Capítulo 4 - Festival das Flores

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Não tente fugir do seu destino; você sabe que hora ou outra irá trombar com ele em seus caminhos. E quando isso finalmente acontecer, não poderá mais fugir dele.

Bella

A cidade estava linda, decorada com flores e luzes. A música romântica convidava os casais a dançarem. Em mesas dispostas por toda parte, continham todo tipo de comida. León nos disse que era tradição que quem frequentasse o festival levasse alguma iguaria. Nós levamos uma torta de maçã feita por Maria.

Assim que chegamos, Kathy e León se juntaram aos casais para dançar, e eu fiquei feliz por isso. Minha amiga estava precisando se distrair. Entretanto, pelo modo como o rapaz a olhava, ele queria mais do que uma simples amizade. E eu não estava certa de que minha amiga estava pronta para seguir em frente, não desta vez. Acho que ela realmente se apaixonou pelo Fábio.
Estava comendo um brigadeiro perto de uma das mesas quando um homem moreno e forte se aproximou – o mesmo idiota que encontrei mais cedo, constatei fazendo uma careta.
— Não imaginei que a encontraria aqui, gatinha – diz com um sorriso nos lábios, avaliando-me de cima a baixo.
— Se beleza desse cadeia, você pegaria prisão perpétua – Solta do nada e sorri.
Sério isso? Enfim, até no interior tem babacas sem noção alguma.
— E se cafonice desse pena de morte, você estaria na cadeira elétrica! – digo e não retribuo o sorriso, realmente não fui com a cara dele.
— Você veio sozinha? – ele retorna a dizer, insistindo em prolongar aquela conversa.
— Não, vim com meus amigos – respondo por educação.
— E por que você está aqui sozinha? – insiste, olhando para os lados.
— Eles estão dançando, e eu não estou sozinha, não vê quanta gente tem aqui? – faço um gesto com as mãos indicando a multidão ao nosso redor.
Ele sorri novamente.
— Me daria a honra de dançar comigo? Me estende a mão em expectativa, não a pego.
— Não estou a fim de dançar. Se me der licença...
Começo a andar, mas ele segura meu braço.
— Me solta. olho para ele com raiva.
— Solte a moça – Diz uma voz atrás de mim.
Olho por sobre o ombro e vejo um homem grande e forte, de cabelos cor de areia e lindos olhos verdes. Ele encara o imbecil à minha frente, o rosto impassível.
— Desculpe, não sabia que a moça estava acompanhada. Ele me solta imediatamente.
— Agora que já sabe, suma daqui. Diz meu salvador com uma voz grossa que me causa arrepios e faz com que o imbecil que me segurava desapareça em um piscar de olhos.
— Obrigada. Agradeço.
— Não precisa agradecer, não fiz nada demais. Responde e sai andando.
Eu corro atrás dele.
— Espera…
— O que foi? Ele para e me olha por sobre o ombro, franzindo a testa.
— Eu... nem sei seu nome.
— Fernando.
— Prazer. Eu sou Isabella. Estico a mão para cumprimentá-lo.
Ele se vira e pega minha mão, mas quando o faz, uma carga elétrica atravessa meu corpo, e ele puxa a mão como se eu o queimasse.
Sem dizer uma palavra, ele vai embora, desaparecendo no meio da multidão. Eu fico ali parada, olhando o caminho que ele seguiu, incapaz de me mover. Não sei quanto tempo fico assim até sentir uma mão em meu ombro e a voz da minha amiga me fazer retornar para a realidade.
— Você está bem? Quem era o rapaz que estava aqui há pouco? Pergunta ela, curiosidade faiscando de seus olhos castanhos.
— Estou bem. Qual deles?
— Tinha mais de um? Estou falando do bonitão de olhos verdes.
— Dois, na verdade. O que você descreveu se chama Fernando, e o outro é o Gustavo, um idiota sem noção.
Faço um pequeno resumo para Kathy de tudo que aconteceu nas últimas horas desde a minha caminhada mais cedo.
— Nossa, esse Gustavo é um idiota. Exclama minha amiga indignada.
— Concordo. Já o Fernando, ele é tão... Não sei, tenho a impressão de que o conheço.
— De quem vocês estão falando? Pergunta León, aparecendo do nada com dois copos nas mãos; ele entrega um para mim e o outro para Kathy.
— Fernando, você o conhece? Tomo um gole do conteúdo do copo, que acabo descobrindo ser cerveja.
— Sim, conheço. Quer dizer, conheço de vista. Ele não sai muito.
— Mas ele estava aqui há alguns minutos atrás, me salvou de uma situação embaraçosa com um babaca.
— Sério? León fica surpreso com minhas palavras.
— Sim, por que você me parece tão surpreso?
