente de Strong, seu caso era delicado e a febre poderia significar algum agravamento, como alguma infecção ou instabilidade emocional. Apesar de ser apenas sua fisioterapeuta, Selene tinha estudado o caso de Strong com muita delicadeza e se aventurado em outras áreas clínicas para tentar compreender e cuidar do macho como o mesmo necessitava. Homeland pagava muitíssimo bem, era o maior salário até então de Selene, e eles faziam questão de oferecer o máximo a ela para cuidar do macho.

A jovem mulher acabou de se arrumar colocando uma calça de moletom preta e um tênis da mesma cor de corrida. Por fim, saiu as pressas carregando a bolsa médica que tinha arrumado. Mau conseguia esperar a chegada de Flame, seu coração disparava a todo vapor e sua perna tremia em um tique nervoso. Flame chegou após 5 minutos e a levou rapidamente, a deixou em frente ao dormitório de Strong e retornou ao seu posto. Apesar de tudo, Flame não teve autorização para largar sua posição no portão e Justice confiava no trabalho na médica que já tinha atendido Strong e em Selene.

A jovem mal conseguia respirar pela boca, subiu as escadas correndo e nem havia percebido que as luzes da casa estavam pela primeira vez acesas. Ao chegar no quarto de Strong, o encontrou dormindo de barriga pra cima, os cabelos espalhados pelo travesseiro e sua testa brilhava pelo suor. Olhou todo o cômodo mas a médica já havia ido, não duvidava que o macho tinha a expulsado ou qualquer outra pessoa que tentou o fazer companhia.


- Selene. - Ele murmurou, sua expressão era de dor e agonia. Seus lábios estavam pálidos e secos, e o corpo trêmulo estava coberto por um grosso edredom marrom. Selene sabia que a capacidade de aquecimento corporal do macho era alta, afinal era um canino. Mas, a coberta presente ali significava que seu tremor era pelo frio. - Selene.- A voz antes rouca saiu em um sussurro fraco e... necessitado.

Então, Selene foi ao seu encontro.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Mar 15 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Strong - Novas Espécies Where stories live. Discover now