Capítulo 4: Texas Hold'em

313 51 10
                                    


Helena

Volkov parecia ter o poder para se comportar assim.

Olhei para a casa com fachada deslumbrante, me forçando a não vomitar quando avancei pela entrada sendo seguida por Volkov. Quando sai do carro fui seguida por ele e, nem por um segundo, escondeu sua curiosidade ao avançar atrás de mim. Tudo para ele era um entretenimento, um programa onde não importava a protagonista, contanto que o satisfizesse.

Abri a porta com a chave extra, deixada embaixo do vaso de flores ao lado da entrada, avancei sem ligar a luz. Aprendi da pior forma o quanto o ser humano é facilmente adaptável com o passar do tempo. Se não houver luz, os olhos, aos poucos, se acostumam com a escuridão como se tentasse compensar algo e estimular a sobrevivência. Se estiver em um lugar com baixo oxigênio, a tendência é o corpo se acostumar lentamente mesmo que fique sobrecarregado no inicio. O maior objetivo do ser humano é sobreviver, independente, do sofrimento e as dores. E isso sempre me soou irônico.

Para que serve a sobrevivência do corpo quando a alma foi destruída?

Evitei olhar para os moveis, os quadros embelezando as paredes enquanto caminhava silenciosamente em direção ao único quarto ocupado. Abri a porta, ignorando completamente, os murmúrios confusos do homem atrás de mim ao seguir para a cama e pegar uma pequena bolsa, onde continha meus únicos bens no mundo.

— Podemos ir. — Olhei para a expressão, um tanto, confusa de Lakis sem ficar curiosa sobre o motivo. Quando estava prestes a empurrá-lo para sair do quarto, passando pela porta, sua mão agarrou meu pulso. Por mais indiferente minha expressão estivesse, maior era a confusão ao encará-lo. Seus olhos permaneceram em meu rosto como se tentasse ler minha mente ou, simplesmente, avaliar tudo visto. Uma residência bem mobiliada contrastava com o vazio do meu quarto, onde apenas uma cama simples e um guarda roupa permaneciam.

Nem mesmo havia uma cortina nas janelas de vidro.

— Há algo?

Questionei sem me afastar, silenciosamente, permitindo sua atitude irracional. Sua mão começou a apertar meu pulso com mais força e uma marca seria adicionada ao final. Mais uma marca não faria diferença e, honestamente, nem sentia dor.

Os olhos dele continuaram me encarando fixamente, como se buscasse resposta para algo inexistente. As pessoas sempre eram assim; tolas em busca de algo ilusório.

— O que pretende?

Ele perguntou sério. Não sabia o motivo ou o que tinha o feito reagir, mas sorri em resposta. Já tinha falado o meu objetivo e ele ainda continuava imaginando, inventando motivos absurdos, a fim de satisfazer sua curiosidade sobre o motivo que me levou a me aproximar dele, provavelmente era isso que se passava pela sua mente. Dei um passo a frente, praticamente colando nossos corpos. Senti o cheiro de cigarro, uísque e de sua colônia.

— Se está com medo, apenas diga. — Sorri sem tirar meus olhos dele. — Meu único objetivo é destruir Rossi, ou seja, não me importo com você. Eu quero usá-lo para destruir o meu inimigo, estamos em uma relação de cooperação. Por qual motivo iria ferir meu aliado?

— Não foi isso que questionei.

— Mas foi o que pensou.

Dei de ombros. Desprezava pessoas tolas ao ponto de acreditarem em suas próprias mentiras. Esperei que me soltasse e, inesperadamente, sua outra mão foi em direção a minha cintura. Franzi a testa, imaginando formas de afastá-lo quando escutei seu riso.

— Helena, não tente imaginar o que tenho em mente. Isso será um tempo desperdiçado. — A forma como ele sorria parecia ter um pouco de mistério e perigo. Permaneci parada vendo seu rosto se aproximar do meu, sabendo sobre tudo ser uma provocação. Nos olhos dele era inexistente qualquer atração física em relação a mim.

A impressão era como se eu fosse um animal indefeso sendo encurralado pelo caçador, mas ele não tinha ideia do quão perigoso era o pobre animal. Curveis os lábios em um sorriso indiferente, despreocupada pela proximidade de nossos corpos ou em seus possíveis motivos para agir daquela forma.

Provocação, intimidação e sedução foram coisas que aprendi ao ser forçada a entrar em um mundo obscuro. César Alessandro Lakis parecia confiar cegamente em minha, suposta, impotência e que sem ele não conseguiria fazer nada.

Fiquei na ponta dos pés, aproximando nossos rostos e falei perto o suficiente para sentir sua respiração, sem me preocupar com sua expressão.

— Lakis, não está curioso sobre como o reconheci ou desconfiei de sua identidade?

Por mais animada, meus sentimentos ao vê-lo atordoado eram simples. Tinha perdido a capacidade em sentir felicidade, alegria e qualquer outra coisa além do ódio. Talvez tivesse deixado de ser humana, afinal seres humanos eram conhecidos pela sua capacidade de amar e perdoar, algo que tinha perdido.

— Se pedir, implorar, posso falar. — Provoquei, sussurrando, quase colando nossos lábios. E nunca tirei meus olhos dos dele.

— Garotinha, isso não é provocação. — Lakis disse parecendo calmo ao sorrir. Em um momento rápido, seus lábios grudaram nos meus, sua língua contornou minha boca antes dele se afastar. — Precisa aprender a provocar um adulto. E imagino que há duas possíveis razões para conhecer minha identidade: a primeira é sobre nos conhecermos antes e a segunda é alguém ter lhe dito. E considerando o fato de você ter ficado presa ao Rossi, imagino que a segunda possibilidade é muito remota, restando à primeira.

Fiquei em silencio, me forçando a manter a calma quando sentia vontade de me afastar dele.

Alessandro Lakis era tão assustador quanto os rumores, mas isso não fazia diferença para mim.

— Então, se for verdade, como nos conhecemos? — Perguntei com curiosidade. Qual seria a hipótese criada por ele para validar seu argumento? Passei a língua pelos lábios em uma tentativa de molhar meus lábios secos e diante do olhar semicerrado dele, sorri. — Deveria tomar mais cuidado comigo, afinal ainda há muita coisa que desconhece e não queremos que se machuque.

A adrenalina percorria meu corpo, instigando-mea ir cada vez mais além naquele jogo doentio e perigoso. Quanto maior era aaposta, maiores eram os ganhos e eu queria apostar tudo; minha vida e meu únicodesejo.

CONTINUA...

Minha ObsessãoWhere stories live. Discover now