Careful

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Um sorriso sutil, quase acanhado, surgia nos lábios finos do violoncelista no exato momento em que seus olhos encontram com os semelhantes no espelho. Retirou as madeixas castanhas que lhe impediam de ter  uma visão plena, suspirando de forma serena diante da observação, agradável e minuciosa de seu próprio reflexo.

Se permitia divagar, por longos instantes, até que os pensamentos fossem tão instintivos quanto precisava para que se desligasse completamente do mundo exterior. Quase como uma dissociação, no entanto, era como se pretendesse se perder do lógico-racional, e abraçar a selvageria que poderia tomar conta de sua mente, sempre que se permitisse.

Retomava cada uma das sensações que experienciou durante os minutos que havia passado debaixo da água morna, sentindo cada um dentre as centenas de pingos que banhavam seu corpo esguio. Os murmúrios e suspiros, quando acompanhados das gotas se chocando contra o piso encharcado, formavam uma melodia tão calma, que poderia ser considerada melancólica.

Por outro lado, a mente era acelerada, sobrecarregada, caótica. Como uma grande cidade, formada principalmente pelas linhas das partituras estudadas, que, hora ou outra, se reproduziam de forma desordenada e intuitiva em sua mente. O furacão era intenso, demais para que os dedos calejados que o acariciavam pudessem ser, nem de longe, apaziguadores.

Tinha apoiado a destra sobre o azulejo úmido, deixando que os músculos relaxassem diante do impacto das gotas pesadas sobre seus deltóides. Mantinha os olhos fechados, afinal, o banheiro não costumava ser tão excitante. Pelo menos, não chegava aos pés do quão sexuais podia tornar seus pensamentos, caso se concentrasse o suficiente.

E sinceramente, vinha tentando o fazer. Movimentava o quadril de acordo com os movimentos ritmados, acompanhados da pressão que a sua mão esquerda exercia sobre o membro desperto, sem falhar, desde a base, até a glande. Era rápido, um pouco mais firme do que o necessário. Como deveria ser.

Os gemidos baixos que escapavam entre os lábios do musicista, o arrepio que percorria a sua espinha, em conjunto com a respiração ofegante somente demonstravam uma coisa, não havia dúvida, sua mente estava vazia, tomada pelo êxtase.

Felix desliga o chuveiro, parando a carícia alguns segundos antes que pudesse atingir o ápice. Não era como se, de fato, aquela ação o tornasse menos solitário. Mas preferia pensar que sim. Deixou o box com uma toalha preta cobrindo abaixo de sua cintura, ele respirava com dificuldade diante do vapor. A umidade excessiva tomava conta do ar do pequeno cômodo.

A porta do banheiro se abria em frente ao closet, neste, aonde o rapaz passava os dedos entre cada um dos paletós pendurados. Especialmente naquela noite, tinha optado por um preto, com finas linhas em chumbo, quase, imperceptíveis. Compôs com uma camisa cinza escuro, de cor semelhante, e uma gravata clara, perolada.

Gostava da forma como o contraste realçava sua pele bronzeada, as satdas, os cabelos e olhos castanho escuros. Terminava o laço na seda que lhe envolvia o pescoço, em frente ao imenso espelho, que se estendia até o teto. Diante do reflexo, não podia evitar em se admirar. Não era comum que tivesse uma aparência agradável. Ou, pelo menos, era o que pensava.

Antes que deixasse o pequeno flat em que vivia, no centro da cidade, checou pela última vez o violoncelo de madeira esculpida, guardado dentro do estojo, cuja altura chegava pouco acima de seu quadril. Por pouco, não havia esquecido o arco, disposto sobre as cobertas na cama do rapaz.

Naquele mesmo instante, ao sul da cidade, o homem de cabelos platinados e pele alva, demandava uma grande quantia para manter seu serviço desonesto, e principalmente, sujo.

Um sorriso ladino o expande os lábios, ao mesmo passo, em que cerrava os olhos em desafio. As notas, enroladas por um elástico de látex, formavam um grande montante entre o indicador e o dedo médio do grisalho que passava pela porta de seu aposentos.

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⏰ Última atualização: Dec 11, 2023 ⏰

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