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Laura, 2017

O primeiro semestre do primeiro ano de faculdade tinha chegado ao fim e restava-me fazer um exame, no início de janeiro, para poder dizer que estava oficialmente de férias. Desfrutava de uns dias livres para estudar, mas também para descansar. Bem precisava de uma pausa em casa, para pôr as ideias em ordem e recarregar baterias. Estava exausta, física e mentalmente. As coisas pareciam diferentes desde que tinha começado a faculdade, a minha vida estava diferente e estar de volta a casa sabia bem. Era um pouco de normalidade após esta mudança gigante.

Ao bater as cinco da tarde, saí de casa e caminhei até ao parque que existia no meu bairro, umas ruas à frente. Era o local onde tinha combinado encontrar-me com o Rúben nessa tarde. O treino dele tinha terminado às quatro, por isso a qualquer momento ele iria chegar e juntar-se a mim. Mal podia esperar por esse momento. Ultimamente, quase não conseguíamos estar juntos. As nossas vidas pareciam incompatíveis. Por mais que eu tentasse, era como se nunca houvesse oportunidade para estarmos juntos. Estava cheia de saudades dele e só queria uns momentos em que pudéssemos estar juntos e nada mais importasse.

Identifiquei o seu vulto quando ainda vinha ao fundo da rua e esperei ansiosamente que chegasse junto a mim. Quase corri ao seu encontro. Aqueles metros pareciam infinitos. Finalmente, chegou junto a mim e eu saltei para o seu colo, abraçando-o com força. Ele abraçou-me de volta e deixou um beijo rápido nos meus lábios.

- Finalmente, temos tempo para estar juntos. – comentei, enquanto nos sentávamos num dos bancos de jardim.

- Até parece... - ele respondeu, o que me fez olhá-lo de lado – O que foi?

- Até parece? Quase não nos vemos, ultimamente, Rúben... Quantas vezes adiámos os nossos planos nos últimos tempos? Nunca podes... - suspirei. 

Não queria discutir com ele, mas estava a começar a ficar farta das suas constantes desculpas para adiar estar comigo. Parecia que tudo era mais importante do que eu. Naquele dia, em particular, e apesar das saudades que tinha do Rúben, sentia que qualquer coisa que ele pudesse dizer sobre nós poderia ser a gota de água que faria o balde transbordar.

- Sabes que agora que estou na equipa A tenho mais treinos e tenho de trabalhar mais a minha preparação física, se não quero perder o meu lugar. Achei que percebias isso... - ele respondeu, num tom condescendente que me irritou.

- Claro que percebo isso, mas não percebo que tudo seja mais importante do que eu. No outro dia disseste que não podias ir ter comigo, no entanto foste sair com os teus colegas de equipa. – atirei, deixando que a minha mágoa falasse mais alto.

- Tenho de me integrar na equipa... - ele desculpou-se, ao que eu soltei um riso forçado – Eu tenho direito a sair com outras pessoas, não tenho de estar sempre colado a ti.

- E tu sabes que eu nunca te pedi isso! Nós nunca fomos assim. Mas passaram duas semanas desde que estivemos os dois sozinhos, apesar de vivermos na mesma cidade... Quase nem me respondes às mensagens! Eu passei para último plano na tua vida, desde que entraste na equipa A. Tudo é uma prioridade relativamente a mim.

- Não sejas dramática, Laura. Trata-se da minha vida profissional, é óbvio que é mais importante do que tu! – ele atirou.

Levantei-me rapidamente do banco, afastando-me dele. O lábio inferior começava a tremer-me e as lágrimas na beira dos meus olhos ameaçavam cair a cada segundo. Estava cansada de tudo e cada palavra sua magoava-me mais do que a anterior. O tom ácido e frio queimava-me a pele. Isto já tinha acontecido algumas vezes, nos últimos meses. Sentia-o cada vez mais distante e frio, mas andava a aguentar, a dizer que isto eram só coisas da minha cabeça. Mas não eram. Ele estava diferente. E eu estava demasiado cansada.

Pontos Nos Is | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora