QUATRE. amoreco

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Aproximadamente às seis da manhã, eu decidi ir comer, eu lembrei que não tinha comido quase nada no dia anterior. Coloquei água para esquentar e fui até a gaveta, encontrando uma sacola de pães franceses. Peguei um deles e cortei na metade, depois peguei um prato e coloquei ele dentro do prato. A água começou a borbulhar e acabei passando o café, depois coloquei ele para ferver e fui para a direção da geladeira, tirei uma fatia de queijo branco fatiado e outra de peito de peru coloquei no pão, depois fechei aquele sanduíche e coloquei um pouco de café preto em uma caneca.

Leonardo saiu do estúdio e me encontrou na cozinha, ele tinha olheiras e um baseado entre os dedos que ainda não estava aceso. Ele sorriu fraco e se sentou ao meu lado, depois acendeu o cigarro.

Eu queria dizer que aquilo me incomodou, mas seria mentira e, talvez, isso estivesse me incomodando, eu estava me sentindo confortável e bem ao lado dele, eu não estava gostando daquilo, ou estava, não sabia ao certo como me sentia sobre aquilo.

Nós ficamos em silêncio e aquilo foi bom, a presença dele me trazia conforto, mas era impossível não lembrar que eu tinha um namorado, mesmo que nós não estivéssemos nos falando no atual momento. Era difícil admitir, mas meu namoro não estava nos seus melhores momentos, nós quase não nos falávamos e, bem, digamos que isso já estivesse acontecendo há um tempo considerável.

— Eu dormi muito? – ele perguntou e soltou a fumaça para o ar.

— Normal.

— Seu namorado não fica com ciúme de você passar tanto tempo com outros caras?

— É meu trabalho.

— Eu sei, mas, sei lá, se fosse minha namorada, acho que eu ficaria com ciúme – murmurou.

— Ele não tem nem motivo para ter ciúme.

— Por que ele não teria motivo? Tipo, eu não te vi falando com ele por ligação até agora e, bem, se tivesse uma namorada bonita igual você, eu provavelmente morreria de ciúmes dela.

— Ele não é ciumento.

— E você? Você é ciumenta? – eu ri e ele acabou deixando um sorriso de canto aparecer. Meu Deus. Ele é charmoso, não é?

Não. Ele não é charmoso.

— Não sou, pelo menos não com ele.

— Como assim "não com ele"?

— Sei lá, não tenho ciúme dele. Eu já tive, mas, depois de passar tanto tempo em um relacionamento, só... Sei lá...

— Você é engraçadinha, às vezes, – ele leva seu dedo indicador curvado encostando a cabeça do metacarpo na minha bochecha – sei lá, te acho fofa.

— Você é meio estranho, sabia?

— Dudu sempre diz isso. Seu namorado fala que você é fofa?

— Mais do que você imagina – murmurei – você gosta de perguntar sobre meu namoro, né?

— Você quer que eu pergunte sobre o que?

— Sei lá, eu sou mais que o meu namoro.

— Você fez ou faz faculdade?

— Comecei música, mas larguei, e você?

Ele riu e negou com a cabeça.

— Eu malmente acabei a escola, quem dirá faculdade.

Eu ri e dei um gole no meu café.

— Você fuma? – nego com a cabeça.

— Não com frequência.

— Por que não? – dei os ombros.

— Só não tenho costume, e você?

— Confesso que tenho me segurado para não fumar tanto na sua frente.

— Por que?

— Acho que você se assustaria.

— E você tem medo de me assustar?

— Para ser honesto, sim, eu tenho um pouco.

— Não precisa disso, nossa relação é profissional, você não precisa ter medo de me assustar, contanto que ele as drogas embora da minha casa e não tenha uma overdose aqui, eu não tô nem aí.

— Eu gosto de você, é por isso que eu não quero te assustar.

Escutei meu celular tocando em um lugar distante, utilizei isso como deixa para me afastar dele, eu tinha namorado, eu não podia dar aberturas para essas interações.

Quase como um choque de realidade, era o meu namorado. Eu respirei fundo e tentei me concentrar para entrar na personagem de namorada que estava morrendo de saudades dele invés da que estava feliz por ele estar longe já que eu sabia que, quando ele voltasse, meu amor retornaria mais intenso do que da última vez que ele me deixou.

— Oi, meu amor – falei assim que atendi.

— Oi, amoreco – ele responde com uma voz carinhosa. Eu sou uma pessoa horrível, literalmente.

— Como você está? – perguntei e me sentei na cadeira giratória do estúdio.

— Bem, só morrendo de saudade de você.

— Eu também tô.

Eu não estava.

— O que você tem feito?

— Trabalhando com um artista novo para o álbum dele. Nada fora do comum, e você?

— Ah, sei lá, o mesmo de sempre.

— Que seria?

— Você sabe, estudando, ficando em casa, encontrando algumas pessoas aqui e ali, nada demais.

— E o que você fez ontem?

— Ah, nada, Moreco.

— Nada? Então você passou o dia deitado olhando para o teto? – ele riu.

— Eu fui para aula, almocei, estudei, escrevi mais uma parte da minha tese, sai com uns amigos, jantei e dormi.

— Para onde vocês saíram? – perguntei tentando ser interativa.

Conversar com o João era quase como monologar, ou só eu falava, ou eu precisava instigar ele a falar, era difícil e cansativo, mas, depois de um tempo vivendo com isso, você se acostumava.

— Para um barzinho aqui perto.

— E não aconteceu nada demais? Tipo, sei lá, briga de bar, fofoca?

— Ah, sei lá, Amor. Eu tô cansadinho, acho que vou desligar, ok?

Ainda bem.

— Ah, já, Amor?

— Sim, já ta tarde aqui, preciso dormir, tchau.

E, assim, a ligação foi desligada. Eu virei a minha cadeira na intenção de me retornar para o cômodo onde estava o Léo, mas notei que ele já estava na porta do estúdio, ele parecia um pouco incomodado com a minha ligação, era visível que ele tinha uma opinião, mas não queria falar.

Nós começamos a gravar outra música, dessa vez, eu me mantive acordada durante toda a gravação, o que foi bom porque me fez poder apreciar a sua voz, mas eu também não gostei daquilo. Eu não queria essa proximidade, eu não queria sentir esse conforto, eu não queria querer estar perto dele.

melodramaWhere stories live. Discover now