Cidade de Estrelas

Lembranças, margaridas e abraços

Boa leitura <3

— Você vai desembuchar por vontade própria ou vou ter que fazer isso acontecer na marra?

Foi o que Jimin perguntou assim que Jungkook saiu todo apressado e sorridente pra comprar sorvete na barraquinha da praça. Mesmo com a atenção longe, conseguia sentir o olhar do meu amigo queimando em mim, à espera de uma resposta que eu não tinha, ou melhor, tava enrolando fazia tempos pra dar.

— Foi aquilo que eu comentei mesmo...

— Você não comentou porra nenhuma, Taehyung. Para de me enrolar! — Me deu um peteleco ardido na testa antes de continuar — E nem adianta vir com essa conversa fiada de amigos virtuais, porque você detesta contato com pessoas no geral, que dirá pela internet!

Acho que abri a boca uma ou duas vezes, mas nada saiu, nenhuma palavra sequer. Jimin estava completamente certo, e eu sabia que mesmo que fizesse um esforço do cacete, nunquinha que conseguiria o enrolar como fiz com minha mãe e avó. O problema era que todas as mentiras do mundo pareciam mais verdadeiras do que a própria verdade.

— É complicado — comecei, escolhendo palavras. — Até agora não entendi muito pra ser sincero.

— Começa do início que eu tento acompanhar então — Jimin foi rápido em dizer. Os grandes olhos estavam fixados em mim, não tinha escapatória.

Suspirei.

— Sabe o livro das estrelas?

— O da Biblioteca Municipal?

Fiz que sim.

— Então. Tem uma passagem nele que fala sobre realização de pedidos e tal. Daí, esses dias, eu tava meio coisado por causa do pombo correio lá e... eu tentei.

— Tentou o quê?

— Eu pedi pras estrelas — murmurei, engolindo a vergonha de ter que admitir aquilo em voz alta.

— Pediu o quê, Taehyung? Conta as coisas direito. Pediu o Yoongi?

— Tipo isso.

— Tá legal. Mas o que isso tem haver com ele?

Perguntou, se referindo à Jungkook, que na fila da sorveteria parecia completamente distraído com uma florzinha que colheu pelo gramado. Era mesmo cômica, a cena. Um marmanjo de quase um e oitenta todo bobão por uma margarida. Aquilo tudo me desconcentrou. O jeito que suas sobrancelhas se franziram pouco antes de levar a pequena flor até o nariz e então a careta antes dum espirro escandaloso que me fez sorrir grande. Só lembrei que tinha que responder Jimin quando recebi mais um maldito peteleco bem no meio da testa.

— Mas que cacete!

— Foco, Taehyung.

— Puta merda. Tá bom. Onde é que eu tava mesmo? Ah, é. Então. Acontece que o Jungkook tem tudo haver com o meu pedido. Eu meio que conheci ele por causa disso...

Silêncio.

— Acho que entendi — meu amigo disse por fim. — Tá querendo me dizer que ficou tão desesperado... — concordei com a cabeça — que contratou um cara pra te ajudar a conquistar o Yoongi?

Que?

— Que? Não! Tá maluco da cabeça, é? Por que eu faria isso, porra?

— Me diz você, uai! Fica aí alimentando esse crush platônico pra cima e pra baixo. É pipipi Yoongi isso, pipipi Yoongi aquilo... eu não duvido de mais nada.

— Alguém aí pediu sorvete? — Jungkook perguntou enquanto se aproximava segurando os três picolés com dificuldade.

— Então quer dizer que tu é funcionário do Tae.