DEUX. cochilei

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Escuto a campainha, que foi quase como um despertador para mim. Eu acabei tudo do Dudu por volta das oito da manhã então tive mais tempo para dormir do que esperava, só não contava que meu corpo ia estar elétrico ao ponto de que eu não conseguia fechar os olhos, meu corpo estava em alerta, como se estivesse esperando alguém específico, mas não tinha ninguém.

Meu namorado me deu a dica de tomar um antialérgico ou um dramin e, bem, eu tentei, mas não consegui, eu só fiquei deitada de bruços por algum tempo até conseguir pegar no sono. Eu tentei desligar meu celular e ficar deitada no escuro, tentei colocar um disco para tocar, para ser mais específica era o "the record" do boygenius, mas nada funcionou, até que finalmente consegui.

De qualquer forma, eu olhei meu celular e já eram meio dia e meia, me levantei com tudo da cama, corri para o banheiro, escovei os dentes e fui com a roupa que eu tava até a porta. O Leozin estava lá, usando uma blusa branca lisa básica, uma calça moletom e um boné,

— Achei que você tinha desistido de mim – ele disse rindo – e me perdoe pelo que eu vou falar, mas você tá com uma carinha péssima, você tava dormindo?

— Perdi a hora – respondi e ele riu – eu preciso tomar banho.

— Vá lá, eu fico sentadinho aqui te esperando.

Fui ao meu quarto o mais rápido possível, tranquei a porta e fui até o banheiro, tomei um banho rápido, escovei meus dentes mais uma vez, vesti uma blusa aleatória do nirvana que achei na minha gaveta e uma calça moletom cinza, depois sai do quarto e encontrei o Leozin no exato local em que eu tinha deixado ele.

— Você tá muito cheirosa – ele disse se levantando.

— Obrigada, eu acho.

Eu fui em direção ao cômodo do estúdio e ele me seguiu, eu me sentei na minha cadeira de sempre e ele puxou uma para próximo de mim.

— Eu tenho dois beats pré-prontos, não sei se você vai gostar de algum, mas podemos tentar – eu disse.

Ele estava calado, mas fez sinal para eu tocar as duas para tocar. Depois de ouvir as duas, ele respondeu:

— Gostei mais do segundo.

— Você já tem alguma ideia?

— Tenho um free salvo no meu celular que encaixaria bem.

Ele desbloqueou a tela e começou a procurar o tal freestyle no meio das gravações do seu celular. Ele selecionou uma delas e começou a anotar a letra no bloco de notas.

— Gatinha, solta o beat.

Fiz o pedido. A voz dele era tão gostosa de ouvir, me trazia um conforto inegável, eu senti o sono invadir minha mente, meus olhos ficaram muito pesados para se manter abertos, enquanto isso, sua voz surfava em cima do beat mesmo sem autotune.

— O que você acha? – ele perguntou.

— Combinou bem – respondi simples – a gente pode começar a gravar de verdade se você quiser.

— Você não parece muito firme sobre ter gostado – murmurou e eu revirei os olhos.

— Mas eu gostei, Léo.

— Tem certeza?

— Tenho, agora entra na porra da cabine, coloca o fone e bora começar – resondi firme e ele riu, depois me obdecendo.

Eu coloquei o fone para ouvir ele falando e ajustar para poder começarmos a gravar. Acho que, antes de ouvir o Leonardo cantar, eu nunca tinha ficado tão obcecada com uma voz, mesmo que torcesse para que isso já tivesse acontecido antes sim. Na terceira vez que gravamos a primeira estrofe da música, senti meus olhos pesando, eu também confesso que evitava olhar para o garoto do lado de dentro da cabine, eu sentia vergonha de estar ali a sós com ele, como se fosse um crime.

Meus olhos foram aos poucos fechando cada vez mais e por períodos mais longos, até que decidi parar de apoiar meu rosto na palma da minha mão, talvez isso fosse bom para evitar que eu dormisse. Todavia, antes que eu pudesse recorrer a outra forma de me manter acordada, minha cabeça despencou e eu bati na mesa de ajustes sonoros, senti uma dor intensa e apenas ouvi o som da porta da cabine se abrindo.

— May? – ele chamou e eu levantei a cabeça e abri meus olhos lentamente sentindo meu nariz arder – porra.

— Eu acho que sem querer cochilei – eu disse rindo e notei seu semblante nervoso relaxar.

— Eu notei, – respondeu rindo – você tem kit de primeiros socorros?

Apontei para um criado-mudo ao lado do sofá que tinha no estúdio, ele abriu a gaveta e tirou o kit, depois se aproximando de mim de novo.

— Você tá sangrando, devia ter cuidado com esses cochilos – ele disse tirando a gaze de dentro do kit e passando na minha sobrancelha.

— O que tá sangrando? – perguntei e ele riu baixo.

— Sua sobrancelha, seu nariz e seu lábio.

— Porra – murmurei de dor quando senti ele limpar a área do meu nariz que mais estava doendo.

— Você tem dormido?

— Que? – perguntei um pouco confusa.

— Você tem tido dificuldades para dormir? – perguntou de forma mais precisa, sua voz fez meu corpo relaxar.

— Digamos que sim, eu sempre tive insônia, mas eu nunca tinha dormido durante uma gravação antes.

— A música deve ser tão chata que seu corpo prefere dormir do que ouvir – disse rindo e eu acabei rindo também.

— Sua sentada alivia meu estresse, bitch me deixa tão louco (yeah) – imitei como sua voz soava dentro do estúdio e ele riu enquanto secava o sangue da minha boca.

— Você é ridícula – murmurou rindo.

— Você acha? – perguntei com tom de deboche e ele concordou com a cabeça.

— Mas é linda, isso te dá créditos.

— Então foda-se o meu trabalho? Só tá gravando comigo porque me achou gostosa? – perguntei com tom de ironia enquanto fingia indignação e ele riu.

— Essa brincadeira tá se tornado perigosa pro meu lado.

— Idiota.

— Acho que você deveria dar uma cochilada, Lua – ele diz carinhosamente.

Só meus pais me chamavam de Lua.

— Lua?

— Você não gosta? – perguntou, senti uma pontada no meu peito.

— Gosto, acho que você só me pegou desprevenida.

— É, eu te acho gente boa – disse rindo e eu acabei me levantando – pode ir dar uma cochilada, eu posso gravar minha voz sozinho e depois você vê se quer que eu grave mais ou se está bom como eu fiz.

Eu concordo com a cabeça e me deito de bruços na minha cama, o sono desaparece, era desconfortável. Levantei e peguei meu lençol, entrando no estúdio novamente e me deitando no sofá, ele me olhou, sorriu fraco e continuou gravando seus vocais. O sono lentamente me atingiu, a sensação de conseguir dormir era prazerosa e, principalmente conseguindo alcançá-la de uma forma tão pacífica torna a experiência ainda melhor, a voz dele me fazia encontrar uma paz dentro de mim que nem eu sabia da existência.

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