4| encontros e brigas

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Any Gabrielly

Eu estou nervosa, parece que eu estou prestes a surtar a qualquer momento. Eu nunca deveria ter aceitado essa merda de encontro. Consigo ver ele lá dentro, sentado numa mesa bebendo o que não é nenhuma novidade pra mim.

Estou do lado de fora do restaurante em que eu marquei de me encontrar com meu pai, enquanto espero Sabina estacionar o carro em alguma vaga. Nunca que eu iria entrar lá com ele sem ela!

Depois daquela mensagem fiquei o restante da noite de ontem mal. Esse era o efeito que meu pai tinha sobre mim.

Ele nunca quis uma filha e fez questão de me mostrar isso ao longo da minha vida em que esteve próximo a mim. Ele não tinha nem sequer remorço pelas coisas em que me falava e as coisas que ele me fez. Ele nunca me amou.

Eu sentia falta de um pai mesmo tendo um, assim como também fiquei órfã de mãe, com a minha mãe estando viva. Ela era relapsa as crueldades dele comigo, se fingia de cega. Dizia para relevar e dar razão ao meu pai, que grande piada.

Nunca na minha infância eu tive o que a maioria da crianças tinham, amor.

Eu sofri calada por anos, achando que uma hora aquilo ia mudar ou melhorar, mas só piorava cada vez mais. Ao ponto de eu começar a ser agredida fisicamente todos os dias, com surras que me feriam tanto que eu nem sequer conseguia andar depois.

Como eu estudava em casa, eles conseguiam se safar tranquilamente.

Eu estava acabada física e emocionalmente, já pensando em desistir. Foi quando conheci a Saby, eu tinha 14 anos. Ela foi minha luz no fim do túnel.

Ela foi a primeira a me estender a mão e me ajudar, escutando tudo o que eu tinha pra dizer. Me ajudando a me esconder na casa dela quando meu pai estava no auge do seu ódio contra mim.

De qualquer forma ela fez mais por mim, do que minha própria família. E eu sempre seria grata a minha melhor amiga.

Quanto mais eu esperava, mais nervosa e ansiosa eu ficava, me sentia puxando as pelinhas do meu dedo sem parar, ferindo ainda mais o local.

Sabina chegou e pegou minha mão, me deu um abraço e perguntou se eu queria mesmo entrar, eu apenas concordei. Só queria acabar logo com isso.

Ela me guiou tranquilamente por entre as mesas e nós nos sentamos de frente para o homem que mais me causou dor nos últimos anos. Assim que nos viu, largou o copo em cima da mesa. Dava pra sentir o cheiro do álcool de longe, ele estava bêbado.

— veja! Se não é a amiga pula-muros da Gabrielly — riu com desprezo — achei que já tinha parado de andar com essa refugiada — falou olhando pra mim.

Sempre que ele tinha oportunidade gostava de ofender Sabina, que por sua vez não deixava barato.

— aí cala a boca, seu pedaço de bosta! Eu vim mais legalizada que você pra esse país, já que você, eles não tiveram opção de escolha de aceitar tadinhos, tiveram que se conformar já que você nasceu no país — falou revirando os olhos e logo deu um sorriso irônico — mas fica tranquilo, que quando você morrer, Satanás saí do trono pra te dar lugar no inferno.

Se eu não estivesse a ponto de surtar e ter um ataque de pânico, eu teria rido.

Meu pai apenas revirou os olhos e voltou a se virar pra mim.

— Gabrielly, você sabe o porque de eu estar aqui, então não vou enrolar! Eu quero que assine os papéis liberando o dinheiro que a minha mãe deixou pra mim — falou sério.

Sabina riu e negou.

— Ela não deixou o dinheiro pra você, ela disse que o dinheiro era pra ser usado no meu casamento e pediu que você, gerenciasse o dinheiro — respirei fundo enquanto via ele me encarar com raiva — você já usou sua parte, o dinheiro que era destinado pra minha criação, lembra?

Meu pai sempre foi ganancioso, e quando vovó morreu deixou uma bela quantia guardada para mim, ele sempre esteve de olho nesse dinheiro. Ele usou todo o dinheiro que minha avó deu para ajudar a me criar, com bebidas, apostas e jogatinas. Nunca comigo.

Então quando eu completei 18 anos, recebi apenas a papelada do montante para o casamento. 800 mil dólares.

ele me olhou se jogando desleixadamente na cadeira — mas você ainda não se casou, estou certo? — perguntou rindo.

— não, eu não me casei. — engoli seco.

— você por um acaso leu aquelas cláusulas querida? — perguntou com tanto cinismo que eu soube imediatamente que tinha algo errado. — n-não. — gaguejei.

Sabina pegou na minha mão.

Ele parecia estar se deleitando e se divertindo com a confusão estampada na nossa cara.

— houve uma brecha em uma das cláusulas, e como sua avó confiava em mim, me deixou cuidar da papelada como o bom filho advogado que eu era — falou rindo — ela sabia que eu não tinha o menor interesse em você, então te deu uma herança, pra te ajudar e me castigar ao mesmo tempo, já que minha parte foi toda pra você. Aquela velha maldita era inteligente, mas eu era mais — os olhos dele brilhavam em pura felicidade enquanto me dizia aquilo, e eu sentia meu estômago revirar — coloquei um adendo, dizendo que se você não se casasse até os 21 anos, o dinheiro passaria para mim.

Ele riu quando viu que eu e Sabina estávamos em silêncio.

— e então, quando vai me dar meu dinheiro? Afinal você já tem vinte e um — falou cruzando as mãos em cima da mesa.

— isso é ridículo, não pode fazer isso! Esse dinheiro é dela, seu verme. Deveria ter vergonha — Sabina gritou com ele, enquanto os meus olhos já se enchiam de lágrimas.

Aquilo não era justo, eu não havia mexido no dinheiro porque queria fazer a vontade da minha avó e usar somente no meu casamento, eu sempre sonhei com uma festa incrível e grandiosa. Agora, até isso meu pai conseguiu arrancar de mim.

Eu só queria deitar e chorar, eu estava um turbilhão e pronta pra surtar. Eu precisava ir embora. Olhei pra Sabina e ela ainda gritava e xingava meu pai, mas eu não conseguia distinguir o que ela dizia.

Uma angústia crescia cada vez mais no meu peito, era como se eu tivesse perdido uma parte minha abruptamente e uma falta de ar horrível me atingiu. Me levantei meio cambaleante e sai dali o mais rápido o possível, ou pelo menos tentei, já que minhas pernas pareciam gelatina.

Minha visão estava turva e toda borrada, maldita hora pra se ter uma crise Any Gabrielly.

Quando eu estava quase saindo pela porta, meu pai segurou meu braço com força.

— aonde pensa que vai? — ele perguntou com raiva e me puxou.

— larga ela seu animal! — Sabina gritou e deu um murro na cara dele, que por sua vez soltou meu braço pra colocar a mão no nariz.

Eu corri pra fora do restaurante tropeçando nos meus próprios pés e me encostei no vidro tentando respirar.

Logo senti mãos em mim de novo e me encolhi de medo mas relaxei quando vi que era Sabina e a abracei.

Meu pai saiu do restaurante que nem um touro e já ia partir pra cima da gente, quando alguém entrou na frente dele.

— o senhor está na minha frente, será que dá pra dar licença? Eu quero entrar! — ele parecia alheio a situação, já que estava com a cabeça baixa olhando para o celular.

Não era possível, era o vizinho de novo! Ele estava de sarcasmo ou era impressão minha?

Não deu nem tempo de eu terminar de processar meu raciocínio e logo o vizinho estava caído no chão.

Meu pai tinha dado um soco na cara dele.

After I Met You - AIMYWhere stories live. Discover now