capítulo 5

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Capítulo 5

– alô?
Não era a voz de Maya.
– Oi, aqui é a Emily.
– Oi Emily, ligou para saber da Maya não é?
– sim, ela está?
Era a mãe dela.
– está sim, vou passar pra ela...
alguns segundos depois.
– Emily?
Dessa vez era Maya.
– Maya!
– me desculpa Mily – eu ia deixar ela falar primeiro – eu fui embora e não me despedi de você, no dia seguinte da nossa briga meu pai me acordou bem cedo e disse para eu fazer as malas, então eu fiz e assim fomos embora eu tive que trocar de número já que estou na Espanha agora...
– Espanha?
Eu sabia que ela tinha ido para o exterior mas não sabia que era na Espanha, caramba ela tava longe.
– Sim Mily, me desculpa, eu não sabia dessa viagem, nem tive tempo de te ligar, não sabia como iria te contar isso.
– mas por que seus pais viajaram?
– Eles querem que eu estude aqui.
A voz dela estava triste.
– Mas... É férias.
– Eu sei, mas eu não tenho escolha.
– Eu senti tanto sua falta, e agora estou sentindo mais ainda.
– a gente pode se falar sempre que der pelo celular.
– é que meu celular pifou, estou na sua casa usando o celular da sua vó.
– sério? Meu Deus Emily, como pifou?
– dando uma resumida, choveu e molhou ele.
– E agora...?
– ah… Não sei, talvez minha mãe deixe eu usar o dela.
Eu disse pensando logo que ela não deixaria, mas valia a pena tentar.
– então tá, e você e o Daniel?
– estamos bem... Mas ele não compensa sua ausência, na verdade ninguém compensaria.
– lógico, sou insubstituível.
Ela riu, que saudade daquela risada.
– é mesmo, sabe eu tenho tanta coisa pra te contar, sério.
– Sério? Conta!
Escuto outra voz na linha.
– Maya!
– ah desculpa…
– Já tem que ir?
– Sim, acabaram de chegar meus materiais.
– ah… tudo bem, bons estudos.
Novamente senti aquele aperto no peito.
– obrigada, tchau...
Eu senti que ela não queria dar "tchau" eu também não queria.
– tchau...
Ela desliga, e eu dou um suspiro.
Agradeci a Tia Nina e voltei pra casa, que bom que Maya estava bem, embora eu soubesse que ela não estava 100% bem, ela nem disse quando voltaria, provavelmente depois das férias então eu só tinha que esperar um pouco talvez.

No dia seguinte, minha mãe estava de folga.

– vai sair filha?
Ajeitei minha pulseira.
– Vou no lago.
– vai ver o Daniel?
– não, vou ficar sozinha.
– Tá bom, é pra voltar..
– antes das 18hrs, já sei.

 
Se tem uma coisa que era estranha mas não tão ruim, era o fato de eu não ter sonhado com o mesmo sonho, e isso fazia bastante tempo desde a última vez que sonhei, era estranho mas bom ao mesmo tempo, pesadelos repentinos não são legais.
Chegando no lago percebi que o céu estava alaranjado, tão lindo, me sentei apoiando minha cabeça entre os joelhos abraçando minhas pernas.
Naquele momento eu me sentia sozinha, eu me via sozinha, minha única e melhor amiga estava em outro país! Cara, como isso foi acontecer? E pior ainda, brigamos antes disso acontecer, sem sombra de dúvida alguma isso aconteceu por minha causa, tudo que envolve coisa ruim tem a ver comigo, eu já estava cansada daquilo, será que não tem como quebrar essa maldição? Vou viver com ela pra sempre? Não é possível… coisas ruins acontecem comigo e com quem está comigo, mas que merda de vida é essa?
Olho pro céu e estico minhas pernas deixando elas penduradas na ponte, a raiva só crescia mais ainda dentro de mim, meu ódio por Rose só aumentava, meu ódio por fadas só aumentava, tudo aquilo era culpa delas sim!

