12| piano e carona

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Any Gabrielly

As coisas estavam fora de controle.

Desde aquela festa na casa de Joshua Beauchamp, mais conhecido como meu vizinho rabugento, á uma semana atrás, tudo na minha vida se tornou uma completa bagunça. Como se tivessem jogado minha vida inteira de pernas para o ar, e cada partezinha fosse para um canto remoto.

O homem simplesmente decidiu que iria coexistir com a minha vida, e havia se tornado uma verdadeira sombra atrás de mim. Ainda por cima, tendo a audácia de negar qualquer tentativa de aproximação por sua parte, como se eu fosse a louca da história.

Expiro lentamente tentando controlar a irritação que estava dominando meu corpo hoje, empurrando os pensamentos sobre Joshua para longe por um instante e tentando focar na aula e na necessidade dos meus alunos. Coisa que estava três vezes mais difícil do que geralmente costuma ser. Durante o final do ano/semestre, eu costumo dar aulas de verão na modalidade do piano, enquanto minha turma fixa se forma. Mas hoje, dar aulas está sendo insuportável.

Meus alunos estão se superando, conseguiram retroceder 7 séries atrás. Ou seja, ao invés de lidar com adolescentes de 16 anos, tenho que lidar com adolescentes com mentalidade de 9 anos.

Tá bom, eu entendo que eles são adolescentes e estão estourando de hormônios mas se eles não querem estudar música, o porque diabos eles estão aqui ocupando meu tempo precioso e ocupando o espaço de alguém que realmente precise.

O problema da Colburn é exatamente esse, os programas beneficentes no final do ano/semestre para auxiliar nos pontos extracurriculares para os futuros formandos do ensino médio. O programa não foca em quem precisa, como os bolsistas e outros menos privilegiados, e sim em quem tem os pais com mais dinheiro para ser doado em "prol das artes".

Esses jovens não estão nem aí pra própria faculdade que é o futuro deles, imagine música.

Mas a Colburn aceita todos os que podem pagar bem pela própria ascensão a vaga e para não ter que pagar a multa e a taxa do imposto de renda, eles preenchem os restantes das vagas com os bolsistas.

As pessoas realmente davam mais valor quando a vaga aqui era exclusivamente acessada por meio de testes de aptidão, sejam nos cursos fixos ou os de verão.

Acho tremendamente injusto que os bolsistas não tenham as mesmas possibilidades só porque não podem comprar uma vaga no programa. Eles só entram por esforço próprio e por causa das estatísticas, como deveria ser com todos.

Mas voltando a minha aula, ou a tentativa de eu lecionar ela, eu tentava acalmar os ânimos e perguntar a cada um, qual era o seu artista favorito.

Ouvi alguns alunos falando Bieber, Styles, Cabello e até Martinez.

Mas me surpreendi quando uma das alunas, Maddie Wilson, que é uma aluna bolsista, falou o nome Louise Farrenc.

Já que eu certamente não esperava que alguém da turma conhecesse música clássica, principalmente uma compositora mulher que é praticamente desconhecida se formos comparar a seus colegas de profissão.

Meu peito se encheu de felicidade e perguntei a Maddie se ela tinha uma ópera favorita.

— Gosto das óperas dela, faz eu me sentir flutuando — quando terminou de falar, percebeu que os outros alunos a olhavam e prestavam atenção nela, fazendo ela ficar envergonhada e corar.

Ouvi algumas risadinhas e me virei para o grupinho os fuzilando com o olhar. Se tinha uma coisa que eu não aceitava em minha sala de aula, era o bullying.

— Vou tocar uma ópera dela então -  ao ouvir eles murmurando, respondo rapidamente - e eu espero silencio para que todos possamos ouvir a melodia. - digo firme a alguns tons mais alto que suas vozes, fazendo a sala em que estávamos, ficar em silencio.

Respiro fundo caminhando para banqueta em frente ao piano, estralando meus dedos enquanto me sentava confortavelmente.

