Ana Flávia NARRANDO
Encarava a parede do meu quarto enquanto balançava o corpo pra lá e pra cá sentindo as lágrimas rolarem sem parar pelo meu rosto.
• Meia hora atrás •
- Ana? - a voz da minha mãe soou baixo do outro lado da linha e suspirei -
- fala - fui rude -
- tá tudo bem filha ?
- não me chama assim - revirei os olhos - oq você quer ?
- seu pai, ele pegou esse vírus desgraçado
- e você me ligou pra contar isso? olha, eu sinceramente...
- ele morreu, Ana Flávia
Engoli em seco e olhei os meninos que me olhavam confusos e preocupados, ela nunca me ligava e quando ligava era pra pedir algo ou só ser inconveniente.
- eu to feliz que ele tenha morrido - falei e tratei de secar a lágrima solitária que desceu pelo meu rosto - tomara que ele queime no inferno
- Ana ? é assim que você fala do seu pai?
- pai? aquele filho da puta que tentava abusar de mim e você passava pano? ele é um merda igual você
- eu to sozinha agora, eu preciso de alguém aqui comigo
- você não pensou nisso quando deixava ele me tocar
• agora •
A porta do quarto foi aberta e o Gustavo passou pela mesma trancando ele segurava uma sacola cheia de besteiras e na outra mãos um moletom preto.- tá com frio? - perguntou receoso -
- um pouco - sussurrei-
- trouxe um moletom
- eu tenho moletom,Gustavo
- eu sei que você gosta de roubar os meus - sorriu enquanto se aproximava -
- eles têm seu cheiro e são confortáveis
- eu sei - me entregou o moletom -
- obrigada - sorri de lado e vesti o moletom -
- quer conversar? - neguei com a cabeça - tudo bem - suspirou -
Eu nunca me senti confortável pra falar sobre minha relação com meus pais, era uma coisa que eu sempre evitava porque me machuca demais.
- eu trouxe doce pra você - me entregou a sacola -
- obrigada, gatinho - sorri -
- vou te deixar sozinha
Ele deixou um beijo demorado na minha testa e segurei sua mão apertando com força em seguida.
- fica comigo - sussurrei -
Ele tirou as chinelas e se deitou na cama, puxou meu braço me fazendo deitar com ele e me abraçou enquanto olhava meu rosto.
- você é feia chorando - riu enquanto passava o polegar no meu rosto na intenção de secar as lágrimas -
- obrigada - ri fraco -
- eu admiro muito você - murmurou -
- sério? - perguntei surpresa -
- sério - fez carinho no meu rosto - tu é mo guerreira
- obrigada, Gu
- lembra quando tu chegou lá no estúdio metendo mo bronca?
- "vocês vão se arrepender se não me contratarem" - ri fraco repetindo a frase que eu falei no meu primeiro dia de trabalho -
- com certeza eu me arrependeria muito, tu virou luz na minha vida
- você que virou luz na minha vida, tá sempre cuidando de mim - sorri -
- sou o mais velho, tenho que cuidar da criança da casa
- idiota - ri -
- já consegui arrancar um sorriso
- você arrancar sorriso meu nem é tão difícil, tu é mo palhaço
- vou levar isso como um elogio - riu -
- tá - pisquei e ele sorriu - que foi?
- quero te beijar
- viciou né gatinho? - repeti suas palavras e ele riu -
- pior que sim
Ri e juntei nossos lábios, o beijo foi calmo e gostoso assim como todos os outros, eu com certeza nunca enjoaria de beijar ele.
- eu vou te proteger de tudo - sussurrou contra meus lábios -
- você não é o super herói de um gibi - ri fraco -
- mas você com certeza é a princesa de algum filme
Abri um sorriso enorme sentindo minhas bochechas doerem e neguei com a cabeça.
- vamo comer meu doce?
- trouxe pra você pô
- mas você vai comer ué - ri -
Me sentei entre as pernas dele, botamos um filme de comédia e assistimos enquanto comíamos as besteiras que ele trouxe.
Com ele eu até esqueço meus problemas, minha melhor versão com certeza é ao lado do Gustavo.
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Quarentena - MIOTELA ✓
Historical Fiction( Me diz quando essa quarentena acaba...) Após passar um tempo de quarentena com seus 3 colegas de trabalho,a atração de Ana Flávia por um deles vem a tona.