Capítulo 03

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Passaram-se algumas semanas desde o ocorrido e como o Duque profetizara Casper não conseguia vender mais nenhuma música sequer. Apesar de serem boas composições, os possíveis compradores se negavam a adquirir as peças pelo fato de que não queriam problemas com o Duque, o qual mandava em pelo menos metade da cidade. Com isso, o jovem músico estava entrando em depressão, bebendo e indo à casa de ópio mais do que o normal.

Naquele momento estava deitado em um dos divãs, o longo cachimbo esculpido a mão entre os dedos, soltando baforadas de fumaça alucinógena de tempos em tempos por entre os lábios quase fechados. Sua mente viajava para longe, em um lugar onde as coisas não aconteciam daquela forma e ele tinha coragem de expressar seu amor por Sophier.

– Casper... Acorde. – a voz do amigo vinha de longe e parecia aflita, mas ele não queria voltar para aquele lugar triste e deprimente onde tinha de viver. Sentiu seus ombros serem segurado e então chacoalhado para frente e para trás até que abrisse os olhos, encontrando Sophier com uma expressão de puro pavor no rosto.

A visão de Casper foi se afirmando até poder ver o rosto bonito do outro, que chamava seu nome com desespero crescente na voz. Piscou algumas vezes, sem compreender muito bem o que estava acontecendo e então se sentou com esforço no divã estampado com flores coloridas.

– O que houve para você vir me chamar em um momento como este? – indagou completamente indignado enquanto tentava se levantar, sendo amparado por Sophier.

– Fomos roubados. – disse o outro com um pesar na voz que trouxe Casper para a lucidez muito rapidamente. Seus grandes olhos verdes fixaram-se no rosto do amigo, completamente surpreso com a informação.

– Levaram suas composições, meus poemas, além do dinheiro que tínhamos para o resto do mês. – contou Sophier, desolado com tais fatos. Já Casper tinha uma nítida idéia de quem havia feito aquilo com eles, o Duque de Canterville era uma boa aposta.

Era óbvio, depois da rejeição pela qual passara há algumas noites, o Duque não aceitaria perder e só se ficaria feliz se infligisse algum tipo de sofrimento para eles dois, não importava que tipo fosse. Suspirando vencido, Casper expressou sua idéia do que iriam fazer dali para frente. Não podiam deixar-se levar pelas atitudes do Duque, mostrar que haviam se intimidado com tal invasão.

– Não há nada que possamos fazer quanto ao material perdido, a não ser escrevê-lo novamente e em relação ao dinheiro, teremos de pedir emprestado para Archibalde ou Anrie. – declarou soturno, enquanto se levantava do divã, o efeito da droga havia passado há algum tempo, decorrente do choque pelo qual passou.

Abraçou o pescoço de Sophier, utilizando-o como apoio para andar. Podia sentir o aroma de seus cabelos castanhos e chegou a aspirar um pouco do perfume, completamente inebriado. Seus dias se resumiam daquela forma, estar próximo ao outro sem, no entanto, jamais tocá-lo diretamente.

Ainda guardava na memória a lembrança do beijo roubado há algumas semanas, o calor dos lábios mornos e a respiração cálida que fugia por entre eles, preenchendo sua própria boca. No momento não havia prestado tanta atenção aos detalhes, mas agora conseguia se lembrar com nitidez da cena toda, inclusive do fato de que apesar de sua ousadia, o outro não despertara. Tinha esperanças de poder repetir o gesto em breve, pois estas seriam as únicas imagens que teria para recordar-se de Sophier se um dia se separassem.

Ao entrarem no pequeno apartamento, Casper teve idéia do tamanho do roubo. As gavetas estavam reviradas, tinteiros foram despejados no chão, a cama recebera uma série de facadas, e despejava enchimento para fora. As roupas estavam amarrotadas em um canto do quarto, e ao se aproximar delas, se arrependeu, descobrindo que as mesmas haviam sido encharcadas com a garrafa de absinto que guardavam para dias festivos. Olhou então para Sophier, que o observava de longe, com as mãos nos bolsos da calça, completamente apático. Queria perguntar quem havia feito aquilo, mas ele sabia muito bem quem fora e pior, também sabia que não poderia fazer nada para conseguir uma vingança.

O último réquiemWhere stories live. Discover now