— Porque ninguém quase nunca vê o Fernando pela cidade, ainda mais em festas.
— Por que estamos conversando? Estamos em uma festa; vamos dançar e beber.
Diz minha amiga, que provavelmente já estava alcoolizada. No entanto, a deixo me arrastar para onde as pessoas estavam dançando.
Nós ficamos na festa até de madrugada. Quando resolvemos voltar para casa, já era tarde da noite. Kathy exagerou na bebida e teve que ser carregada por León. Ela acabou vomitando no coitado, que mesmo assim continuou a carregá-la sem reclamar.
Ajudo minha amiga a tomar banho e a se deitar. Quando entro no meu quarto, estou exausta, tomo um banho rápido e me jogo na cama.
Abro os olhos ao ouvir o som do vento balançando as árvores ao longe. Observo o que há ao meu redor e não fico surpresa ao constatar que estou em um campo de rosas vermelhas. Sinto um delicioso aroma das rosas, também não fico surpresa ao ver um homem me observar. Mas dessa vez consigo ver o rosto dele, Fernando? Ele sorri pra mim, e eu sinto um peculiar friozinho na barriga.
Tento caminhar até ele, entretanto, quanto mais eu ando, mais ele parece estar longe. Começo a correr e a gritar o nome dele, mas ele continua longe até subitamente desaparecer.
— Fernandoooo. Acordo com meu grito de desespero e percebo que estou chorando.
— O que aconteceu, Bella? O que você tem? Kathy aparece do nada, toda descabelada, e me abraça. Eu não consigo responder às perguntas dela, então apenas a abraço e continuo chorando.
Depois de alguns minutos, consigo me acalmar e a solto.
— O que aconteceu?
Elas pergunta parecendo preocupada.
— Eu tive outro sonho.
Um pesadelo, você quis dizer?
— Não, um sonho, com o campo de rosas e o homem...
— Esse sonho de novo. Foi tão ruim assim?
— Não, desta vez consegui ver o rosto do homem misterioso.
— Viu? Quem é? Você o conhece?
— Sim, o homem misterioso é Fernando.
— Fernando? O cara que te salvou no festival?
— Sim, o próprio.
— E por que você acordou gritando e chorando?
— Eu... eu não sei. Realmente não sabia. Quando vi ele sumir, senti uma sensação ruim dentro de mim.
— Já te falei o que eu acho sobre esses sonhos.
— E eu já disse que não quero namorar ninguém.
— Mas então por que você está tendo sonhos estranhos com um desconhecido?
— Não sei, tá legal. Me levanto e caminho na direção da porta.
— Bella, aonde você vai?  Escuto Kathy perguntar.
— Vou dar uma volta; preciso esfriar a cabeça.
Respondo, no entanto, não sei se ela chega a me ouvir.
Saio de casa e caminho sem saber exatamente aonde estou indo. Deixo meus pés me guiarem. A manhã estava fria; provavelmente iria chover, um dia em que desejamos ficar apenas debaixo das cobertas, pensando na vida ou ouvindo o som da nossa respiração. O céu estava nublado e cinzento. Quando me dou conta, estou parada em frente à cachoeira.
Me sento aos pés da mesma árvore em que estava lendo no dia anterior. Minha cabeça estava a mil com tantos pensamentos que fiquei zonza. Permaneci ali por um tempo; o som da água caindo da cachoeira me acalmou. Então, percebi que não estava sozinha, um homem ao meu lado observando as águas.
— Você? O que faz aqui? Fico surpresa ao vê-lo. Ele se vira para mim, seus olhos encontram os meus, e eu sinto que enfim encontrei a paz que procurava.
— Acho que o mesmo que você. Ele diz sem desviar nem por um segundo o olhar do meu.
— Você está bem? Pergunta depois de um tempo.
_Estou. Desvio o olhar e observo as águas.
— Eu sempre digo isso quando não estou bem. Ele também volta a olhar as águas.
— E por que faz isso?  Pergunto, e Fernando olha pra mim novamente.
— Porque é menos complicado não falar. Seu olhar encontra o meu novamente, e eu me sinto quente de repente.
— Eu... eu preciso ir, saí sem avisar para onde ia.
— Desconfiei.
— Não entendi.
Desconfiei que você saiu sem avisar, ainda está de pijama.
Olho para baixo e me dou conta de que ele estava certo; eu estava com um pijama com estampa de unicórnio e pantufas cor de rosa. Fico extremamente constrangida.
— Eu vou indo então, adeus Fernando. Começo a caminhar de volta pra casa.
— Até logo, Isabella.
Ouvir meu nome deslizar para fora dos lábios dele me fez sentir um estranho arrepio na espinha. Obrigo meus pés a continuarem o trajeto, mesmo querendo muito, não olho para trás.

Atraídos pelo destino ( Degustação )Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora