Capítulo I

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| Cap - I |
| Descoberta |

"Direção Certa"

"Direção Certa"

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     Estou ciente de que devo compartilhar algo com você, e por mais aleatório que possa parecer, deixe-me explicar: Há apenas dois dias, alguma espécie de ser vivo, que não pude identificar claramente, tem seguido meus rastros. Senti sua presença desde minha saída do continente — sobre qual continente é, prometo lhe contar mais tarde. No entanto, o ápice da perseguição ocorreu literalmente cinco minutos antes de lhe contar isso... Ele mordeu minha cauda! Um maldito golfinho não-maj! Naquele instante, desejei ter mordido sua cauda, proporcionando-lhe uma parcela da ardência que senti. Poderia imaginar perfeitamente como seria:

     Morderia com tanta força que um pedaço da cauda ficaria em meus dentes. Entregaria a ele, dizendo: "Da próxima vez que fizer isso, destruirei seu sistema reprodutor com um único golpe! Não, pior, arrancaria do seu organismo e entregaria o resto do corpo aos tubarões, sem me importar em amaldiçoar seu cardume inteiro!"

     Ele ficaria tão assustado que correria para casa para alertar seus amigos e familiares sobre a criatura metade peixe, metade mulher. Avisaria para nunca mais prejudicar seus iguais, sob o risco de serem amaldiçoados por nós. Depois disso, todos os golfinhos não-maj passariam a temer nossa espécie e decidiriam prestar serviços a nós como um pedido de misericórdia, seguindo o ditado "se não pode com eles, junte-se a eles". Assim, meu povo governaria um exército de golfinhos não-maj, que nos pertenceriam e nos defenderiam de qualquer possível ameaça do mundo bruxo!

Agora, acalme-se.

     É claro que isso NÃO aconteceu. Foi apenas uma ideia confusa e sem filtro ético ou moral que durou apenas três segundos. Não arrancaria um pedaço da barbatana dele, mesmo que quisesse. Possuo um coração gentil, acredite. Qualquer pensamento de crueldade que me venha à mente são apenas devaneios. Isso nunca aconteceu com você? Que estranho.

     Minha cauda ficou realmente dolorida e uma certa quantidade de sangue esvaiu-se dentre algumas escamas, colorindo de vermelho bordô a água cristalina. Após o incidente, o golfinho não-maj empurrou minha nuca com a cabeça duas vezes, em uma linguagem corporal que demonstrava arrependimento. Pude perceber seus pensamentos: ele estava arrependido e agiu movido pela curiosidade. Para o seu azar, ele me seguiu de tão longe que acabou se perdendo. A rebeldia o cegou da noção da distância que percorreu e, pelo seu tamanho, diria que era um filhote bastante curioso.

     Com minhas duas mãos, segurei sua cabeça e encostei a minha à dele, mostrando-lhe o caminho de volta e dei um simples beijo. Ele pareceu entender e logo nadou na direção oposta. Acenei para ele de longe.

•••

     Três horas mais tarde, meu estômago começou a dar sinais claros de fome, roncando alto dentro da minha barriga. Não costumava comer muito, pois o alimento era escasso na região em que vivia — o sul do litoral brasileiro. Se você ainda não morreu de curiosidade, agora esclareço sua inquietação.

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