Antes de voltar pra casa eu decidi passar na casa do Daniel, pra esfriar um pouco a cabeça.

– M-Mily você por aqui?
– Sim, vim te dar um "Oi".
Entrei.
Ele fecha a porta e logo vem atrás de mim, eu já estava familiarizada com a casa dele.
– Ah...claro, é que você nem avisou...
– é que eu decidi agora pouco, eu tava no lago aí decidi passar pra te ver.
chegamos na porta do quarto dele.
Ele não parava de gaguejar.
– c-calma... Meu quarto tá uma bagunça sabe, deixa eu arrumar ele rapidinho...
– ah tudo bem.
Ele entra e depois de longos minutos, ele abre a porta.
– agora sim.
eu entrei e...
– que cheiro de perfume é esse? Não é o seu...
– é que minha mãe saiu, daí ela passou aqui no meu quarto antes.
ele senta na cama.
– entendi.
me sento ao lado dele, e vejo alguma coisa no chão.
– o que é isso... – eu pego – uma… Unha postiça?
– Deve ter sido da minha mãe.
Eu sabia muito bem de quem era aquela unha, e logo gritei.
– CYNTHIA ESTEVE AQUI NÃO ESTEVE?!
Arremesso a unha na cara dele.
– Cynthia? Tá maluca?
– DANIEL EU CONHEÇO ESSA UNHA DE DRAGÃO, É DA CYNTHIA SIM!
eu já estava surtando.
– Amor lógico que não, por que ela estaria?
– levanta.
– que?
– levanta da cama Daniel.
assim ele faz e eu tiro o cobertor.
– MAS O QUE SIGNIFICA ISSO?! DANIEL O QUE É ISSO?!
simplesmente tinha 𝘭𝘢𝘯𝘨𝘦𝘳𝘪𝘦 escondida debaixo do cobertor, E AINDA POR CIMA ERA DE RENDA!
– Amor, eu posso explicar, é sério.
– Meu Deus... Você tá me traindo com a Cynthia... Aquela vagabunda…
eu estava em choque, meu coração acelerava e eu sentia que iria desmaiar a qualquer momento.
– vagabunda?
Cynthia abre a porta do guarda-roupa e sai de dentro só de toalha.
– EU SABIA DANIEL! – dei um tapa na cara dele – SEU DESGRAÇADO!
– Porra Cynthia, era pra você ficar aí dentro, desgraça.
– Ah eu não ia aguentar por muito tempo mesmo, tenho claustrofobia.
– Meu Deus… eu não tô acreditando, eu não tô…
Levo minha mão até a boca completamente pasmada com aquela cena ridícula!
– Não se finge de coitada não esquisita, sabia muito bem que o Daniel em sã consciência jamais ficaria com você né?
Eu sentia vontade de vomitar, meu estômago revirava.
– fala pra ela Daniel, fala que você nunca deixou de me amar, e que tudo isso não passou de uma brincadeirinha.
Ela começa a rir, eu olho pra cara do Daniel e ele me olha de volta com um sorriso, um sorriso podre de sarcasmo.
– Não acredito que você realmente acreditou que eu, Daniel, o garoto mais popular da escola, o mais gato e desejado, estava mesmo apaixonado pela estranha azarada.
– a patinha caiu no lago.
Eles riam, estavam rindo na minha cara.
– então por que você mentiu pra mim?!
– não tá óbvio?
– tão burrinha ela.
– Só queria ver exatamente essa cara que você está fazendo agora, de uma coitadinha que acaba de ter seu coraçãozinho partido em milhões de pedacinhos.
– ai ai Emily, como você é idiota, achou mesmo que o meu ex namorado gostava de você? Ninguém nunca será capaz de gostar de você Emily, nem sua mãe gosta de você.
Aquilo provocou o meu ódio mais profundo.
– CALA ESSA BOCA, SUA VADIA!
segurei o cabelo dela e comecei a puxar.
– ME SOLTA ME SOLTA! TIRA ESSA MÃO DE MIM QUE NOJO!
ela segura na minha mão tentando tirar, levantei a cabeça dela e fiz ela olhar pra mim e dei um... Dois... Três tapas na cara dela, e minha raiva só aumentava, não importa quantos tapas ela levasse na cara, nenhum deles seriam suficientes para aliviar todo meu ódio.
Ela gritava.
– SUA VACA!
veio pra cima de mim mas eu segurei o pescoço dela e comecei a apertar até ela começar a tossir, então solto e ela cai de joelhos tentando recuperar o fôlego.
– Eu odeio vocês! E se está pensando que vou te ameaçar por isso Daniel, está completamente enganado, o seu está guardado pelo universo, e pode ter certeza de que você vai se arrepender de toda sua alma.
Tiro o anel do dedo com raiva e jogo na cara dele com mais raiva ainda, saio batendo a porta do quarto passo pela sala e vou embora daquele pesadelo.
Como ele pôde? Me trair daquele jeito com a minha pior inimiga... E nem negou, se bem que ele é o ex namorado dela, caramba eu sou uma idiota mesmo né, Maya tinha toda razão, como fui tão cega? Como caí na lábia dele? Como eu... Como eu pensei que alguém poderia me amar... Lágrimas quentes escorriam pelo meu rosto enquanto eu andava pelas ruas que só eram iluminadas por algumas lâmpadas de postes, eu andava pela calçada ouvindo o som dos carros, dos pneus na rua, de buzinas, e das palavras de Cynthia que ecoavam na minha mente… “Ninguém gosta de você Emily, nem sua mãe" minha mãe... Será que ela gostava de mim? Será que ela estava preocupada comigo? Tudo aquilo era culpa minha, e eu sabia mais do que ninguém, não ouvi Maya e acabamos brigando e ela acabou indo embora, o garoto que eu amei por anos secretamente e que eu pensei que finalmente iríamos poder viver uma história de amor juntos, acabou me traindo com a garota que mais fazia bullying comigo na escola.
Aquelas férias de verão estavam sendo as piores de toda minha vida, como tanta merda podia acontecer em dois meses? E quando eu voltasse pra escola seria pior ainda, e se Maya não pudesse voltar? E se ela não voltasse nunca mais? Seria horrível… um verdadeiro pesadelo, e tudo isso porque eu sou assim, amaldiçoada e estranha.
Cheguei na porta de casa, respirei fundo, então entrei

– isso é hora Emily?
– desculpa... – eu disse sem olhar pra ela – não vai acontecer de novo.
– assim espero, temos visita.
Eu levantei a cabeça e... Um homem?
– quem seria…?
– esse é o meu amigo que te falei, o nome dele é David – ela sorri – David essa é minha filha, Emily.
– Olá.
ele sorri mas eu ignoro mantendo minha expressão facial séria.
– Oi.
Subo pro meu quarto, cara eu acabei de presenciar uma traição e do nada minha mãe leva o suposto amigo dela sem avisar, sério?
Não demorou muito pra ela vir atrás.
– Emily abre essa porta.
Ela batia.
Minha voz estava abafada pelo travesseiro quando eu respondi.
– mãe, por favor, não quero falar agora.
– Emily eu mandei abrir!
Ela não parava de bater, levantei, abri e voltei pra cama.
– Aquilo foi uma tremenda falta de educação, eu não te ensinei isso.
Eu não estava olhando pra ela, mas tive certeza que ela estava cruzando os braços.
– desculpa.
– primeiro você chega super tarde, e depois trata a visita que também é meu amigo daquele jeito super seco, que isso Emily?
– Já pedi desculpas.
– o que está acontecendo? Você disse que ia no lago, você foi mesmo?
– fui.
– Emily, você tá sentindo alguma coisa?
– não – eu não queria falar daquilo agora – seu amigo está te esperando.
– depois conversamos então.
ela fechou a porta e ouvi ela descendo as escadas e logo começaram a conversar e rir, eu só queria esquecer de tudo que tinha acontecido naquele dia.
 
