CAPÍTULO 3

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Breana passou a infância ouvindo histórias de marujos que muitas vezes perdiam tudo, inclusive sua família e partiam para uma vida onde criavam suas próprias leis enquanto navegavam sem rumo pelos sete mares. No entanto, eles viram que dava para aproveitar bem mais dessa vida se tivessem riquezas e multiplicassem o tamanho de seus barcos, foi quando começaram a saquear navios que transportavam minerais e pedras preciosas de países e mercados alheios. Desde então, a quantidade de corsários e lendas sobre eles só veio a aumentar e então passaram a ser chamados de piratas.

Alguns agiam por conta própria, só para ter o gostinho de tomar riquezas alheias. Outros, por sua vez, agiam por financiamento do próprio governo. Mas ainda assim a garota nunca havia visto um na vida, mas quando se mora em uma cidade costeira, histórias sobre eles é o que não falta. Porém para ela aquilo não passava de mitos. Era impossível existir pessoas tão audaciosas ao ponto de se arriscar para roubar coisas tão valiosas que só países inimigos ou pessoas de alta classe teriam.

Até que ela acabou entrando no navio de um deles.

Breana estava chocada demais com a resposta mais direta e objetiva de Vincenzo a sua pergunta sobre o que eles faziam.

— Roubamos o que os ricos um dia roubaram de nós e devolvemos para quem precisa.

Simples assim.

Ela achou que poderia estar sonhando, da mesma maneira que achou logo quando acordou na despensa e se beliscou até metade do seu braço estar vermelho, mas assim como mais cedo ela não estava sonhando. Breana respirou fundo e tentou convencer a si mesma que a intenção do capitão não era fazer algo pior que sequestrá-la, assim como diziam as histórias: "eles sequestram e extorquem famílias em troca do resgate".

Tudo se encaixaria se esse realmente for o plano de Naveen, e ela nem precisaria se esforçar em achar uma desculpa para dar a seus pais sobre o motivo de ter desaparecido. Seria uma causa a menos para se preocupar, e por fim, ela só precisaria dizer que não queria casar e com certeza eles entenderiam pois a coitada acabara de ser supostamente sequestrada por piratas. Eles deixariam passar e concederam esse desejo para ela.

Ela só precisava ter certeza que esse era o plano do capitão. Um plano simples desde que não a machucassem.

— Ficou surpresa?

Vincenzo pergunta depois de quase cinco minutos da revelação que realmente havia chocado a garota que por algum motivo, nem mesmo entendido por si, mentiu.

— Não, não estou nada surpresa. — Ela riu desajeitada. — Quase sempre aparecem piratas lá por Archlot.

Talvez tenha sido o nervosismo de estar conversando a mais ou menos uma hora com um homem, um pirata de quem ouvia histórias de terror. Ou pode ter sido simplesmente surpresa por ter chegado até aqui, tudo isso para fugir de um noivado.

— Está mentindo.

Brena encarou o rapaz que tinha os lábios curvados em um sorriso. Ela revirou os olhos e assumiu que estava mentindo.

— Sou tão ruim assim, mentindo?

— Não, na verdade não. — Uma linha se formou entre as sobrancelhas da garota. — Todos achavam que você estava realmente desmaiada. — Ele murmurou.

Ela quase cai com tal revelação. Seus olhos se abriram e sua mão foi até a boca a fim de esconder sua surpresa mas não tinha mais jeito, seu plano infalível havia falhado e agora as chances de ser somente "sequestrada" havia ido por água abaixo. Vincenzo riu com a careta da menina, que de alguma maneira se sentiu mais tranquila ao vê-lo agir assim.

— Já pensou em se tornar atriz? Seria muito aclamada.

— Não há teatros em Archlot. — Sua vontade de se enfiar em algum quarto e nunca mais sair era enorme.

Cisne Negro | ✓ Donde viven las historias. Descúbrelo ahora