UN. refúgio

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Acordei sentindo cheiro de cigarro, olhei para o lado vendo o Leozin na minha sacada de casa com um prensado entre os dedos. Ele estava sem camisa e seu cabelo estava bagunçado, tinham algumas marcas nas suas costas e ele parecia não ter notado que eu já estava acordada.

Eu nunca soube ao certo o que eu queria, eu sempre amei meu namorado, mas era inegável que eu sentia choques elétricos quando olhava para ele. Eu sabia que aquilo era só química, mas eu não podia fazer nada.

— Léo – chamei o garoto, ele se virou para mim e sorriu, depois apagando seu cigarro e jogando pela janela.

— Acordou, lindinha? – ele perguntou o óbvio, depois se deitou do meu lado.

Nós dois estávamos de roupa. Eu não traí meu namorado. Pelo menos não ainda. Ele passou sua mão no meu rosto com carinho, como se quisesse cuidar de mim. Eu via o Leonardo como um garoto, não como um homem, mas eu queria ser protegida por ele, ele fazia eu me sentir delicada e indefesa, mesmo que eu soubesse que eu não era isso.

— Cadê o seu namorado, huh? – ele perguntou, eu dei os ombros e ele colocou sua mão na minha coxa com cuidado, acariciando aquela região. Era errado. Eu sabia disso. Mas eu não queria que ele parasse – ele te deixa muito sozinha, você precisa de alguém mais presente, não acha?

— Léo? – pergunto intimidada. Meu coração batia forte e eu sentia que iria surtar a qualquer momento.

— Você é delicada demais para ficar tanto tempo sozinha, alguém precisa cuidar de você, não acha? – seus dedos subiram pela minha cintura, ele acabou ficando por cima de mim e deixando minhas pernas ao redor do seu corpo, ele beijou meu pescoço com isso e eu senti aquela região arrepiar.

— Eu namoro – sussurrei, eu queria me lembrar disso, mas era difícil.

— Infelizmente não é comigo – ele respondeu.

Eu me senti a Bella de Crepúsculo, eu queria chorar de tesão. Eu sabia o que eu queria, eu só estava com muito medo de o que eu precisava fazer para chegar na minha vontade momentânea.

Ele me beija e acaba o meu sofrimento, eu aperto minhas pernas ao redor da sua cintura e agradeço mentalmente pelas estrelas pulando e o fogo acendendo dentro de mim.

Duas batidas na minha porta. Eu abro os olhos. Leonardo não estava ali e meu quarto estava um breu. Eu sonhei com o Leonardo. A batida na porta foi ouvida por mim mais uma vez, decidi colocar uma blusa que eu achei jogada pelo chão escuro e pego um short de pijama, depois vou até a porta, a maçaneta estava fria, eu não queria abrir a porta, mas sabia que eu precisava. Era o João. Ele estava usando uma blusa azul que eu dei de presente para ele e uma calça moletom cinza, eu abracei ele com força e fechei os olhos, depois falei para mim mesma de que eu estava finalmente em casa, que ele era a minha casa.

Eu tinha dificuldade de lembrar que eu amava meu namorado. Mas eu amava, e amava muito.

— O que você tá fazendo aqui? – perguntei rindo enquanto sentia seu cheiro invadindo minhas narinas.

— Você sempre reclama que eu nunca faço surpresas, dessa vez eu vim fazer.

Ele beija o topo da minha cabeça e eu sinto a culpa invadir meu corpo, eu era um monstro.

Eu tinha um namorado que me amava e queria fazer algo legal por mim, mas, cinco minutos antes disso, eu estava sonhando com o Leozin, com a possibilidade de ele me beijar e tocar em mim, a ideia de que ele talvez pudesse sentir algum interesse em mim.

O Leozin era uma dúvida, sentir aquela confusão que minha mente estava me convencendo de que eu vivia trazia algum ânimo para minha vida e rotina entediante. Ele era divertido e proibido, ele representava o tipo de homem que eu fugi a minha vida inteira e aquilo fazia meu coração acelerar, ao contrário do meu monótono namoro, meu namorado me amava de uma forma normal, não desesperada como eu queria ser amada.

Meu namorado falou para mim sobre a viagem, sobre seu lanche de avião péssimo, sobre as turbulências e a criança chorando no voo que dificultou a sua soneca. Nós ficamos deitados no sofá conversando até o Leonardo chegar, eu acabei tomando um banho rápido sem lavar o cabelo.

O João ficou sentado no estúdio enquanto observava nós dois trabalhando no beat para a próxima música, eu evitava olhar para o Leonardo, meu namorado não era burro e eu não queria magoá-lo, eu sabia que era óbvio pelo meu olhar que tinha algo diferente no meu olhar para o Leozin.

Quando acabamos o beat e a letra, ele colocou os fones de ouvido e começou a gravar os vocais, eu me levantei e fui até a cozinha com o objetivo de fugir dos dois, eu não queria olhar para o meu namorado, eu estava com medo de ele notar que tinha algo diferente em mim desde a última vez que ele me deixou na grande São Paulo e também queria fugir do que eu estava sentindo quando passava mais de cinco segundos olhando para o Leonardo.

— Você está estranha – João falou.

— Sede – respondi simples e ele confirmou com a cabeça.

— Você gosta dele?

— De quem? – perguntei e ele deu os ombros.

— Leozin.

— Como artista?

— Vocês aparentam se dar muito bem – evitou responder a minha pergunta – ele é amigo do Dudu?

— Sim, sim. O Dudu que me indicou para ele.

— Você gosta dele? – repetiu a pergunta – do Leozin, vocês são amigos ou algo assim?

— Ah, entendi, desculpa. Somos, somos amigos, bons amigos, ele é bem... Como se fala?

Carinhoso, encantador, galanteador, atraente, atencioso, gentil, engraçado.

— Acho que gente boa, sabe? Gente fina.

Eu to nervosa, será que ele notou que eu to nervosa? Será que é óbvio que eu to nervosa? Eu não quero que ele saiba que eu to nervosa, até porque eu e o Leozin não significamos nada, temos uma relação de trabalho e somente de trabalho, ele era meu colega de trabalho, nós trabalhávamos juntos, um trabalho em parceria, conjunto, parceiros, não parceiros românticos, nosso trabalho não era romântico. Minha respiração tá falhando, eu não consigo, eu não respiro.

— Você tá bem?

Nego com a cabeça e meu namorado segura minha mão e começa a fazer a contagem para acalmar a minha respiração, eu olho em seus olhos e sigo o ritmo da contagem, sentindo, aos poucos, minha respiração voltar ao normal. Eu amava esse menino mais que tudo. O Leozin era só um refúgio que minha mente encontrou para me entreter enquanto o João está fora.

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