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Laura, janeiro de 2013

Quando acordei naquela manhã para ir para a escola, esperava mais um dia normalíssimo igual a todos os outros. Não havia rigorosamente nada de especial naquele dia. Era só mais um dia de frio de janeiro, do segundo período do décimo ano. Como era hábito, assim que cheguei à escola dirigi-me ao meu cacifo para deixar tudo o que não precisava, ficando apenas com o caderno e os livros para a primeira aula do dia – matemática, no caso. Contudo, ao abrir o cacifo, fui surpreendida com um CD que não era meu. Nunca tinha visto tal coisa na minha vida, mas a curiosidade levou-me a pegar no objeto, reparando numa mensagem na capa:

Será que CDs já são uma cena old school? Não sei, mas sei que a música é a nossa cena e decidi gravar nesse CD 10 músicas que me fazem lembrar de ti. Deixo-te a lista abaixo.

Na lista deixada, constavam algumas das minhas músicas favoritas, a maioria delas, canções de amor. Corei perante a mensagem, olhando à minha volta para tentar perceber se alguém teria visto a minha reação. Apesar da mensagem não estar assinada, tinha quase a certeza de que sabia de quem era aquela caligrafia.

Guardei o CD na minha mochila, fechei o cacifo e caminhei com toda a naturalidade para a primeira aula do dia. Apesar de achar que sabia quem era o autor daquele romântico gesto, não queria fazer figura de otária, por isso queria tentar perceber como se iria desenrolar a situação.

- Pensei que não tinhas vindo, ainda não te tinha visto hoje. – Bárbara, a minha melhor amiga, comentou ao ver-me sentar no lugar ao seu lado.

- Atrasei-me um bocadinho e ainda fui ao cacifo. – respondi, omitindo o pequeno detalhe da surpresa que me aguardava – O professor já chegou?

- Sim, mas foi à sala de professores buscar qualquer coisa. E acabou de tocar, portanto não chegaste assim tão atrasada. – ela respondeu e eu apenas assenti.

Deixei que o meu olhar percorresse discretamente a sala de aula até àquele que era o seu lugar. Ali estava ele, sentado, com a sua habitual postura descontraída e tranquila, na conversa com os seus dois melhores amigos, Miguel e Eduardo. Tentava detetar algo nele que denunciasse se tinha sido o autor de tão bonito gesto, mas ele parecia totalmente alheado dos meus olhares.

Tínhamo-nos conhecido no início desse ano escolar. Vínhamos de escolas diferentes, apesar de vivermos relativamente perto um do outro, e tornámo-nos amigos simplesmente porque fomos parar à mesma turma. Demorou um pouco até nos começarmos a dar bem, porque, ao primeiro contacto, somos ambos tímidos, mas depois ficou tudo tão fácil e natural... No final do primeiro período, percebi que estava apaixonada por ele, mas não sabia se era correspondida. Por vezes, parecia que sim, mas outras vezes parecia que ele não estava minimamente interessado em ser mais do que meu amigo. Era isso que me fazia ter dúvidas sobre ele ser realmente o autor daquela bonita surpresa.

Durante os cem minutos seguintes da aula de matemática, tentei concentrar-me no que o professor explicava, mas era difícil não desviar o olhar até ele, na esperança de que ele me estivesse a olhar de volta. Mas nunca estava e eu começava a ter cada vez mais dúvidas sobre se seria ele o autor daquele gesto que me tinha derretido o coração. Contudo, o nosso ritual do primeiro intervalo da manhã era juntarmo-nos todos na sala de convívio a lanchar, por isso seria mais fácil perceber algum sinal da sua parte.

- Vens comigo à casa de banho? – Bárbara perguntou-me, quando dá o toque de saída – Depois vamos ter com eles. – ela adicionou, como se adivinhasse os meus pensamentos.

- Sim, claro. – sorri-lhe, seguindo-a para o exterior da sala de aula.

- Estás muito estranha, hoje. Aconteceu alguma coisa? – aquela que era minha melhor amiga, desde os 12 anos, perguntou-me.

Pontos Nos Is | Rúben DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora