II

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Apesar de eu me lembrar suficientemente bem daquele lugar, tudo parecia um tanto quanto diferente. Havia muito mais pessoas, talvez por quase ser temporada de verão, mas ainda sim estava cheio para além do normal. Ou eu só tinha uma lembrança um pouco distorcida – o que não deixava de ser uma possibilidade.

Sem tirar os chinelos, caminhei pela areia até chegar na barraquinha que eu costumava comprar água gelada quando esquecia a garrafa em casa. Mais alguns passos depois disso e eu estava exatamente onde eu e Maya costumávamos ficar. Ao lado da torre dos salva-vidas, me sentei na areia fina, ainda rodeada de gente demais. Mesmo que não fosse o mais agradável dos pontos, eu tinha uma boa visão do lugar e, quem sabe, a encontraria mais fácil por ali.

Eu sei que perdi um pouco a noção do tempo, talvez tenha me deixado levar por pensamentos que já não deveria ter. Até então, não tinha identificado nenhum conhecido. Portanto, ainda decidida em ao menos localizar uma alma familiar, apenas continuei, de longe, tentando focar nas pessoas que estavam na água.

O sol já estava começando a se pôr quando, enquanto eu discutia comigo mesma sobre ir embora ou continuar por ali mais um tempo, algumas outras pessoas saíram da água, diminuindo muito a quantidade de pessoas que eu podia cogitar serem ela. Foi só então eu consegui achar quem eu queria. Ou, ao menos, pensava que sim.

Poucas coisas condiziam com o que eu procurava: o cabelo não era tão liso e a prancha não se parecia a que eu me recordava. Além disso, aquela mulher parecia um pouco mais forte do que eu me lembrava de Maya. Ela definitivamente não era a única loira por ali – o que não é raro se formos falar de surfistas –, mas era a única que parecia ter o cabelo daquele tom naturalmente, e não por ser queimado de tanto tempo que passou sob o sol.

As habilidades, ao menos, se encaixavam no que eu imaginei. Faltava pouco para se completarem cinco anos que eu não a via, então era bem capaz de que ela já estivesse em um nível de surfe muito acima do que estava quando paramos de nos falar. Parte de mim torcia para que realmente fosse Bishop, mas talvez, no fundo, eu não queria ter que lidar com aquilo no momento.

Algumas manobras depois, a mulher saiu do mar, soltando o leash do tornozelo e deixando a prancha no começo da areia seca, conseguindo mais liberdade para correr até um grupo de outros jovens adultos que pareciam regular de idade comigo e com ela. No guarda-sol onde estavam, um dos homens – que eu não consigo definir se era loiro ou moreno – sequer deu tempo para que ela diminuísse a velocidade antes de abraçá-la com força, tirando-a do chão com uma facilidade invejável. Enquanto eles se abraçavam, vi que um filhote de cachorro começou a pular na perna do homem, querendo participar da festa.

– Você conseguiu, porra! – Alguém que estava junto dos dois gritou. Eu não consigo dizer quem foi.

A devolvendo para a areia, o homem beijou o topo de sua cabeça antes de se afastar alguns centímetros para sussurrar algo focando diretamente nos olhos da mulher.

Era ela. Não tinha como não ser. Eu reconheceria aquelas mãos nervosas onde quer que fosse.

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