1| primeiras impressões e encanador

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Eu segurava a bandeja com meus famosos brownies caseiros - receita feita por minha avó materna - enquanto me dirigia à antiga casa vazia no fim da rua, agora não tão mais vazia.

Hoje mais cedo, viram a tão esperada mudança ocorrendo para a casa que estava vazia a mais de dez anos, dizem as más línguas que o novo dono é um pedaço de mal caminho. As más línguas são na verdade, meus dois melhores amigos que estavam em casa na hora da chegada do meu novo vizinho.

Dou uma esticada no meu pescoço procurando por algum sinal de movimentação, antes de me aproximar de vez do portão, batendo três vezes e esperando a resposta.

Quando percebo que provavelmente ninguém ouviu minhas batidas, tento tocar a campainha ao meu lado, mas pela falta de barulho me toco que provavelmente está desligada.

Reviro os olhos já perdendo a paciência e decido dar meia volta para casa, quando de repente o portão social se abre, e um homem asiático um pouco mais alto que eu, vem em minha direção.

— Oi querida, é com você que eu efetuo o pagamento? — ele me olhou de cima a baixo como se estivesse julgando até minha alma e eu abri a boca para resmungar que eu não era sabe se lá Deus o que ele estava pensando.

— Acho que houve um engano! Eu não tenho nada haver com pagamento nenhum. — ele cruzou os braços e me olhou com uma careta confusa.

— Você não é do serviço de entregas? — nego rapidamente — Então, quem é você? — ele perguntou impaciente e eu juro que se fosse cena de uma novela só faltaria ele completar a frase com um "criatura ignorante".

Eu até riria se não fosse trágico.

— Eu sou a sua vizinha da esquerda, Any Gabrielly Soares. Muito prazer — ofereci minha mão para um aperto amigável, que ele apertou de forma frouxa após olhar para a minha mão estendida completamente desconfiado.

— Eu sou Krystian Wang, seu vizinho e também é um prazer te conhecer. — ele amaciou o tom de voz mas continuava de braços cruzados. — o que tem debaixo do embrulho? É para mim?

Ele era curioso, então talvez eu e ele nos déssemos bem.

Estiquei o prato de brownies para ele, que pegou destampando a forma e cheirando o conteúdo.

— Minha nossa, até que está bem cheiroso! — ele parecia surpreso, então levei isso como um elogio.

— Obrigada, são de uma receita de família! — falei feliz, e ele apenas acenou em afirmativa, para concordar comigo.

— Bem, creio que você já deva ir. Afinal, eu ainda tenho algumas pendências para resolver e receio que não vou poder convidá-la para entrar, graças a bagunça que está por toda a minha casa. — Krystian me mandou dar o fora de forma até que classuda, mas ainda eu tinha certeza que ele era um baita esnobe.

Concordei lentamente e me despedi, retornando pra casa caminhando tranquilamente.

Quando cheguei em casa, a primeira coisa que eu notei foi o silêncio, já que minha casa é tudo, menos silenciosa.

— Noah? Saby? Dentinho? — chamei os três e não obtive retorno, o que achei ainda mais estranho.

Rodei os cômodos atrás de pelo menos encontrar Dentinho, mas nem assim o achei. Eu sabia que nem Noah e nem Sabina o tirariam de casa, por morrerem de medo de passear com o pequeno animal.

Pesquei o celular dentro do bolso e liguei para Noah, que no terceiro toque atendeu, assim como de costume.

— oi Anyelly, no que posso lhe ser útil hoje minha linda? — sorri pelo apelido besta.

— Noah, aonde você está? Por um acaso o dentinho tá com você? — olho em volta ainda procurando o pequeno desaparecido enquanto converso com Noah.

— Estou no pub, o Matt me pediu para tocar essa noite. E não Any, não o trouxe comigo. Ele tinha ficado em casa com Saby. Você sabe que eu não sou nem louco de chegar a meio metro daquele animal, ele é um pequeno monstrinho arrancador de dedos.

Eu ri pela medo que Noah tinha de Dentinho e apenas concordei e lhe desejei boa sorte.

— Na verdade, é quebre a perna que nem no teatro mas eu também aceito o seu boa sorte. Te vejo mais tarde, Anyelly.

Suspirei e olhei em volta, antes de discar o número de Sabina rapidamente, enquanto ia até a cozinha.

Tocou uma, duas, três, seis, dez vezes e nada dela atender. Até que caiu na caixa de mensagens.

Liguei de novo e obtive a mesma resposta. Na quarta ligação desisti e deixei ir até a caixa postal para deixar uma mensagem.

Após o sinal, deixe sua mensagem, bip — a voz eletrônica soou.

— Bina, cadê você? Por um acaso você está com Dentinho? — assim que terminei de falar, estanquei ao ver minha cozinha uma completa bagunça.

Já que a cozinha é aberta e não fui até ela, não tinha visto a bagunça no armário da pia, pois estava escondida por detrás da ilha da cozinha que dividia o ambiente da sala.

Olhei o cano aberto, o armário cheio d'água, um balde cheio até a boca com alguns resíduos de comida boiando e água no chão da cozinha.

Desliguei a chamada pra caixa de mensagem e me perguntei o que diabos Sabina estava tentando fazer.

Suspirei e liguei para o encanador que atendia no bairro, enquanto ia limpando aquela bagunça.

Pra completar ainda mais minha desgraça, acabei por jogar o conteúdo do balde na pia da cozinha, me esquecendo que o cano estava solto, molhando o chão e o armário ainda mais.

Tive que secar tudo novamente e limpei o melhor que pude, xingando Sabina de tudo quanto era nome.

Enquanto tomava um banho rápido para tirar o cheiro da água suja, ouvi o barulho da porta, ela me chamando e os latidos do meu filho.

Finalizei o banho saindo de toalha e os encontrei na sala.

Dentinho ainda estava com a guia, e girava em círculos tentando morder a alça da corrente. Enquanto Sabina estava jogada no sofá puxando fortes lufadas de ar, com uma roupa de ginástica.

— Posso saber aonde estava a madame e o roda-roda Jequiti? — perguntei com as mãos na cintura, batendo impaciente o pé no chão.

— Fomos correr, fazer um pouco de exercício pra eliminar o estresse desse animal. Ele anda três vezes mais bagunceiro, não há quem aguente Any.

Reviro os olhos e aviso a Sabina da vinda do encanador enquanto me visto sendo supervisionada de perto por Dentinho.

Já vestida vou até ele que ainda guerreia bravamente contra o cabo e desato a guia da coleira dando a ele a sua tão sonhada liberdade.

— Meu neném, você tava passeando? — afino a voz e dou um beijinho de esquimó nele. Ele dá uma latidinha como se dissesse que sim e se remexe animado no meu colo me arrancando um sorriso instantâneo. Eu amo esse animal.

— Vamos lá brigar com a tia Bina e esperar o encanador, se comporte viu? — Mais um latido, e eu espero que isso tenha sido um sim na linguagem canina.

Que Sabina tenha razão e esses exercícios tenham feito ele se acalmar, por que senão o encanador estaria frito.

After I Met You - AIMYOnde histórias criam vida. Descubra agora