Posicionei minhas mãos de forma correta e ao sentir as teclas de marfim por debaixo dos meus dedos, me arrepiei ao ouvir as primeiras notas

Dê play -

Enquanto eu tocava, a euforia dentro de mim aumentava e eu extravasava tudo o que eu sentia na melodia suave e crescente que eu tocava ao piano.

Quando acabei de tocar, os alunos me olhavam admirados e todos aplaudiram, me fazendo corar envergonhada. Toda vez que eu tocava me esquecia que tinha um mundo a minha volta.

Me levantei e fiz uma pequena mensura a eles, e continuei levando a aula, dando uma lição para ser feita em casa e explicando como deveria ser executada. Quando o sinal tocou mostrando que meu expediente havia acabado, assim como as aulas do turno, me levantei e recolhi minhas coisas para poder sair da Colburn.

Me assustando ao sair da minha classe e encontrar Joshua no corredor, encostado na parede a frente da saída da minha sala.

— Minha nossa, que susto. O que está fazendo aqui? Vai me dizer que foi mais uma grande coincidência, de novo? — pergunto com meu deboche escorrendo em sua direção e ele apenas abre um sorrisinho de lado, que vem me acompanhando nas últimas semanas.

— Dessa vez não foi coincidência, eu realmente estou aqui para te ver. — falou se aproximando de mim e me olhando de cima com as mãos nos bolsos da calça social preta que vestia. — Queria falar com você.

Revirei os olhos pela impertinência dele e dei as costas para poder sair e ignora-lo mas ele foi mais rápido.

Arfei surpresa quando ele me puxou pra perto e abraçou minha cintura, colando minhas costas em seu peito e logo depois se abaixando apenas o suficiente para sussurrar em meu ouvido.

— Sabe Any, você ficou me devendo um favor não é mesmo? — falou enquanto enrolava um dos meus cachos no dedo indicador e me fazia arrepiar com a sua voz ao pé do meu ouvido. — Vim cobrar ele.

Eu acenei afirmativamente incerta e pedi que ele me soltasse, com medo de um aluno passar e ver aquela cena peculiar. Não fui atendida.

Ao invés disso, ele me virou de frente para si e me olhou sério.

— Quero que saia comigo. Hoje, sem chance de recusar. — eu abri a boca para negar, mas eu realmente o devia, por ter cuidado de mim.

Acabei concordando em ir.

— Hoje a noite, eu passarei e te buscarei para irmos a um restaurante no centro da cidade. Esteja pronta as 20hrs. — estendeu a mão na minha direção me deixando confusa.

— O que você quer? — perguntei aproveitando que ele havia me soltado e me afastei cruzando os braços.

— Suas chaves oras, eu dirijo e te levo pra casa.

Eu o olhei incrédula, e comecei a rir.

— Não me lembro de ter pedido um motorista particular, Joshua.

— E eu não me lembro de ter te perguntado nada, Gabrielly.

— Pois então apodreça aí, seu grosso. Um grande idiota é isso que você é — falo enquanto começo a me afastar irritada.

— Ei Any, espera — ele segura meu braço para logo recolher a mão, já que dei um tapão de qualidade nele — Aí droga, sua mão é pesada! Desculpa ok? Mas eu realmente preciso de uma carona, eu dispensei meu motorista para poder ir com você.  — o olho totalmente irritada mas acabo cedendo. Eu tenho que parar de ceder para homens babacas, um deles vai acabar sendo o motivo da minha desgraça.

Ele me dá um beijo rápido na bochecha e se afasta rindo desviando do próximo tapa que eu iria dar nele.

— Você fica tão lindinha quando está estressada, sabia que você aumenta seu rebolado natural ao caminhar quando está com raiva?

Eu paro o olhando séria e ele se cala na hora murmurando um pedido de desculpas, e eu só consigo pensar se eu vou conseguir lidar com essa nova versão de Joshua Beauchamp essa noite.

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⏰ Last updated: Apr 06 ⏰

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After I Met You - AIMYWhere stories live. Discover now