Primeiro Maya viaja para outro país, minha melhor amiga estava a milhões de quilômetros longe de mim, a única que me apoiava e me entendia, ela estaria me consolando agora... Droga, por que tudo tinha que ser ASSIM? não dava pra simplesmente uma coisa dá certo? Não dava pra andar na rua sem cair no chão e virar motivo de piada? Não dava para simplesmente sentar no banco da praça sem nenhum passarinho cagar na minha cabeça? Não dava pra namorar um cara legal e fiel? Eu tinha que me apaixonar pelo mais imprestável e babaca? Minha amiga tinha que estar longe enquanto tudo isso acontecia? Não! Não e não! As coisas poderiam dar certo, mas ROSE MILLER DECIDIU QUE NADA DARIA CERTO PARA OS MONTFORTS.
Eu já estava odiando todo mundo, todos! Eu não ligava mais pra nada, não queria saber de ninguém, eu queria mandar todo mundo se danar, eu queria gritar até ficar rouca, eu queria esquecer de tudo e de todos eu só queria... Morrer.
David tinha ido embora, e agora minha mãe estava sentada na beirada da minha cama esperando uma resposta.

– eu já disse que não vou falar, estou com sono.
Eu olhava para as minhas mãos, até estranhava a falta do anel.
– Emily, você é minha filha e eu te amo muito, te sinto tão distante de mim às vezes.
– me ama mesmo mãe? Pra mim a única pessoa distante aqui é você  – eu soltei... – Sabe de uma coisa mãe, você não precisa fingir que gosta de mim, até porque se gostasse saberia o por que de eu estar assim.
– Emily eu sou sua mãe não uma vidente, você nunca me conta nada.
– claro que não, quando quero contar você nunca está disponível, eu cansei mãe! – agora eu apertava o travesseiro – cansei das pessoas fingindo que gostam de mim... Cansei de te contar as coisas e você sempre discordar em tudo.
– Filha... Fala comigo.
– eu não quero falar nada pra você, você nunca me entende em nada!
deitei enfiando a cara no travesseiro, não queria que ela me visse chorando.
– Eu não preciso das suas palavras, não preciso da amizade da Maya e não preciso de um namorado idiota, eu não preciso de nada nem de ninguém, já que sou estranha e azarada.
– Eu não entendo você...
– você nunca entende nada relacionado a mim, isso não é novidade nenhuma.
– você nunca desabafa comigo, como quer ajuda?
– você não pode me ajudar! Ninguém mais pode.
– é só falar do que você precisa...
– sabe do que eu preciso? – me sentei novamente – sabe do que eu preciso, mãe? Eu preciso me livrar dessa droga de maldição ridícula, eu preciso ser uma garota normal – as lágrimas escorriam mas eu já não ligava pra elas – eu preciso ter uma vida normal, uma amiga que não tivesse que ir embora, um namorado que não me traísse, queria estudar numa escola onde eu não fosse motivo de piada e uma mãe que estivesse comigo... É disso que eu preciso.
– Filha as coisas nem sempre dão certo, você tem que entender isso.
– não mãe, as coisa NUNCA dão certo, é diferente.
– Você está colocando a culpa na maldição.
– MAS É CULPA DELA! você não entende?
– não Emily, eu não entendo como uma pessoa pode culpar uma mera maldição por causa de coisas que dão errado na vida de qualquer outra pessoa.
– então não temos nada pra conversar, boa noite.
Deitei de costas pra ela, eu não queria continuar com aquilo, ela nunca entenderia nada.
– Enquanto você não compreender o sentido da vida, sempre irá se frustrar com a maldição.

OLHOS VIOLETAS| A marca da Maldição Where stories live. Discover now