Capítulo III: O Remetente

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20 de fevereiro de 2019 - Lockhart, Texas;

21h37min da noite.

Ao estacionar o carro na garagem, a única coisa que eu tinha em mente era descobrir, olhando na câmera frontal da casa, quem era o remetente. O campo de visão da filmagem pegava a caixa de correio, então a resposta estava bem ali. Tinha que estar.

Entrei apressadamente e subi para o escritório, joguei minha bolsa na escrivaninha e ergui a tela do meu notebook. Fui direto para o programa das câmeras. Coloquei na velocidade rápida e vasculhei nos últimos dias qualquer coisa suspeita.

Tinha que ter alguma coisa. Qualquer coisa... Talvez aquele homem? Um cúmplice dele? Não sei. Mas eu acharia algo, eu tenho certeza. Paciência, apenas preciso de paciência e atenção.

Me concentro nas horas onde há menor movimento na rua, quando seria menos provável de alguém ver um estranho mexendo na caixa de correio alheia. Vi a madrugada de hoje, a do dia 19, 18, 17, 16, 15...

Nada. Nada. Absolutamente nada.

Repasso os dias várias vezes nos mesmos horários, depois passo para horas diferentes.

Ainda nada.

Minha ansiedade e meu desespero crescem. Como não pode haver nada?! Como essa merda de carta chegou aqui?!

Eu juro, estou me segurando para não quebrar a tela com um murro...

Isso não é possível. Talvez tenha dado um suborno ao carteiro para entregar a carta? Por isso não vi algo estranho? Mas não conheço o carteiro. Se esse fosse o caso, como iria interrogá-lo? Ele apenas apareceria mês que vem, ou sei lá. Droga... Inferno. Não sei o que fazer.

Continuo procurando, sem saber quanto tempo já passou. Em vez de um cara enorme, acho que estou atrás de um raio de esperança. Mas não tem esperança nenhuma aqui.

Suspiro frustrada. Por que eu me importo, hein? Talvez eu esteja me estressando por nada. Talvez seja realmente uma brincadeira estúpida. Aposto que deve ter algum idiota se revirando de tanto rir nesse exato instante.

Me recosto na cadeira e cruzo os braços, olhando para a tela sem realmente prestar atenção. Melhor deixar quieto... Esquecer isso, continuar minha vida e fingir que não houve nada. Kevin vai rir quando eu tiver coragem de contar... Depois de algumas semanas.

É isso.

Ponho minha mão em cima da tela para baixá-la outra vez, mas algo me detém. Meus olhos travam na barra de ferramentas, que mostra uma janela aberta. O bloco de notas. Devo ter clicado sem querer. Clico no ícone para fechar a janela, mas inesperadamente vejo um texto já escrito... E que eu não escrevi.

"Não vai encontrar o que procura. Como disse, irei encontrá-la dia 27. Por agora, descanse e reflita sobre o assunto."

Que simpático.

OK... Agora realmente estou convencida. E com medo. Provavelmente estou sendo vigiada por toda parte. Câmeras, meu computador, meu celular... Alguém está de olho em mim. Aquele cara era um sentinela, então.

Fico paralisada, encarando o recado, pensando. Mas penso tanto que meus pensamentos se atropelam e eu não consigo entender nada. Mas de uma coisa acabo tendo certeza: preciso descansar.

- Perry...?

Escuto de repente a voz de Kevin. Instintivamente, abaixo rápido a tela do computador e olho para a porta. Encontro uma expressão de cachorro arrependido que lentamente se transforma em preocupação. Só então percebo minhas mãos muito pálidas e trêmulas.

Caso EX9-19B - O UltimatoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora