Capítulo 2

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O DIA ESTAVA CHUVOSO mais uma vez, as gotas fortes de água caiam sobre o chão seco da varanda de Emilly fazendo mais uma vez todos recuarem para a cozinha aberta da mulher. Sam estava fora, fazendo a ronda junto com Quil e Embry, mas isso não impedia eu e Jared de estarmos aqui almoçando como em qualquer outro dia.

— Não fiquem aí sentados, me ajudem a fechar a casa antes que tudo esteja molhado — Emilly disse sem sair do lugar enquanto amassava com as mãos uma massa branca gosmenta, Jared parou para inutilmente discutir dela enquanto eu comecei a fechar as janelas mais próximas.

Nessa vida temos que saber com quem vale a pena brigar e contra Emilly podemos saber que a briga é perdida, mas Jared parece gostar de implicar, talvez porque sabe controlar melhor sua raiva.

Eu não me perdoaria se perdesse o controle aqui.

Abri a porta do segundo quarto à direita, o quarto ao lado do de Sam, onde a três dias uma garota desconhecida dorme como se fosse uma tartaruga curtindo sua hibernação.

Desviei da cama para fechar a janela e parei por um segundo olhando para ela, com as duas mãos embaixo do rosto fazendo o único movimento que prova estar viva. Respirando.

Puxei o cobertor que estava em seus pés, Emilly deve ter o afastado por conta do calor da tarde, até seus ombros e o ajeitei.

— Tá mimando ela — Ouvi Jared reclamar do corredor — Ela vai ser uma vampira mimada.

— Cala a boca, idiota, não consegui ouvir o coração dela?

— Talvez seja uma espécie diferente.

— Claro, ela é humana.

Me afastei da cama o encontrando encostado no batente da porta.

— Acha que ela vai acabar com a nossa curiosidade quando acordar?

— Eu espero que sim — Falei saindo enquanto ele puxava a porta para fechar, mas nossos movimentos mudaram quando ela voltou a tossir, como não fazia como no dia em que chegou — Ela tá se afogando — Voltei para o quarto enquanto Jared gritava por Emilly.

Apoiei meu joelho sobre o colchão e puxei o corpo dela para mim o virando de lado, ela parecia buscar ar, mas ainda tossia como se estivesse em alto mar.

— Quanto tempo essa garota ficou à deriva no mar?— Jared perguntou estranhando totalmente ela ainda se sentir como se estivesse lá.

— Coloque o dedo na garganta dela — Emilly disse entrando no quarto.

— Você enlouqueceu?— Questionei.

— Ela está se afogando, não sabemos se com água ou memória e não temos nada a perder.

Senti os dedos da garota apertarem com força meu braço enquanto ela continuava a se contorcer.

— Mas que merda — Xingue em voz alta enquanto fazia isso, coloquei dois de meus dedos em sua garganta o precisando com força e virei o rosto enojado até que a senti tendo ânsia.

Soltei minha mão e puxei mais seu corpo fazendo-a deixar sua cabeça suspensa sobre o chão enquanto sem me soltar e sem parar ela vomitava nada mais que água sobre o piso.

— Segure-a com firmeza — Emilly disse agora mais calma — Jared me ajude a pegar algumas coisas pra limpar essa bagunça.

— Por que está falando como se não fosse a primeira vez que precisa fazer isso?— Perguntei a ela.

— Achamos que podem ser pesadelos ou que ela passou tanto tempo até chegar à costa que ainda tem muito o que se afogar, não temos um porque ainda.

— E quando vamos ter?— Perguntei.

— Quando ela acordar — Jared foi quem respondeu, mas se calou quando o encarei.

— Vamos fazer a nossa parte de mantê-la viva e segura — A mulher disse firme se virando e saindo sendo seguida pelo meu melhor amigo, ajeitei novamente o corpo frágil sobre a cama e tentei me livrar de seu aperto, mas falhei.

Falhando decidi apenas me sentar ali encostado naquela cabeceira dura e ajeita-lá ao meu lado, assim ela ficou.

— É melhor se despedir — Emilly disse quando finalizou a limpeza e entregou o rodo para Jared — Sam não vai te deixar ficar.

— O que ele tem haver com isso?

— Não é a Branca de neve esperando o beijo do príncipe pra acordar da morte — Jared disse de uma forma irônica.

— Não vou agarrar e forçar a garota a nada.

— Não acho que você vá, mas é uma aldeia cheia de lobos, Paul, o que vai impedir que Sam permita que outros tenham o mesmo direito?

Encarei a mulher sem entender.

— Do que você está falando?

— Ela está em nossa casa sem nenhum pronunciamento do alfa, uma mulher jovem e bonita que recebe a visita de mais de um membro da alcatéia — Sam surgiu em minhas vistas finalmente estando em casa — Existem mais que o Quileutes locais, a notícia vai se espalhar mais rápido que pensamos e eu não terei voz nem força pra defender a garota.

— Voz ou força, você não é o grande líder?— Perguntei.

— Aqui, para os outros, eu sou um jovem inexperiente cheio de defeitos e erros.

— Aquilo que aconteceu hoje — Por algum motivo eu estava prestes a dizer que aquilo não poderia acontecer, que podia matar ela, mas ele me impediu de continuar.

— Ela está segura aqui, Paul.

Eleonora - Paul LahoteWhere stories live. Discover now