O isolamento

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Me isolar, não me expor, esconder tudo o que eu sinto. Isso era o que eu conhecia. Eu não podia demonstrar fraqueza. Mas fraqueza era tudo o que eu sentia, um turbilhão. O plano de Flávia foi definitivamente um sucesso, mas foi a minha dúvida que colaborou com tudo isso. Por que eu tive dúvida? Será que meus sentimentos eram tão controversos assim? Eu estava sentado ao lado de Ella, no avião, pensando em tudo isso. Ela não falava mais comigo e era totalmente compreensível. Eu entreguei a mim para ela, mas não de fato era completamente dela.

Ela disse que viu tudo. Provavelmente viu meu rosto ceder ao pedido de Flávia, o pedido que me fez lembrar de todo aquele passado, da paixão que eu sentia por ela por ter sido o meu primeiro amor. Eu não acreditava naquela falácia de que o primeiro amor marcava tão profundamente até ser colocado naquela situação.

Poderia ser isso mesmo... apesar de eu me sentir tão completo com Ella. Não era o suficiente e ela de fato não merecia isso. Repassei todo aquele momento novamente.

"— Ou você já esqueceu que terminamos porque você me traiu?" — Essa sentença me veio à mente e eu me assustei. Olhei para Ella, ela olhava para o outro lado, entretida com as nuvens que atravessavam o horizonte pela vista da janela. O que será que ela tinha entendido sobre isso? Eu queria poder explicar, mas com certeza ela não aceitaria ou acreditaria em mim naquela altura.

"Eu estava andando de skate em uma praça que ficava não muito longe de casa, quando me deparei com Flávia, ela chegava com umas garotas, amigas dela. Já namorávamos a cerca de uns seis meses. O cabelo dela era comprido e de um castanho escuro, estávamos no auge dos nossos quinze anos. Era novidade pra mim ver ela ali, já que seus pais não permitiam que ela saísse até certo horário, e já se passava das sete da tarde. Fui em direção a ela sorrindo, era sempre muito bom encontrar com ela.

— Meus pais deixaram eu vir! — Ela falou animada, eu dei um abraço apertado e a beijei e em seguida a apresentei para meus amigos. Daniel, meu melhor amigo, me olhava com uma cara engraçada como se estivesse realmente tirando onda com aquilo. Ele já conhecia ela, das festas em família que eu a levava. A partir daquela noite, quase sempre ela aparecia, e eu não poderia ficar mais satisfeito em passar mais tempo com ela. Mas por algum motivo, algo me incomodava, sempre que chegava um certo horário, ela ficava um tempo no telefone e então se despedia rápido de todos e ia embora com suas amigas.

Os meses se seguiram nessa rotina de nos encontrar na quadra de skate, até que em uma dessas eu recebi uma ligação, era da Laís, irmã mais nova de Flávia.

— Oi Vini, não fala que sou eu, só quero saber se a Flávia está com você? — Laís falou, Flávia perguntou quem era e eu desconversei falando que era um conhecido e me afastei do grupo para seguir com a ligação

— Ela está aqui? Aconteceu alguma coisa? — Perguntei.

— Vini, não fala pra ela que eu te contei, mas ela está saindo escondida todos esse tempo, e meu pai acabou de descobrir e está achando que é você que está sendo a má influência, acho melhor você trazer ela, por que ele já está querendo sair pra procurar...

— Ai que merda... tá, passa o celular pro seu pai... — A garotinha pareceu dar uma corridinha pelo som do telefone e entregou para outra pessoa.

— Olá Sr. Silva, boa noite, é o Vinícius aqui... — Falei, um pouco nervoso.

— Cadê a Flávia? — Ele falou com a voz séria.

— Antes de tudo eu gostaria de pedir desculpas por isso, a Flávia sempre me falou que estava vindo com a permissão de vocês, estarei levando ela aí com minha mãe, tudo bem?

— Certo, conversamos aqui. — O homem falou desligando o telefone imediatamente. Primeiro liguei para minha mãe, explicando a situação e depois chamei Flávia para conversar em um canto.

Amor de FériasWhere stories live. Discover now