- Gosto da tua abordagem direta. É refrescante. - disse ela, depois de eu lhe sussurrar algo obsceno, que só alguém como ela acharia atraente.

- A vida é demasiado curta para rodeios. - respondi, observando-a atentamente, enquanto ajustava o vestido azul-claro que realçava as suas curvas generosas.

- Então, o que te traz a esta festa? Além de mim, claro. - perguntou ela, rindo de forma sugestiva, como se tivesse acabado de fazer alguma piada merecedora de gargalhadas.

- Estava à procura de diversão, claro. E parece que encontrei a pessoa certa para isso. - repliquei, enquanto nos sentávamos num sofá que ficava no centro da biblioteca.

Os seus olhos claros, seguiam os movimentos das minhas mãos, que agora encontravam um passe livre para tocar na sua coxa nua. Estávamos a poucos centímetros de distância, e o seu perfume apesar de ser forte demais para o meu gosto, inebriou-me. Aproximei os meus lábios da sua pele e beijei a sua clavícula, uma e duas vezes, enquanto a sentia arquejar a meio de um suspiro pesado.

- Já me tinham falado de ti... - deixou escapar num tom quase inaudível.

- Ai sim? – perguntei, subindo os meus beijos para o seu queixo – E o que te disseram?

- Para me manter afastada.

Estranho seria se lhe dissessem o contrário.

Sorri, procurando os seus lábios, que me receberam já entreabertos. A atmosfera carregada de sensualidade aumentava à medida que nos beijávamos. Era um beijo ansioso e selvagem.

Enquanto explorava o corpo dela, a imagem da Anna encurralada entre os meus braços e a parede, ressurgiu na minha cabeça. Senti-me momentaneamente traído pelos meus próprios pensamentos. Tentei afastá-los, focando-me na mulher diante de mim, mas a sombra da Anna persistia, como uma recordação indesejada. Queria concentrar-me na mulher cujo corpo eu acariciava, mas nem os seus lábios macios, me conseguiam distrair.

Eu sabia que não era justo para ela. Ela merecia toda a minha atenção sem reservas. Mas como poderia eu me entregar completamente quando eu não conseguia parar de pensar na minha meia-irmã.

Levantei-me de rompante, sentindo-me estranho, como se estivesse a fazer algo que não era suposto. O que diabo se estava a passar comigo?

A loira olhou para mim sem entender nada e eu também não fiz questão de a esclarecer. Precisava de sair dali. Precisava de me ir embora, já!

Caminhei pelo corredor deserto em direção ao terraço outra vez, enquanto tentava processar o turbilhão de emoções que me assaltava. Ao alcançar o terraço, deparei-me com a Anna, sozinha, como se o destino tivesse conspirado para nos colocar frente a frente.

Destino? Desde quando é que eu acreditava em merdas dessas...

O olhar dela encontrou o meu, e por um momento, ficamos ali, em silêncio, a tentar decifrar o que estava a acontecer.

- Anna, eu... - comecei, mas as palavras falharam-me. Sentia-me vulnerável e desconfortável.

- O que é que está a acontecer aqui, Leonardo?

Eu queria dizer-lhe que não aguentava mais, que a presença dela estava a mexer comigo de uma maneira que eu não conseguia controlar. Queria confessar que estava consumido de ciúmes, por ela ter comparecido à festa com alguém e que cada momento que passava ao lado dela só aumentava a minha necessidade de a tocar. No entanto, as palavras pareciam desafiar-me, recusando-se a sair.

- Sinto-me...estranho. – disse simplesmente, evitando a confissão que eu pretendia fazer.

A Anna olhou-me nos olhos, e por um breve instante, a tensão entre nós cedeu lugar a uma faísca de compreensão mútua. A vontade de beijá-la não era apenas um desejo, mas uma força incontrolável que gritava por ser libertada. Era como se cada fibra do meu corpo estivesse sintonizada em direção aos lábios dela.

As minhas mãos encontraram o rosto dela, como se agissem por vontade própria, acariciando suavemente a sua pele macia. Sob o toque, pude sentir as tensões crescerem dentro de mim.

- Eu. Vou. Beijar-te. Agora. - informei-a. A minha voz soou rouca e carregada de uma urgência que mal conseguia conter. Era como se as palavras fossem uma promessa sussurrada ao vento.

Olhei nos olhos dela, à procura de encontrar alguma resposta, algum sinal de consentimento ou reciprocidade. A sua respiração vacilou contra a minha e eu soube que aquele era o seu pedido, para que eu prosseguisse.

Ao encostar os meus lábios nos dela, era como se eu estivesse a libertar um desespero contido por demasiado tempo. A princípio, ela limitou-se a abrir espaço para que a minha língua invadisse a sua boca, mas não levou muito tempo para que a urgência do beijo, fosse correspondida.

Cada movimento dos nossos lábios era uma busca fervorosa por algo que ansiava há semanas. Era a liberação desesperada de sensações, como se eu estivesse a reprimir um oceano, e finalmente permitisse que as suas ondas arrebentassem, consumindo-nos completamente.

Caminhámos juntos sem quebrar o beijo, até que a pressionei contra a parede mais próxima. Estávamos a continuar aquilo que começamos ontem. O beijo ficou mais intenso, como se estivéssemos a tentar compensar todas as semanas de antecipação em um único momento.

Explorando cada canto do seu corpo, as minhas mãos procuravam senti-la desesperadamente, enquanto a parede fornecia o suporte necessário para os nossos corpos. O beijo era a única linguagem que importava agora, era como uma troca silenciosa de desejos. As respirações ofegantes misturavam-se, criando uma atmosfera carregada.

Com um suspiro compartilhado, finalmente quebramos o contacto. Olhei para a Anna com uma mistura de surpresa e satisfação, e um sorriso traquina brincou nos meus lábios.

- Pensei que ias dar mais luta. - comentei, olhando nos olhos dela - Mas afinal, estavas tão desesperada por me beijar quanto eu.

O sorriso desapareceu do meu rosto ao perceber a irritação nos olhos dela e, em um tom de voz firme, disparou: - És um idiota de merda. É isso que tu és!

A palavra ressoou no ar como um golpe, carregada de desapontamento e raiva contida.

- Nunca mais, Leonardo. Podes ter a certeza que esta foi a última vez que me tocaste.

A expressão dela transmitia uma determinação fria, como se a linha que nos unia tivesse sido abruptamente cortada.

Ela estava chateada?

- Não acredito que por um segundo, achei que não eras o idiota que pintas ser. – ela negou com a cabeça, completamente destabilizada – Não me voltes a dirigir a palavra. – disparou com frieza.

Observei-a sair do terraço, da mesma forma que saiu do meu quarto ontem à noite, só que desta vez, senti um vazio instalar-se, com a certeza de que as suas palavras não eram apenas frias, eram sentidas. 

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